A Conservação da Natureza (CN) em Portugal é sinónimo de proibição. Ao fim de décadas, o conceito e a prática de CN são tão retrógrados e arcaicos que nos afastam da Natureza e de tudo o que esta tem de bom para nos oferecer. Estranhamente, a Natureza por cá não é uma mais-valia, é uma limitação. Em Portugal não é bom viver num Parque Natural, os constrangimentos são tantos que fazem com que os portugueses estejam de costas voltadas para tudo o que tem a ver com a Natureza. Todos tememos que haja um valor natural que nos impeça tudo e mais alguma coisa.
Com um património natural ímpar na Europa, o País desperdiça, individual e coletivamente, o enorme valor deste capital natural. O Estado, acompanhado de uma ação ecologista muito limitada e ideologicamente amarrada a preconceitos, com grande carência de meios, não consegue promover uma Natureza viva e vivida. “Viva”, como um ecossistema são e equilibrado; “vivida”, porque usufruída. Isto é, qualquer coisa como um rio onde se possa nadar e pescar e uma floresta ou montanha onde se possa passear, caminhar, acampar ou viver. É por isto, e algo mais, que qualquer cidadão ou promotor de bem foge do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, como o diabo da cruz. Muito raramente saímos da prática do “proibir para não estragar”. Segundo a cultura vigente, a Natureza é para ser conservada de forma quase intocável, mantida quase num despovoamento total, ser vista ao longe ou num qualquer ecrã. É urgente inverter esta situação, a expressão “conservação” tem de ir muito além do proibido, tem de proteger, valorizar, diversificar, promover, etc.
Há uns anos, tive o privilégio de atravessar a pé grande parte da Escócia. Lá, o urbano e a Natureza confundem-se. O campo, a floresta, os rios e os lagos entram pelas cidades, vilas e aldeias. A harmonia é quase perfeita e chega a provocar inveja. Por tudo isto, é impossível a um escocês ignorar o meio natural; ele vive na Natureza, apesar de a biodiversidade ser miserável quando comparada com a nossa. Esta faz parte do seu modo de vida e qualquer pessoa, por muito distraída que seja, sente isso e vive-o.
O corpo nacional de “guardas-florestais”, que lá existe, promove um enorme conjunto de atividades na floresta, dirigidas a todos os públicos, que visam ensinar, viver, educar e valorizar o meio natural. Na verdade, uma das notas mais impressionantes desta experiência foi compreender como este simpático povo vive o campo. Tudo é pretexto para ir ao campo e usufruir do campo. Acresce o perfeito papel e a integração de cada parte, pública e privada, que se sente e percebe em cada situação. É tão simples e claro que fica fácil e é bom para todos, como não pode deixar de ser.
Logo no aeroporto, como todos os viajantes, fui explicitamente convidado a ler o Scotland’s Outdoors Responsibly, que se resume em três significativos e simples tópicos: é responsável pelos seus atos e ações; respeite as outras pessoas; cuidado com a Natureza. Mais não é preciso, a Natureza é viva e vivida e essa é a melhor garantia de conservação e valorização dos ecossistemas. Por cá é exatamente o contrário de tudo isto. Alguém me comentou um dia: “Porque cá há portugueses e não escoceses…”
Na verdade, a gestão que o nosso país faz do seu enorme património natural é estúpida porque a ninguém aproveita, tão-pouco a própria Natureza. Em Portugal é proibido acampar no campo, só é legal acampar em parques de campismo que na generalidade são réplicas das cidades onde vivemos, com supermercados, restaurante, zonas ajardinadas, piscina, etc. É imaginável algo mais absurdo e caricato?
Tudo isto acontece no País que diz apostar fortemente no turismo, que tem o principal aeroporto no centro da capital e o do Algarve numa Reserva Natural. Somos o mesmo país onde é possível o abate de milhares de hectares de preciosas árvores para espalhar parques solares.
Educar e responsabilizar os portugueses pelos seus atos na Natureza é incontornável, proibir, porque sim, é atraso. Às vezes basta um pouco de bom senso.
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