A Venus Aerospace sugere o motor Venus Detonation Ramjet 2000 lb Thrust (VDR2) como solução para tornar os voos hipersónicos uma realidade. Atualmente, um dos maiores desafios neste capítulo é precisamente os motores que permitam aceleração sustentada para voos ao longo de grandes distâncias, nestas velocidades. Os sistemas atuais são colocados em elevadas velocidades e alturas por foguetões e que depois conseguem atingir velocidades Mach 5 ao pairar de volta para baixas altitudes. A solução não serve, por exemplo, para um voo entre São Francisco e Tóquio em uma hora.

O VDR2 tem um aspeto simples, de basicamente um tubo vazio sem partes móveis, e pode resolver este desafio. Essencialmente, o ramjet funciona ao comprimir o ar com a velocidade do motor em movimento para a frente, em vez de usar lâminas em turbinas como o motor convencional a jato, explica o New Atlas.

As vantagens desta abordagem para voos hipersónicos passam pela tolerância a temperaturas mais elevadas do que os motores convencionais, por ser mecanicamente simples e não ter partes móveis. Com a temperatura do ar no interior do motor a poder chegar aos 2130 graus, é fácil perceber que componentes como lâminas ou semelhantes facilmente se desgastariam.

O VDR2, que pode ainda vir a ser melhorado, consiste num RDRE (de Rotating Detonation Rocket Engine) que tem dois cilindros coaxiais, com uma abertura entre eles. É nesta abertura que entra o combustível ou mistura oxidante que é acendido, numa reação e ondas de choque que geram mais calor e pressão.

Este motor apresenta elevada capacidade de propulsão e eficiência necessárias para atingir velocidades de Mach 6 e uma altitude de 52 mil metros ou 170 mil pés. O VDR2 deve ser testado num voo de drone no próximo ano.

Há muito que nos habituámos a que as políticas de Direita se centrem somente em contas e números e não numa visão baseada na realidade de fundo e no futuro do País.

Por entre silêncios incómodos ou cortinas de fumo como as da Administração Interna e Justiça nos casos do furto de computadores e da fuga da prisão de Vale de Judeus, ou do próprio primeiro-ministro com a reação aos incêndios, e fait divers como o do ministro da Defesa e Olivença, o Governo nacional parece viver num marasmo de ideias verdadeiramente mobilizadoras e transformadoras da realidade da nossa população.

Se é verdade que por princípio o LIVRE não rejeita ou aceita Orçamentos sem os analisar, também é uma realidade que os termos em que a discussão se tem colocado e os dados preliminares apontam num sentido de praticamente impossível viabilização. Mas não se esperava diferente, considerando a tipologia de medidas que costumeiramente os partidos do governo apresentam: propostas que tendem a acentuar a desigualdade e a reforçar as barreiras ao dever de justiça social do Estado.

Dois bons exemplos são o IRS Jovem e o (potencial) descongelamento das propinas do Ensino Superior. A medida do IRS Jovem inicialmente apresentada era simplesmente inócua, ineficaz e infeliz, visto que não tinha probabilidade de produzir quaisquer resultados a não ser para uma pequeníssima margem de jovens ricos (aumentando a desigualdade), não traria mais riqueza para a grande parte das faixas etárias mais novas (o suposto alvo da medida) e por isso não auxiliaria na ascensão social pretendida ou na melhoria das suas condições de vida, e, segundo as contas dos especialistas, poderia, pelo contrário, levar ao pagamento de maior imposto com um efeito perverso cuja previsão não se percebe como escapou ao proponente. Um bom resumo é o facto de esta medida ter sido desacreditada até pelo Fundo Monetário Internacional.

