Há um equívoco generalizado quando tentamos analisar Trump do ponto de vista político. Esse conceito simplesmente não existe na sua cabeça. Quando manifesta interesse pela Gronelândia (3,7 vezes maior do que a Península Ibérica) ou pensa na Faixa de Gaza (do tamanho do Concelho de Sintra), fá-lo como empreiteiro ou mestre de obras. Que vastidões geladas belas e promissoras do território autónomo da Dinamarca, e as maravilhosas praias e potenciais campos de golfe em Gaza.
É verdade que Gaza tem dois milhões de habitantes, o que não complica os seus planos de edificação. Já encontrou uma solução: deportá-los para países árabes. Pressionou a Jordânia, o Egito e, com toda a certeza, os países ricos do Golfo. Para ele, a população não é um problema. Prova disso é que a Gronelândia só tem 56 mil almas. Dois milhões ou 56 mil é tudo igual. Nada de política, nem de questões humanitárias, muito menos estratégicas. Trump não pensa assim. É urgente abandonarmos essa métrica.
O diretor do Politico.com, que não se assume como democrata nem republicano, publicou na semana passada um editorial fora do vulgar: considera que Trump poderá ser um dos melhores presidentes dos Estados Unidos. E apresenta razões para isso. Afinal, quem mais suportaria duas tentativas de destituição, processos judiciais contínuos, uma sentença, uma derrota eleitoral em 2020 e ainda assim regressar, de forma majestosa e poderosa, à Casa Branca? – perguntava o editor americano.
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Trump não é político. Muito menos estratega. Jamais filósofo. Não tem amigos nem os deseja. Trump é um empreendedor pragmático, que apenas avalia o terreno, a quantidade de cimento, e o valor a gerar ou gerado: daí o interesse pelo Canal do Panamá.
Portugal deve acautelar-se rapidamente. Temos as regiões autónomas dos Açores e da Madeira que, a qualquer momento, poderão constar da lista de compras ou anexações do presidente americano.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
Um dos maiores especialistas na história do consumo de drogas no Ocidente, o autor britânico Mike Jay mostra um interesse incansável num tópico que tem suscitado debates apaixonados e viscerais ao longo dos tempos e que começa a ser abordado com a dignidade que merece. Estamos a falar de psicadélicos e do homem que dedicou boa parte da vida a decifrar os seus bastidores, com destaque para a cultura médica e a investigação da mente humana. Em Psiconautas: As Drogas e a Formação da Mente Moderna (Livros Zigurate, 392 págs., €24,20), os leitores podem encontrar histórias insólitas ligadas à experimentação autodidata de substâncias psicoativas e de que forma tiveram um papel crucial nos avanços científicos.
Na sua passagem por Lisboa, o investigador associado do Health Humanities Centre da University College London e curador da Bethlem Art and History Collection conversou com a VISÃO sobre as incursões realizadas aos quartos escuros da natureza humana e mostrou-se esperançoso no que diz respeito à forma como a sociedade civil e a comunidade científica estão a encarar o potencial dos psicadélicos, contribuindo para o fim do estigma e a emergência de um novo paradigma.
Como surgiu o interesse no estudo das drogas, sobre as quais escreve há tantos anos? Nos anos 1990, quando emergiu a internet, era jornalista e dei-me conta da existência de grupos online que falavam sobre qual a experiência que se tinha com substâncias psicoativas e o que motivava o seu consumo, com uma abordagem bem distinta da que prevalecia nos média, que falavam do problema das drogas e das formas de combater a adição e o crime. Essa constatação motivou-me a ler obras escritas por quem fazia parte dessa comunidade, como Timothy Francis Leary (psicólogo, futurista e defensor das vantagens terapêuticas do LSD), Terence McKenna (etnobotânico e psiconauta) e outros. Decidi, então, que estava na altura de mudar o registo da conversa, pois apesar de as drogas fazerem parte da cultura dominante, isso não se refletia em tudo o que era escrito e divulgado, que se limitava a uma postura a favor ou contra.
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O que descobriu ao longo destas décadas de investigação? Interessei-me por curiosidades do ponto de vista histórico e antropológico. Uma das coisas interessantes que encontrei teve a ver com os relatos de experiências com drogas, por parte de Charles Baudelaire, Théophile Gautier e amigos. Vi que por trás destas histórias havia, quase sempre, alguém do universo científico ou médico. Foi o caso do psiquiatra Jacques-Joseph Moreau, que descobriu o haxixe quando trabalhava no Egito e decidiu divulgá-lo no meio artístico, nas reuniões do Clube dos Hashischins, no século XIX. Entretanto, as mudanças sociais e na cultura dos média permitiram que as drogas deixassem de ser um assunto marginal, como eram até então, e saíssem, aos poucos, do descrédito a que estavam votadas.
