Na realidade, o termo Burma usado pelos ingleses é um derivado da palavra bamar, a qual refere ao grupo étnico Burman, que compreende 60% da população do país. Em 1988 o “State Law and Order Restoration Council” (SLORC) mudou oficialmente o nome do país de União de Burma para União do Myanmar, alegando que Burma era uma construção colonial que nunca tinha sido usada pelo povo Birmanês, enquanto que Myanmar é um termo com uma história que data do século XI.
E assim, a capital Rangoon tornou-se Yangon, Pegu tornou-se Bago e o Rio Irrawaddy passou a ser o Rio Ayeyarwaddy. Na generalidade, as comunidades internacionais aceitaram os novos nomes, mas, no entanto, as organizações ocidentais continuaram a usar a palavra “Birmaneses” (Burmese) para o povo do Myanmar. O partido NLD de Aung San Suu Kyi recusou o reconhecimento destas mudanças, acreditando que ao fazê-lo estavam implicitamente a reconhecer o regime a que se opunham.
Os interesses ingleses na teca levaram à guerra anglo-birmanesa de 1824-26 e de 1852. Em 1886, a terceira guerra anglo-birmanesa levou ao controle da Birmânia pelos ingleses, que depuseram o rei Thebaw exilando-o e à sua família na Índia, acabando com a monarquia e separando a igreja do estado, mudando-lhe o nome para Burma e transformando-a numa província da Índia, transferindo a capital de Mandalay para Rangoon.
YANGON
Construída à beira do poderoso Rio Rangoon, com várias avenidas largas de cariz colonial e edifícios construídos pelos ingleses, vários templos e pagodes, e até mesmo uma igreja cristã, é uma das grandes cidades portuárias do Sudeste Asiático, mas onde tudo perde relevância perante a emocionante, quase surreal visão do Pagode Shewdagon. A reverência que rodeia o marco mais preponderante de Yangon, capta a extensão na qual o sagrado e o social se mistura, no tecer da riqueza social da cidade. Pois é aqui que todos se juntam, numa multidão que engloba a população, os monges e os visitantes, para ver, rezar ou pedir bênçãos e favores. E foi na noite do Festival da Lua Cheia que chegámos a Yangon. A minha primeira visão do Shwedagon foi da janela do meu quarto do hotel, ao pôr de sol. Verdadeiramente deslumbrante!!! E é pois desse maravilhoso Pagode que eu vou falar primeiro.
O PAGODE SHWEDAGON
“É a pausa no tempo que não faz distinção entre o passado, o presente e o futuro”. Com o seu colossal campanário, visível de todos os pontos da cidade, o Pagode Shwedagon é a estrutura mais sagrada da Birmânia e a sua maior atração, que une o país inteiro numa devoção budista, através de peregrinações e romarias de fiéis que chegam de todo o lado, para aí rezarem, pelo menos uma vez na vida.
É absolutamente deslumbrante e resplandecente ao cair da tarde, (a melhor hora para o visitar), com a sua cobertura de mais de 70 toneladas de ouro puro, já para não mencionar a cúpula em forma de botão, que está coberta com 4 350 diamantes e mais 93 outras pedras preciosas, além das ofertas de fios e colares de ouro, pulseiras e anéis com pedras preciosas, oferendas dos crentes que são lá colocadas, e que só se conseguem ver em fotografia numa galeria de exposição, onde se pode admirar, entre os vários grandes planos do monumento, como as placas de ouro são removidas e recolocadas de quatro em quatro anos (por motivo de desgaste das mesmas, devido às chuvas e ao clima e também para a remoção da sujidade acumulada).
O Pagode propriamente dito, central, está rodeado por 64 pagodes em miniatura, quatro grandes, leões e “manokthihas”, criaturas como figuras de esfinges nos quatro cantos, templos, altares, stupas e pavilhões que se sobrepõem, feitos de tijolo maciço, de madeira rendilhada, de mármore, cobertos de ouro, prata, cobre, estanho, ferro e até colunas forradas de pedacinhos de espelho. Tem ainda elefantes agachados, homens ajoelhados e pedestais para as oferendas, além dos muitos sinos que os fiéis vão tocando para chamar a atenção de Buda.
Também é tradição deitar copos de água sobre a cabeça de Buda, tantos quanto a nossa idade e existe uma fonte sagrada onde os crentes fazem fila para beber um copo dessa água.
Enquanto a sua estrutura original, erguida há mais de mil anos, se elevava a 22 metros, hoje ela ergue-se a uns notáveis 99 metros, coroando o cimo do Monte Singuttara, que tem 51 metros de altura. Tem quatro entradas para túneis que partem do interior do Pagode, mas que ninguém sabe ao certo onde vão dar. Um pagode não tem nada dentro. Mas de acordo com a lenda, existem lá dentro espadas voadoras, que revolvem no ar sem nunca parar, para proteger o pagode dos intrusos! Alguns contam que os túneis subterrâneos vão até Bagan e até mesmo à Tailândia!
Reza a história que possuía o maior sino do mundo, oferecido pelo Rei Dhamazedi, mas que em 1608 foi removido pelo aventureiro português Filipe de Brito (tinha que ser!!! Estamos em todas e nem sempre com a melhor reputação!) a fim de transformar o bronze em canhões. Mas a caminho de Than Lyin (a Síria), de que ele era governador, o barco que o transportava afundou-se, enterrando-o no rio.
O Shwedagon resistiu aos estragos do tempo, às inclemências do clima e aos muitos terramotos e tremores de terra que aconteceram em pelo menos oito ocasiões, além de um terrível incêndio em 1931. Sobreviveu a tudo e mantém-se esplêndido e majestoso.
E foi aqui que Aung San Suu Kyi fez o seu primeiro discurso público.
Rudyard Kipling chamou-lhe “A Beautiful Winking Wonder” (uma maravilha cintilante) e segundo Ralph Fitch é o lugar mais dourado que existe no Mundo!
Espero que gostem das fotos!