Quanto ao descongelamento de propinas (tema tabu para o Ministro da Educação, mas que foi lançado em diversos fóruns para testar águas, e uma vez mais uma medida “sonante” focada meramente nas receitas que entram ou não no Estado), vem contrariar por completo a trajetória dos últimos anos, que corresponde à ambição do legislador constituinte que via na educação superior um direito da nossa população, e por isso gratuito. Para ser claro: o artigo 74º da Constituição da República Portuguesa determina ao Estado o dever de “estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino”. Alterando-se a trajetória, o Governo PSD-CDS passará a estabelecer progressivamente uma maior dificuldade de acesso ao grau universitário, com correspondente travão ao elevador social e elitização do Ensino Superior.

De há algumas semanas, com a novela PSD-PS sobre IRC e IRS, parece que não existem mais temas e políticas públicas em Portugal. Por isso a pergunta impõe-se: para além da discussão de impostos, há mais Orçamento? Há pois, há opções políticas e de investimento, cruciais para o futuro de um país que persiste aquém da média do índice de desenvolvimento humano da União Europeia, figurando nos últimos lugares entre os 27 Estados-Membro de acordo com o último relatório, de 2022.

Focando-me apenas em propostas que impactam áreas que têm sido muito pouco faladas desde que o Governo tomou posse, e que têm efeitos potenciadores (não apenas mas de forma extra) nas faixas mais jovens (Cultura e Desporto), o LIVRE apresenta uma série de medidas que poderiam muito bem merecer mais atenção por parte de quem governa, e que melhorariam a vida de quem nos rodeia e a atractividade do país.

Começando pela Cultura (um dos parentes pobres do Estado, que tem tantos que na verdade é toda uma família), há muito defendemos que esta área deve ser financiada em 1% do PIB nacional, deixando de se ver a Cultura como mero entretém de quem pode (em tempo e dinheiro) mas como direito universal e democratizado, e sector onde podemos dar cartas quer na formação e desenvolvimento de pessoas e projectos, quer na perspectiva de engrandecimento individual e comunitário da sociedade, enquanto actividade profissional e motivador social.

Passando ao Desporto, é necessário dar melhores condições às escolas para a prática desportiva desde tenra idade, e investir mais no desporto escolar feminino, ainda subsidiário face ao masculino. É também fulcral reforçar o apoio às Federações e Clubes de desportos com menos mediatismo (e por isso menos receitas), o que, em conjunto com uma aposta nas condições dos atletas olímpicos e paralímpicos, permitirá que deixemos de lamentar o fraco investimento (e por isso resultados menos ambiciosos do que os de países comparáveis) de quatro em quatro anos.

Ao centrarmos a vasta maioria do discurso e discussão política em números e receitas, entramos no tabuleiro dos que, com uma visão simplista, acreditam que todos os problemas de quem vive em Portugal e de quem aqui quer viver se resolvem com descidas de impostos. Numa fase em que a economia está a crescer e existem excedentes orçamentais, devemos perguntar-nos se só de impostos é feito um bom orçamento, ou se também de reforçadas políticas públicas e investimento.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Em setembro de 2022, a NASA testou um sistema de redirecionamento de asteroides, que poderia ser usado em caso de colisão iminente com a Terra, na missão DART (de Double Asteroid Redirection Test). Agora, a ESA (Agência Espacial Europeia) lançou a missão Hera para observar como está o asteroide atingido e analisar a zona do impacto. A missão viu ser lançada a sonda nesta segunda-feira, a bordo de um Falcon 9 da SpaceX, apesar de as condições atmosféricas não terem sido as mais indicadas.

Há dois anos, a NASA fez colidir uma sonda contra o Dimorphos, um asteroide de 170 metros de diâmetro que orbitava o Didymos, de 800 metros. Segundo as observações recolhidas após a colisão, o teste de redirecionamento teve sucesso, com o período orbital do Didymos a reduzir de 11 horas e 55 minutos para as 11 horas e 23 minutos. Agora, o objetivo é observar mais de perto aquela região e o asteroide e preparar futuras missões que possam salvar a Terra do impacto de um meteorito, usando sondas e naves que possam embater e alterar-lhe a trajetória. Além de servir para preparar um mecanismo de defesa planetária, a Hera vai também procurar mais pista e informações sobre a formação dos asteroides, lembra o Gizmodo.