Pode dizer-se que era um fenómeno das elites ou nem por isso? Nos meus trabalhos de campo, conheci pessoas de vários níveis sociais. Porém, cumpre-me destacar figuras conhecidas como Havelock Ellis, que, sendo médico, psicólogo e crítico de arte, estava muito interessado no funcionamento da mente. Quando descobriu o peiote, ficou fascinado e escreveu dois artigos sobre o assunto. O primeiro, publicado na revista The Lancet, era sobre os efeitos do cato em termos médicos. Mais tarde, publicou uma longa crítica literária, descrevendo a experiência das visões que teve, de forma bela e detalhada, como se se tratasse de uma exposição de arte.
Verificamos que, ao longo da História, e praticamente em todas as culturas, era utilizado algum tipo de substância psicoativa. A universalidade do apelo pelas drogas leva-me a supor que o seu uso é prévio aos humanos
De que falamos quando falamos de psiconautas, termo popularizado na década em que o Homem foi à Lua? A designação aparece numa obra de ficção alemã de Ernst Jünger, publicada nos anos 1940, em que os protagonistas investigavam o futuro e tomavam substâncias com o intuito de explorar novas partes do espaço mental. Décadas depois, o termo foi adotado por pessoas que não se consideravam meros consumidores de drogas e pretendiam ir mais além no que consideravam ser um caminho de descoberta pessoal. Por isso, recuperei a palavra e quis mostrar que muito do que hoje se entende como futurista aconteceu antes e merece um lugar na História. No século XIX já existiam psiconautas, que tomavam drogas a fim de estudar os seus efeitos e descrever a experiência. Isso era normal e fazia parte do quotidiano dos médicos e dos cientistas.
Os cientistas eram mais destemidos e românticos do que hoje, ao serem, eles próprios, cobaias? Houve tempos em que faziam experiências arriscadas usando-se a si mesmos, mas hoje não precisam de o fazer por terem exames cerebrais, ressonâncias magnéticas e por aí fora. Fascinou-me particularmente o caso do químico Humphry Davy e a sua descoberta do óxido nitroso, por ser a primeira droga capaz de alterar a mente descoberta em laboratório. Ao inalar a substância, ele teve uma sensação de euforia e, à medida que continuava, gerindo o risco, teve uma espécie de revelação e descobriu uma nova dimensão da mente. Humphry Davy também era um poeta, à semelhança de outros cientistas e médicos. As pessoas falavam dele como um herói da ciência, que teve a coragem de fazer a experiência sozinho.
Os psicadélicos criam uma nova realidade ou ampliam aquela que temos, ou vemos? A perceção muda a realidade: ter uma alucinação ou uma experiência mística pode alterar a mente e, nessa medida, o comportamento. Se a consciência muda, o mesmo sucede com a experiência do mundo. William James, o “pai da psicologia”, dizia que toda a experiência é real por ser vivida. Ele mesmo utilizou o óxido nitroso no seu laboratório, em Harvard, onde era professor. O efeito estranho produzido também ocorria nos pacientes submetidos a anestesias dentárias e naqueles que, antes de uma cirurgia, recebiam éter e clorofórmio.
No livro menciona, até, um paciente que afirmou ao seu médico que Deus era uma substância. A revelação tem mais a ver com o fim da dor ou remete para novas experiências percetivas? Os efeitos da anestesia trouxeram consigo um paradoxo: enquanto o corpo era aberto e torturado numa mesa de operações, a mente podia estar numa dimensão diferente e, até, ter uma experiência celestial. William James achava que havia muitos tipos de consciência, cada uma revelando um mundo diferente. Não é viável eleger a realidade em que estamos agora como real em detrimento das outras, pois todas o são, cada uma à sua maneira.
Há risco de se perder nessas realidades, da mesma forma que se pode ficar viciado no mundo virtual, o ópio do século XXI? Sim, podemos perder-nos online, em universos que nos pareçam, porventura, mais ricos e satisfatórios do que aquele em que estamos. Num artigo publicado na London Review of Books, abordei um tema do qual não se ouve falar muito, mas que existe: a ligação entre o uso de drogas e a guerra. Em cenários de conflito, os estados alterados de consciência induzidos pelo consumo de substâncias permitem gerir emoções e obter energia extra. É conhecido o valor do álcool para os soldados e os exércitos: criam-se laços, gera-se um sentimento de união e coragem para lutar e, no final, bebe-se para relaxar. Na II Guerra Mundial, com as anfetaminas, ficava-se acordado 48 horas para conduzir um tanque ou pilotar um avião. A economia da Síria deve muito à produção de captagon (anfetamina sintética conhecida por “cocaína dos pobres”), muito utilizada nas guerras no Médio Oriente e que também é usada com fins recreativos.