Os estudos atuais, feitos com base em observações de telescópios na Terra e com algumas indefinições ainda, mostram que o Dimorphos sofreu grandes consequências depois do impacto com a DART, desde ter ficado deformado até uma grande cratera de impacto, passando pelo surgimento de um campo de projéteis de rocha que podem chegar à Terra dentro de dez anos.

A Hera deve chegar ao local em 2026 e começar a investigar a ‘cena do crime’, bem como recolher dados sobre sistemas binários de asteroides, que constituem cerca de 15% de todos os asteroides detetado, mas que ainda são pouco conhecidos dos cientistas. As observações vão ser feitas por dois pequenos satélites cubesat, do tamanho de caixas de sapatos, que serão lançados quando a Hera estiver perto dos asteroides.

Aos comandos da comunicação da empresa Van Zellers&Co, Francisca van Zeller é uma presença divertida, sagaz e atenta. Na Girl Talk de outubro falamos com a Historiadora feita comunicadora, que pertence a uma das mais antigas famílias ligadas ao vinho do Porto, e que tem sido uma embaixadora deste produto pelo mundo. Para Francisca, a noção de perenidade é das mais importantes ferramentas para o seu trabalho, e tem a certeza de que o vinho do Porto vai continuar a ser um símbolo de Portugal.

Uma conversa que aconteceu à boleia no Volvo EX30 – a marca é parceira da EXAME nesta Girl Talk – e que agora pode ver e ouvir na íntegra.

A japonesa Elecom vai lançar duas versões do primeiro cabo a receber a certificação USB4 2.0: uma capaz de entregar 80 Gbps de velocidade de transferência de dados e 60 watts (W) de potência de carregamento, e outra capaz de carregar dispositivos até 240 W a 48V/5A. Nesta fase, os cabos vão chegar ao Japão em meados de dezembro e não se sabe ainda se serão disponibilizados noutros mercados.

O utilizador só precisará de estar atento aos watts e poderá carregar aparelhos como os portáteis mais recentes graças ao suporte a 240 W destes cabos. Além de energia, os cabos suportam ligações DisplayPort até 8K de resolução a 60 Hz de taxa de atualização, noticia o TechSpot.

Apesar de os cabos chegarem em dezembro, os fabricantes de outros componentes ainda devem demorar até conseguir ter hardware compatível com o padrão USB4 2.0. A tecnologia já foi anunciada em 2022, mas ainda não foi disponibilizada nativamente nas placas-mãe. A Microsoft já se adiantou e está a testar, em versões Insider, o Windows 11 com suporte ao USB4 2.0. Os fabricantes de computadores e hardware terão de trabalhar para integrar o suporte ao PCI-Express 5.0 x4 para assegurar a grande largura de banda que o USB4 2.0 permite.

A entidade que define o padrão USB planeia o lançamento oficial do USB4 2.0 para dezembro e devem anunciar velocidades teóricas de 120 Gbps, mas requerendo uma configuração assimétrica, ou seja, mantendo 40 Gbps no outro sentido.

Dão horas, claro. Mas os mais recentes modelos de relógios inteligentes estão recheados de funcionalidades e opções para todas as pessoas. Gosta de correr e gostava de ter um treinador no pulso? Prefere dar umas tacadas de golfe e quer ter uma ideia de como está o seu swing? Gosta de fazer caminhadas pela natureza e precisa de um relógio robusto? Ou simplesmente já se contenta com uma boa noite de sono, mas não abre mão de saber exatamente quanto dormiu? Não liga a nada disto e quer um relógio estiloso, bem construído, para ajudá-lo a gerir as notificações do dia-a-dia? Pois bem, temos tudo isto e muito mais no nosso teste de grupo a relógios inteligentes, que é o tema em destaque na nova edição da revista. Mas na Exame Informática nº 350 não há só smartwatches e, como pode ver em baixo, temos outros temas que merecem a sua atenção.

Sumário da Exame Informática nº 350

Capa

Relógios inteligentes: Google Pixel Watch 3 (versões de 45 mm e 41 mm), Huawei Watch GT 5 e Huawei Watch GT 5 Pro, Samsung Galaxy Watch Ultra e mais modelos num teste de grupo muito renhido

Entrevista

Tony Fadell criou de raiz o leitor de música iPod, o que ajudou a salvar a Apple; liderou a equipa que projetou e construiu o hardware e o software do iPhone, produto que iniciou uma autêntica revolução digital; fundou a Nest Labs, empresa de produtos inteligentes para a casa, tendo um termostato como ponta de lança, que a Google compraria pouco tempo depois por 3,2 mil milhões de dólares. E agora deu uma entrevista à Exame Informática.

Testes

Google Pixel 9 Pro: Colocamos a IA (e o leitor) à prova

Monitor curvo AGON Pro AG456UCZ

HyperX Cloud III

Asus ROG NUC 970

Samsung Galaxy Buds 3 Pro: Evolução harmoniosa

Sony WF-C510: Auriculares económicos

Samsung Z Flip 6: IA ao mais alto nível

Asus ROG Zephyrus G16

Router TP-Link Archer Air R5

Asus ROG Delta II: Ouvir o adversário

Lenovo Yoga 9i 2in1: O portátil ginasta

Hisense E7 Pro 55

Asus ROG NUC 14 Pro: Super mini computador

QNAP TS AI642

Lifestyle: Canon PowerShot Golf

I&D

Os desafios do teletrabalho

eGames Lab: Portugal no mapa dos videojogos

Starkdata: Conhecer os clientes

Neuraspace: De olhos no Espaço

VOLT

BMW i5 EDRIVE 40: Uma carrinha que mete respeito

O avião elétrico que já voa em Viseu

Peugeot E-Partner

Soluções

Backups: Proteja os dados mais importantes

VPN: Uma solução para ter mais privacidade

Consultório

Jogos

Astro Bot: Os astros estão alinhados

Age of Mythology

Emio : Inspirado no anime japonês

A nova edição da EXAME está nas bancas e junto dos nossos assinantes.

As maiores cotadas do mundo continuam a bater recordes de valor e já representam mais do que muitas economias mundiais. No nosso tema de capa, o jornalista Rui Barroso foi analisar este grupo de elite das Megaempresas para entender as razões para o seu sucesso e qual o risco que os mercados e as economias enfrentam no caso de esta tendência de ganhos sucessivos correr mal.

No nosso tema de capa (desenhada pelo Edgar Antunes) focamos a atenção nas empresas e sobretudo nas grandes cotadas, mas os temas desta edição são mais vastos e abarcam dossiers quentes da economia mundial. Olhamos para as conclusões pouco lisonjeiras do chamado Relatório Draghi, sobre a competitividade europeia, e saltamos o Atlântico para uma antecipação daquilo que podemos esperar consoante o desfecho das eleições de novembro, para a Casa Branca.

A sustentabilidade é tema de uma grande entrevista com Mafalda Guedes, da Sogrape, e é também abordada por vários dos nossos colunistas, em diferentes vertentes. E, por falar em vinho, fomos descobrir uns tesouros de pequena produção no Alentejo e, com a ajuda de Francisca Van Zeller, debatemos sobre como podemos comunicar melhor aquilo que sabemos bem fazer. 

É claro que não poderiam faltar as histórias curiosas de marcas que bem conhecemos, as recomendações de livros e a nossa análise a um verdadeiro mito das estradas: a nova encarnação do VW Golf.