A que se deveu a abertura para estudar as potencialidades dos psicadélicos? A noção de que existem múltiplas realidades e novas dimensões da natureza humana surgiu em pleno modernismo, entre o final do século XIX e o início do século XX. Por esta altura, começou a haver interesse pelos estados alterados de consciência, especialmente no meio artístico, mais disponível para abordar as suas experiências sob outros ângulos.
Em que medida é que o recurso a químicos, seja como escape ou via de expansão, é uma necessidade universal, ou quase? Olhando o fenómeno numa perspetiva global, verifica-se que, ao longo da História, e praticamente em todas as culturas, era utilizado algum tipo de substância psicoativa, variando apenas a especificidade das práticas. A universalidade do apelo pelas drogas leva-me a supor que o seu uso é prévio aos humanos.
O consumo noutras espécies do reino animal? Sim. Alguns ingerem substâncias psicoativas para se reproduzirem, outros consomem fruta fermentada – há bandos de aves migratórias que desviam o seu voo para locais onde a fruta apodrece – e gostam de se intoxicar com álcool. Outro exemplo conhecido é o dos felinos, que rebolam e alucinam quando ingerem catnip. Estudos que usaram sensores cerebrais para monitorizar o comportamento confirmaram que a erva-de-gato deixava os bichos num estado de loucura temporária. E há ainda os macacos e os símios que mascam plantas, ou que gostam de fumar cigarros quando estão em cativeiro. Portanto, é provável que estejamos programados para consumir drogas, seja como automedicação para alívio da dor, ou também talvez com a motivação de ter outras perceções.
Refere-se ao consumo para induzir experiências transcendentais? Se olharmos para culturas indígenas, como as xamânicas e animistas, na América do Sul, as plantas psicadélicas funcionam como fármacos: após tomá-los, cria-se um envolvimento de outra ordem com a Natureza – uma pessoa torna-se o leopardo, a águia, o predador – e vê entidades não humanas, por norma, invisíveis, podendo falar com elas.
O que diferencia a era individual da era progressista, a que se refere no livro? Há uma mudança óbvia, na década de 1890. Pensava-se que era o fim, ou a decadência, da civilização e, na viragem para o século XX, o mundo mudou, tornou-se futurista e tecnológico, o que trouxe a necessidade de ordem social. Na era progressista, ganharam destaque a saúde pública, a tecnocracia, as estatísticas, a demografia, as doenças crónicas. As autoridades criaram leis para controlar e restringir o acesso a bebidas alcoólicas e drogas a fim de controlar esses problemas de saúde. Nesse cenário, passou a ser muito mais difícil para um médico, ou um cientista, fazer autoexperimentação, por não querer estar associado a grupos “problemáticos” da população.
Porque é que os psicadélicos continuam a ser substâncias proibidas e classificadas como perigosas? Essas categorias foram criadas nas décadas de 1960 e 1970, quando todas as substâncias psicoativas que não se destinavam ao uso médico se tornaram problemáticas e foram restringidas. No início, as drogas eram vistas como algo desconhecido, negativo e ilegal e havia uma propaganda negativa em torno delas. Porém, nos anos 1950, quando se começou a falar de psicadélicos, havia a ideia deliberada de os associar a fatores positivos, como experiências místicas e de autodescoberta, era uma propaganda positiva. Por isso, é preciso ter algum cuidado com os termos.
Em que sentido? Quando o consumo de drogas começou a ser problemático, as pessoas queriam uma palavra para um tipo especial de experiência com as mesmas e chamaram-lhe psicadélicos, mas não há propriamente um consenso sobre o que são e o que não são.
O que pensa do uso médico, atendendo a que a Food and Drug Administration (FDA) bloqueou a aprovação do MDMA para uso médico e também da psilocibina, vulgo cogumelos mágicos? É muito difícil generalizar, as pessoas têm experiências muito diferentes. A FDA diz que a sua missão é definir o que é um medicamento seguro e eficaz, que funciona da mesma forma para todos. Não consegue mostrar, por exemplo, que o MDMA entra no sistema, passa pelo cérebro e tem um certo efeito. E não é assim, a substância coloca a pessoa num estado diferente e ela trabalha com o terapeuta que a assiste, o que faz com que os medicamentos psicadélicos não sejam generalizáveis.
Várias figuras públicas partilham a sua experiência com psicadélicos. No livro refere Hunter Biden e Mike Tyson, mas há também o príncipe Harry, o jornalista Michael Pollan e o escritor Andrew Solomon. O que pensa disso? No livro e no documentário (na Netflix), Michael é brilhante na forma como fornece dados sobre os efeitos subjetivos das substâncias, de uma forma que os cientistas não conseguem, indo ao encontro do que as pessoas querem saber: o que se sente, como é a experiência. O termo psicadélico cria espaço para uma nova ideia sobre o que as drogas podem fazer por nós: curar condições que outros fármacos não conseguem ou proporcionar experiências religiosas mesmo que não se tenha religião. Neste momento, têm uma aura de magia.