O Governo apresenta esta terça-feira – numa conferência sobre “O futuro dos media” organizada em Lisboa pelos associados da Plataforma dos Media Privados (PMP), que contará com a presença do primeiro-ministro e do ministro dos Assuntos Parlamentares, que tem a tutela do setor – o Plano de Ação para a Comunicação Social, que inclui nova legislação para o setor, um novo contrato de concessão de serviço público para a RTP, o reforço da independência da Lusa e incentivos aos media.

Segundo a agência Lusa, que teve acesso ao documento, o plano está dividido em quatro eixos: regulação do setor, serviço público concessionado (RTP e Lusa), incentivos ao setor e combate à desinformação e literacia mediática. Cada um destes eixos prevê uma série de medidas cuja monitorização e prestação de contas na execução estará a cargo da Estrutura de Missão (#PortugalMediaLab), criada pelo Governo em agosto passado.

Estas são algumas das medidas previstas:

  • Criação de um Código da Comunicação Social, atualizando a Lei de Imprensa e do Estatuto da imprensa regional (que datam de 1988), a Lei da Rádio, da Televisão e dos Serviços Audiovisuais e a Lei da Transparência dos Media e Decreto dos Registos;
  • Incentivos. O Governo reconhece que é necessário fazer um estudo do mercado jornalístico e avaliar o atual regime, promovendo ao mesmo tempo a integração das plataformas digitais e a promoção da modernização tecnológica.
  • Inteligência Artificial. O Governo quer dedicar um apoio específico à capacitação dos jornalistas nesta área e a elaboração de um “livro branco” sobre a IA aplicada ao jornalismo.
  • Apoio à distribuição de publicações periódicas em zonas de baixas densidade populacional e a garantia da sua distribuição em todo o País;
  • Combate à desinformação e literacia mediática. O plano prevê a bonificação pelo Estado em 50% das assinaturas digitais dos órgãos de comunicação social e a sua oferta aos estudantes do ensino secundário. Está também em fase de arranque um novo Plano Nacional de Literacia Mediática e o projeto-piloto “literacias”, que consiste na adoção de uma disciplina obrigatória no ensino secundário que promova junto dos alunos competências nesta área.

Para a RTP:

  • Eliminação gradual da publicidade comercial até 2027, a compensar com “espaços de promoção de eventos e iniciativas culturais”
  • Revisão do contrato de concessão do serviço público, a fim de “modernizar” e “diferenciar” a televisão do Estado dos outros canais;
  • Um programa de reorganização, com um plano de saídas voluntárias (até 250 trabalhadores), maiores sinergias com a Lusa (sem fusão de empresas ou de redações) e a criação de uma plataforma de verificação de factos.

Para a Lusa:

  • A agência já é detida pelo Estado em 95,86% do capital e o Governo pretende concluir a sua aquisição total. O plano prevê, ao mesmo tempo, reforçar a sua independência, criando um novo modelo de governação, com a criação de um conselho de supervisão com uma composição multissetorial, e implantando um programa de modernização tecnológica e digital e mais meios humanos.
  • Redução do custo dos serviços da Lusa para os órgãos de comunicação social. O Executivo tem dúvidas jurídicas quanto à gratuitidade do serviço da Lusa, defendido pelo anterior governo, devido ao direito da concorrência da União Europeia (UE), e optou por descontos, de 50% a 75% para os órgãos regionais e locais e de 30% a 50% para os media nacionais.

Vivemos numa era em que a produtividade se tornou um símbolo de valor e o sucesso parece estar diretamente ligado ao número de horas que trabalhamos. A cultura do hustle – valorização da sobrecarga de trabalho – é promovida como o caminho certo para alcançar objetivos.

Embora o equilíbrio vida pessoal/profissional seja um tema sobre o qual muitos teorizam, na prática, a realidade é outra. Mesmo com a integração do teletrabalho, o número de horas dedicadas continua a ser um símbolo de compromisso. A pressão é silenciosa mas constante, infiltrando-se nas rotinas diárias, nas expetativas profissionais e até nas conversas casuais. Sem que ninguém o diga abertamente, sentimos que só com uma dedicação total — mesmo à custa de sacrifícios — conseguiremos corresponder às expectativas da liderança.