Da mesma forma que uns olham para as propriedades mágicas, outros receiam ir por aí, um pouco como quando se fala de antidepressivos… Sim, algumas pessoas viram as suas vidas totalmente transformadas e outras concluíram que os antidepressivos foram terríveis para as suas vidas. Ambas as posições são válidas.
Podemos falar do renascimento das drogas sem o cunho pejorativo que tinham no século passado? Sim. Nos anos 1960 vigorou essa ideia, mas era uma contracultura, uma oposição ao mainstream. Agora as pessoas querem saber o que a ciência diz. E diz que estas substâncias podem ser úteis no tratamento de problemas de saúde mental. Portanto, de certa forma, os psicadélicos e o discurso têm agora um estatuto de autoridade que não tinham antes.
Considera-se um psiconauta? Não usaria essa palavra, psiconauta, para me descrever, é um pouco pretensioso. Todos somos experimentalistas: decidimos se gostamos de chá ou de café pela manhã, se queremos beber vinho à hora do almoço ou não, e o mesmo sucede com as drogas. Interessam-me as diferentes substâncias psicoativas e o ponto de equilíbrio que encontramos na relação com elas. Freud dizia que as drogas alargavam o nosso alcance mental e físico ao ponto de nos tornarem quase divinos, mas não passavam de próteses. A primeira delas foi o fogo, a outra foi a ciência e, com o arsenal que fomos desenvolvendo, não seríamos só macacos nus. Podemos encarar as drogas enquanto extensões nossas, mas elas não fazem parte de nós.
E como é consigo? Usando a analogia da escrita de viagens, é preciso fazê-las. Para mim tem sido importante experimentar as substâncias sobre as quais escrevo e fi-lo de forma mais sistemática do que a maioria das pessoas.
O que se segue, neste campo? Consumir uma droga é como viajar para um país estrangeiro: assim que começa, tem-se uma experiência direta e não se pode desligar o botão. Escrevo sobre este tema há tempo suficiente para saber que não é possível prever o futuro. Por exemplo, eu não podia adivinhar que a cetamina iria converter-se numa droga recreativa popular e, ao mesmo tempo, num medicamento psiquiátrico. Nesse sentido, acredito que a espécie humana vai manter o interesse na autoexperimentação.
A depressão Herminia está a atravessar Portugal neste domingo, com vários avisos emitidos pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) de situações meteorológicas de risco moderado a elevado (laranja) e de risco extremo (vermelho) a afetarem 12 distritos de Portugal continental.
Todas as regiões que apresentam casos de risco extremo devem-no à agitação marítima, que “será forte na costa ocidental”, pelo menos, até terça-feira, 28, com as ondas a poderem atingir os 14 metros de altura máxima. Os distritos de Aveiro, Braga, Coimbra, Porto e Viana do Castelo são os que se encontram sob aviso vermelho por causa das condições do mar, enquanto os de Beja, Faro, Leiria, Lisboa e Setúbal “estão” a laranja pelo mesmo motivo.
Já a chuva cairá de norte a sul nas próximas horas, mas a “precipitação persistente, por vezes forte”, far-se-á sentir com maior intensidade nos cinco distritos referidos e ainda em Viseu e Vila Real, neste último acompanhada de trovoada. Estes sete distritos estão sob aviso laranja para precipitação: Braga, Viana do Castelo e Vila Real entre as 15 horas e a meia-noite deste domingo, o Porto entre as 18 horas e as três da madrugada, Aveiro e Viseu entre as 21 horas e as três da madrugada e, por fim, Coimbra entre a meia-noite e as seis da manhã de segunda-feira.
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Segundo o IPMA, há ainda previsão de queda de neve na Serra da Estrela, assim como “nas serras do extremo Norte” acima dos 600 a 800 metros de altitude, a partir de segunda-feira e até à manhã de terça.
Viva, bom-dia “Fica uma sensação de… não me apetecer comer muito. Normalmente, numa dieta, estou sempre a pensar em comida. Este medicamento ajuda-me imenso porque não tenho sequer vontade de cozinhar – eu que adoro cozinhar!” O testemunho é de Marta Lino, uma das entrevistadas da Luísa Oliveira, em A revolução do peso(leia aqui), que hoje aqui destacamos nesta Arquivo VISÃO, a newsletter através da qual recuperamos os melhores artigos publicados na VISÃO desde 1993.
Quando a reportagem saiu, na edição de 1 de setembro de 2023, a gestora de marketing Marta Lino tinha 38 anos. Os seus diabetes estavam altos e, por isso, o peso tinha que ser controlado. Na altura, Maria Barreto, outro dos casos incluídos na peça, tinha 53 anos e dizia: “Fiz de tudo, fui seguida por vários médicos, mas andei sempre em dietas ioiô. O meu maior erro sempre foi comer mal, saltar refeições e ser sedentária.” Agora, porém, os resultados de Maria Barreto estavam à vista. Escrevia a jornalista: “Com as injeções semanais, dois comprimidos de fluoxetina por dia para controlar a ansiedade, acompanhamento nutricional intensivo que a obrigou a cumprir com as refeições a horas e caminhadas diárias de seis a sete quilómetros, conseguiu perder 22 quilos em seis meses.” Situação semelhante viveu a advogada Filipa Cardoso que, em seis meses, perdeu 25 quilos. Baixou os valores do Índice de Massa Corporal (IMC), dos 33 para os 25. “Tirou-me o apetite. Havia dias em que não ingeria mais de 600 calorias porque não me apetecia comer. O mais intrigante é que me sentia bem e conseguia treinar na mesma”, conta.
Uma nova investigação sobre os efeitos da água com gás no organismo sugere um aspeto positivo da sua ingestão. De acordo com o estudo realizado por uma equipa de cientistas da unidade hospitalar de neurocirurgia Tesseikai, no Japão, publicado recentemente na revista científica BMJ Nutrition Prevention & Health, a água com gás pode ser uma aliada para quem procura perder peso, uma vez que ajuda a diminuir os níveis de glicose (açúcar) no sangue e estimula o metabolismo.
O autor principal do estudo, Akira Takahashi, e a sua equipa observaram a ingestão e a absorção de água gaseificada no organismo e verificaram que esta é semelhante ao processo de hemodiálise, em que o sangue é filtrado pelos rins para remover resíduos e excesso de água, daqui resultando o aumento dos níveis de dióxido de carbono presentes no sangue. Segundo os investigadores, o aumento dos níveis de CO2 na corrente sanguínea provoca a diminuição dos níveis de glicose no sangue e promove, por conseguinte, a perda de peso.
O mesmo processo parece ocorrer com a ingestão de água com gás, uma vez que o dióxido de carbono, ao ser absorvido pelo estômago durante a digestão, é transformado em bicarbonato – um composto químico alcalino -, o que leva ao aumento do metabolismo e ajuda a acelerar a absorção da glicose,
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De acordo com os investigadores, estas transformações ocorrem, no entanto, em concentrações mínimas, pelo que o exercício físico e uma alimentação saudável continuam a ser as melhores práticas para a perda de peso. “Dada esta redução mínima da glicose, o impacto do CO2 na água gaseificada não é uma solução única para a perda de peso. Uma dieta equilibrada e a atividade física regular continuam a ser cruciais para uma gestão saudável do peso”, explicou Takahash.
Os investigadores deixaram ainda alguns avisos sobre os efeitos negativos da ingestão de água com gás, especialmente para pessoas com estômagos mais sensíveis. De acordo com o estudo, quando ingerido em excesso, este líquido gaseificado pode ter consequências como o “inchaço, gases e, em alguns casos, a exacerbação de certos sintomas associados a perturbações digestivas, como a síndrome do intestino irritável ou a doença do refluxo gastroesofágico”, lê-se. “A moderação é a chave para evitar o desconforto e, ao mesmo tempo, aproveitar os possíveis benefícios metabólicos da água gaseificada”, concluiu o investigador, sublinhando que são “necessários mais estudos para explorar os efeitos a longo prazo e potenciais efeitos secundários”.
Não será certamente só pela necessária tradução para o inglês que partilhamos, apesar de virmos de outros universos culturais. Han Kang fala pausadamente, como se escolhesse, precisa e delicadamente, cada palavra. Antes de responder a uma pergunta, hesita, toma o seu tempo para depois afirmar o seu universo único, a sua atenção à grande e à pequena escala, ao feio e ao belo, ao mal e ao bem, e sobretudo às ligações entre todos os aspetos do mundo natural e humano. Características, aliás, que têm feito a fortuna da sua obra, já distinguida com os mais diversos e importantes prémios literários, incluindo, no ano passado, o Nobel da Literatura, o primeiro atribuído a um escritor do seu país.
Nascida em 1970, em Gwangju, Han Kang descobriu a vocação literária, na leitura e na escrita, muito cedo. Estreou-se no final dos anos 90 do século passado, com poesia, e tem publicado sobretudo romances (ver caixa). Em alguns, como no mais recente, Despedidas Impossíveis, regressa a acontecimentos históricos, massacres e tragédias que durante muitos anos foram tabu na sociedade sul-coreana. Um empenhamento cívico que passa sobretudo pela atenção às pessoas comuns, às suas fragilidades, mas também às suas enormes capacidades de resistência e de amar.