Quando o “hustle” não lhe serve mais

Se se sente constantemente exausto, emocionalmente esgotado ou preso num ciclo de stress e ansiedade, a resposta é clara: o “hustle” deixou de lhe servir. A pressão para estar sempre a produzir é tão subtil e insidiosa que muitas vezes ignoramos os sinais, físicos e psicológicos, de alerta. Não se trata apenas de não se encaixar num projeto ou numa equipa; trata-se de reconhecer que este ritmo está a comprometer a sua saúde mental. Se tem de forçar, então esse não é o seu caminho!

Impactos psicológicos da cultura do “hustle”

Inúmeros estudos revelam que os trabalhadores portugueses manifestam níveis elevados de stress relacionados com o trabalho e esta tendência é crescente. Entre as principais consequências desta sobrecarga de trabalho estão a ansiedade, a depressão e o burnout. De acordo com dados da Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho, Portugal está entre os países com maior prevalência de doenças mentais relacionadas com o trabalho.

Quando passamos os dias a trabalhar e as noites a planear o próximo passo, o desgaste psicológico torna-se inevitável. A linha entre a vida pessoal e a profissional desaparece e a culpa instala-se sempre que tentamos fazer uma pausa, como se o descanso fosse um luxo e não uma necessidade. A cultura do “hustle” impõe-nos esta exigência inatingível de que parar é sinónimo de falhar.

Pode alcançar o sucesso rapidamente, mas se o caminho for destrutivo, que valor terá a vitória?

Ansiedade e Burnout: Os sinais a que deve estar atento

Assim como, demasiadas vezes, ignoramos os sinais de problemas numa relação, também no contexto laboral o corpo e a mente dão sinais de instabilidade. A ansiedade, o stress crónico e o burnout são as manifestações mais comuns. O burnout, que já foi reconhecido pela OMS como uma síndrome ocupacional, afeta 1 em cada 5 profissionais em Portugal, com maior incidência em jovens adultos e trabalhadores em início de carreira.

Os sinais podem incluir: cansaço físico e mental persistente, falta de motivação e interesse em atividades que antes davam prazer, dificuldade em estar concentrado e em tomar decisões, sentimento constante de fracasso ou inadequação, irritabilidade e isolamento social.

Se reconhece estes sintomas, é fundamental reavaliar o seu percurso. Não ignore os sinais. Sucesso sem saúde é apenas uma conquista vazia.

O custo invisível: O impacto nas relações pessoais

A cultura do “hustle” também afeta as relações pessoais. A falta de tempo e a exaustão emocional não permitem que estejamos presentes. Na constante preocupação com prazos, metas e promoções, negligenciamos quem prioriza a nossa saúde em prol do sucesso – a família e os amigos. No final do dia, a solidão e o isolamento tornam-se os grandes companheiros. Não deixe que esta procura incessante pelo “mais” ofusque o que realmente importa, porque de que serve o sucesso se não tem com quem partilhá-lo?

Um novo paradigma: O equilíbrio entre trabalho e vida pessoal

É importante desconstruir a ideia de que trabalhar até à exaustão é a única forma de ser bem-sucedido. Sucesso não tem de significar sacrifício constante. Trabalhadores que conseguem um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal têm níveis mais elevados de produtividade e bem-estar.

Importa aprender a definir limites claros entre o trabalho e o descanso, respeitando as pausas. Isto inclui momentos de autocuidado, de lazer e, acima de tudo, de desconexão. A chave está em trabalhar com propósito, não em trabalhar mais.