Feita por videochamada, em fusos horários muito diferentes (o de Lisboa e o de Seul), esta é uma das raras entrevistas que a escritora tem concedido. Neste momento, procura, sobretudo, o anonimato e conseguir voltar à sua rotina de escrita.
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Dezembro de 2024 Em Estocolmo, na cerimónia de entrega do Nobel da Literatura. “Tocou-me muito”, diz Han Kang Foto: Pontus Lundahl/ LUSA
Já sentiu o efeito do Prémio Nobel? Alguns premiados dizem que, se não se toma cuidado, a vida não volta a ser como era… E é verdade… [risos] Já sinto os efeitos, a começar pela minha caixa de email, que não para de acumular emails não lidos. É esmagador [risos]. Mas aos poucos vou tentando encontrar a melhor forma de lidar com os novos desafios. Porque um escritor precisa de um certo anonimato, de poder dar um passeio sem ser reconhecido, tudo coisas que não posso fazer neste momento. Tenho aprendido a esconder-me bastante bem [risos].
E já voltou a escrever? Sim. Depois da cerimónia de receção do prémio, em dezembro passado, tenho tentado regressar à minha rotina, escrever e fazer exercício, sem deixar que o prémio me afete. Receber o Nobel foi uma enorme alegria, um grande privilégio. Tocou-me muito. Mas ainda só tenho 54 anos. Se tudo correr bem, tenho muita vida e escrita pela frente. Assim o espero.
É o primeiro Prémio Nobel de Literatura da Coreia do Sul, uma das poucas mulheres distinguidas, uma das mais novas. Tudo isto teve um impacto e uma importância ainda maiores? Totalmente. Fui completamente apanhada de surpresa, o que me comoveu ainda mais. Como qualquer escritor ou leitor, acompanhava os vencedores. Não na esperança de um dia vir a ganhar [risos], mas porque o distinguido podia ser um autor de que gostasse muito, e noutras vezes só porque me possibilitava descobrir um novo escritor. Nestes casos, sempre que possível, tentei comprar e ler os seus livros. Ao receber a notícia de que tinha sido a escolhida no ano passado, só pude ficar muito contente e extremamente honrada por fazer parte de tudo isto.
Ao receber o telefonema da Academia Sueca recordou o longo percurso até esta consagração, a descoberta e confirmação da sua vocação? Nem por isso. E se me passou pela cabeça foi um pensamento muito rápido, pois essa decisão foi muito simples [risos]. Decidi que queria ser escritora aos 14 anos. Na adolescência, só queria escrever poemas e contos, mais tarde romances. Não escrevia esperando qualquer resultado ou efeito nas pessoas. Só queria escrever.
A escrita parece ser uma tradição familiar… É verdade. O meu pai é um escritor muito prolífico e os meus irmãos também publicaram romances e contos, mas hoje fazem-no menos. O mais velho é editor e o mais novo dirige um bar de música ao vivo.
Cresceu, portanto, numa casa com muitos livros. Sim, sim. E sinto que tive muita sorte em ter crescido numa casa com muitos livros. Só ler os títulos nas lombadas era já era uma alegria. Gostava muito de ir às livrarias e percorrer a secção de poesia, porque cada título era por si só uma descoberta, um mundo. Lembro-me de ser muito pequena e de passar muito tempo a olhar para os títulos, a apreciar a sua beleza e a antecipar o que poderia encontrar dentro do livro. Era uma relação um pouco solitária, mas que recordo com muito prazer.
Também consegue recordar o que a levou a tomar a decisão de se tornar escritora tão cedo? Era já esta relação com os livros. Mas, sim, consigo recordar um momento específico. Estava a ler um conto de um escritor, não me lembro agora o nome, que falava sobre mentiras profundas, neve, noite… Passava-se numa estação de comboios, com várias pessoas à espera. Algumas tossiam porque fazia muito frio, outras falavam com alguém, enquanto uma ou outra permanecia em silêncio. A certa altura, entra um homem solitário que acrescenta novos troncos na lareira que aquece a sala.
Ainda há muitas feridas por sarar no meu país. Durante muito tempo, alguns aconteci-mentos do nosso passado eram tabu
O que a tocou nessa história? Não foi propriamente a história. Mas as sensações. Enquanto estava a ler, conseguia sentir as chamas a arder com mais força por causa da nova lenha, a neve lá fora, o calor e o frio, o ambiente todo. Por causa da magia da escrita, que me mantinha cativa, eu conseguia estar lá e sentir tudo. Foi aí que disse a mim mesma: eu quero fazer isto. Quero conseguir passar estas sensações, chegar ao leitor dessa maneira.
A sua obra tem sido destacada pela capacidade de cruzar tradições culturais muito diferentes, a começar pela sua, claro, mas convocando as de muitos outros universos literários. Concorda com esta leitura? Sim, embora não tenha sido uma decisão, vem do meu gosto por ler e descobrir novos autores. Adoro a literatura coreana, que estudei na universidade, mas li muitas traduções disponíveis em coreano. Sempre me interessou muito encontrar novas formas de entender o romance, de trabalhar a sua estrutura. É incrível ver todas as tentativas e abordagens, tão diferentes, que têm sido ensaiadas ao correr dos tempos. É uma dimensão que me fascina muito. E nessa atenção à forma e à estrutura do romance tento não me repetir. Quando começo um novo romance quero descobrir uma forma que seja nova para mim, também porque não me quero aborrecer e sentir que estou a repetir uma fórmula.
Referia-me também aos géneros literários, à conjugação de fantasia, história de fantasmas, realismo, lirismo… Por vezes, sim, quero escrever sobre o sobrenatural. Noutras quero ser mais realista ou feroz. Também depende do livro.
Estou a pensar, por exemplo, em A Vegetariana, o romance que a deu a conhecer um pouco por todo o mundo. Quem o começa a ler não espera um final tão radical… Nesse caso, a minha vontade era ter uma protagonista que não falasse e levar o leitor a ter de imaginar a sua perspetiva. E a ter de sentir o que pode sentir uma pessoa que quer transformar-se numa planta ou que acredita mesmo que se transformou numa. Cheguei a escrever um conto com estas ideias em que a dimensão fantástica ou sobrenatural ainda era mais radical, o que não fiz no romance. Mas isto são ideias que surgem naturalmente, a partir das personagens ou dos temas que elas trazem.
O Prémio Nobel tornou-a uma escritora lida em todo o mundo. Isso mudará a sua escrita ou acredita que, como dizia Tolstoi, para se ser universal é preciso começar por se pintar a nossa aldeia? Nunca tive nenhuma agenda ou plano para a minha escrita. Só quero escrever histórias e poemas. Mas se há alguma coisa em que acredito é que se mergulharmos na nossa interioridade conseguimos ligar-nos a qualquer pessoa. Somos todos ser humanos, feitos da mesma matéria. Partilhamos as mesmas questões universais sobre a nossa existência. Estamos todos na mesma busca.
Acaba de sair em Portugal o seu romance mais recente, Despedidas Impossíveis. O passado, na Coreia da Sul, ainda é um fantasma, uma ferida aberta? Sim. Ainda há muitas feridas por sarar no meu país. Durante muito tempo, alguns acontecimentos do nosso passado eram tabu, não se falava deles. Um era o massacre com que lido em Despedidas Impossíveis, ocorrido na ilha de Jeju em 1948/49.
Quando ouviu falar pela primeira vez desses massacres? Apenas quando entrei na Universidade de Yonsei. Foi uma situação muito diferente em relação aos massacres de Gwangju, que abordei em Atos Humanos.
Passagem por Portugal Em 2017, a escritora coreana esteve presente na Feira do Livro do Porto Foto: Lucília Monteiro
Por esses terem ocorrido na sua cidade natal? Exatamente. Era impossível não saber, mesmo sendo muito pequena na altura e de a censura da ditadura militar impor um silêncio sobre o assunto. Na verdade, os massacres de Gwangju só foram reconhecidos em 1997, já em democracia. Mas já na altura se falava em surdina, havia fotografias e documentos que circulavam. Esse conhecimento, e a aproximação dos 30 anos de luto dos massacres de Gwangju tornou obrigatório falar-se do assunto. No meu caso, através de um romance.
A literatura tem um papel privilegiado no confronto com o passado? Acredito que sim. O passado nunca passa. As memórias, pessoais ou coletivas, têm a sua força própria. Não é possível oprimi-las constantemente. A verdade está sempre a regressar e acaba por vencer. E literatura é, ao mesmo tempo, recordação e imaginação. Imaginar o passado, o presente e o futuro; imaginar inúmeras perspetivas pessoais e, por isso, únicas. É essa a sua força.
Mais do que julgar o passado, interessa-lhe imaginar como foi vivê-lo? Sim, sim. Nos grandes acontecimentos históricos, o que me interessa são as pessoas comuns, as suas experiências e vidas interiores. Antes de começar a escrever sobre estes assuntos, procuro recolher o maior número de testemunhos possível de pessoas comuns. E a partir desses fragmentos começo a criar uma imagem, para mim, do que aconteceu e de como o que aconteceu foi vivido. Só depois é que posso ler as monografias académicas e os estudos que explicam as motivações dos grandes protagonistas e a evolução dos acontecimentos. Ao focar-me em primeiro lugar nas experiências comuns consigo entrar na sua intimidade, nos seus pensamentos e sentimentos, e estabelecer uma ligação mais verdadeira por se basear em pessoas e não em generalizações.