Estratégias para o equilíbrio:

1. Planeie mais: Estabelecer uma rotina semanal que inclua pausas regulares, tempo para a atividade física e momentos de relaxamento é fundamental. Para quem tem família, planear a semana — incluindo as refeições, a roupa e as tarefas da casa — pode ajudar significativamente a diminuir o stress e a sobrecarga emocional. Este planeamento não só proporciona uma maior organização, mas também permite que possa dedicar tempo de qualidade à tua família.

2. Aprenda a dizer “não”: Num momento em que as oportunidades parecem fugazes, importa perceber que nem todas devem ser aproveitadas. Dizer “não” é, muitas vezes, uma demonstração de inteligência emocional, especialmente para aqueles que têm responsabilidades familiares. Reconhecer os próprios limites é uma forma de cuidar.

3. Defina prioridades: Reflita sobre qual é o seu verdadeiro objetivo. Questione se vale a pena sacrificar a sua saúde em prol de metas que, em resultado, não trazem tranquilidade duradoura. Com a multiplicidade de responsabilidades que enfrentamos, é crucial identificar o que realmente importa, para que possamos ajustar as prioridades.

4. Procure ajuda: Se sentir que a pressão está difícil de suportar, procure a ajuda de um profissional. Reconhecer que precisa de apoio é um sinal de força. Quanto mais cedo identificar e tratar os sintomas de burnout ou ansiedade, mais rápido recupera. Lembre-se de que cuidar de si é também cuidar dos seus; uma mente saudável é essencial para um lar equilibrado e harmonioso.

O seu bem-estar em primeiro lugar

A cultura do “hustle” promete sucesso e realização, mas muitas vezes o preço a pagar é alto demais. O verdadeiro sucesso não é medido apenas em conquistas profissionais, mas sim no equilíbrio que consegue estabelecer entre a tua vida pessoal e profissional. Coloque a sua saúde mental em primeiro lugar. Afinal, um dia de descanso hoje pode significar muitos anos de sucesso amanhã.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Todos os pensionistas da Segurança Social recebem esta terça-feira a pensão de outubro com acerto do IRS em função das novas tabelas de retenção, enquanto 2,1 milhões vão também receber um bónus extraordinário de entre 200 a 100 euros.

No caso do acerto do IRS, para muitos a retenção será zero este mês ou com um valor mais baixo do que o habitual, resultado das novas tabelas e, ao mesmo tempo, para compensar o imposto que foi retido a mais desde o início do ano.

O despacho com as novas tabelas contempla duas tipologias de taxas de retenção: uma com taxas mais reduzidas (e até de 0%), para aplicação nos meses de setembro e outubro e que visa compensar o imposto retido em excesso entre janeiro e agosto, quando não tinham ainda sido publicadas as alterações ao imposto, e outra para ser aplicada de novembro em diante.

No caso das pensões, porém, e pelo facto de estas já estarem processadas quando as novas tabelas foram publicadas, impediu que este acerto da retenção na fonte e respetiva compensação fosse aplicado sem setembro.

Desta forma, e como referiu então à Lusa fonte oficial do Ministério do Trabalho, “às pensões de outubro serão aplicadas as novas tabelas [previstas para os meses de setembro e outubro]”, salientando que “as retificações resultantes da não aplicação da nova tabela nas pensões de setembro serão efetuadas até ao mês de dezembro, inclusive”.

Mais o bónus

Ao acerto da retenção na fonte soma-se às pensões deste mês o suplemento extraordinário que é pago em função do valor bruto das suas pensões:

  • 200 euros para quem tem uma pensão de 509,26 euros;
  • 150 euros para os que têm reformas entre 509,26 euros e 1.018,52 ;
  • 100 euros para os que recebem entre 1.1018,52 euros e 1.527,78 euros.

No total, há 2,1 milhões de pensionistas da Segurança Social que recebem este bónus.

Os reformados da Caixa Geral de Aposentações terão de esperar até ao dia 18 para sentir o efeito na pensão destes dois fatores,