Essa ligação mais verdadeira tocará também mais o leitor? Ainda antes do leitor, eu também sou tocada de uma forma mais verdadeira e forte pelas pessoas que estiveram nestes acontecimentos, pelo próprio tempo em que eles decorreram, a sua especificidade, e pelo espaço, a sua geografia. É como se pudesse vivenciar o que lá se passou e emprestar-lhe as minhas sensações e emoções, a minha carne e os meus olhos a essas pessoas – emprestar, no fundo, a minha voz. É, como disse, uma ligação mais verdadeira e pura, uma forma mais sincera de me aproximar do passado.
Quando percebeu que tinha de escrever sobre os massacres da ilha de Jeju? Na verdade, não estava à espera de voltar a escrever sobre massacres. Atos Humanos foi um confronto com as minhas memórias mais fundas e com todas as questões que, desde a minha juventude, estavam por responder e resolver.
Que questões tinha na altura? Sobre a natureza humana, a sua sublimidade e capacidade de se erguer contra a violência; e, ao mesmo tempo, haver pessoas que perpetravam a violência. Tinha de resolver esse conflito. Durante a escrita de Atos Humanos e após a sua publicação fui assaltada por pesadelos. Senti dor. E ouvi e senti que leitores também sentiram essa dor em conjunto. Foi muito estranho para mim. Estávamos ligados por essa dor. Queria, por isso, aprofundar a causa dessa dor.
A que conclusão chegou? Sentimos dor porque amamos, porque confiamos nas pessoas, porque fomos traídos na nossa fé nos seres humanos. O amor é a causa da nossa dor, mas a dor também é a prova do nosso amor. Estes eram os meus pensamentos depois da publicação de Atos Humanos. Foi nessa altura que surgiu o sonho com que abro Despedidas Impossíveis: milhares de troncos negros que emergem da terra. E uma maré que sobe rapidamente. Senti que este podia ser o começo de um novo romance, embora não estivesse claro qual seria o seu desenvolvimento. Tenho várias versões no meu computador do seguimento dessa imagem inicial. Mas aos poucos percebi que os troncos de madeira eram uma metáfora para corpos insepultos. E, sem grande planeamento, cheguei aos massacres da ilha de Jeju.
Nos grandes acontecimentos históricos, o que me interessa são as pessoas comuns, as suas experiências e vidas interiores
Mais uma tragédia dentro do contexto da Guerra Fria. E esta bem paradoxal, na medida em que as lutas que estavam a ser travadas na península coreana foram replicadas numa pequena ilha… Sim, esta aniquilação por causa das ideologias é muito trágica. E acredita-se que morreram mais de 30 mil pessoas, incluindo crianças, mulheres e idosos.
Esses acontecimentos do passado ainda marcam hoje os desenvolvimentos políticos na Coreia do Sul? Num certo sentido, a Guerra Fria ainda continua na Coreia, continuamos um país dividido, consigo sentir as feridas e o ódio que permanecem. Porque se fala muito, ainda, da linha que separa as duas Coreias, mas durante a Guerra da Coreia essa linha existia em todas as cidades e aldeias.
Recentemente, o mundo foi surpreendido com a tentativa de declaração unilateral da lei marcial pelo Presidente da Coreia do Sul, entretanto deposto… Foi um momento muito difícil… Em dezembro, fiquei chocada com essa imposição da lei marcial durante algumas horas. E, ao mesmo tempo, comovida pelas pessoas que foram até ao Parlamento, bloquearam os veículos militares, lutaram e juntaram as mãos. A persistência das pessoas comuns foi extraordinária, sobretudo num contexto difícil, durante o qual tentei sempre manter a esperança.
Um contexto difícil até para se perceber o que aconteceu em concreto, quais as motivações? Também. Não tem sido fácil ler a situação porque ela está a mudar muito rapidamente, todos os dias há novidades, interpretações, movimentações… Mas pode dizer-se que ainda há muita nostalgia em relação à ditadura militar e alguma vontade de que ela regresse. Mas, felizmente, há muito mais pessoas contra essa memória deturpada do passado, a denunciar os seus crimes e a defender a liberdade.
Regressando ao romance, ao perceber que podia escrever sobre os massacres de Jeju, chegou a visitar a ilha? Várias vezes, a partir de 2018. E senti o clima de Jeju, aprendi o dialeto da ilha e consegui aproximar-me das emoções das pessoas que aí viviam, que tinham familiares ligados aos massacres e que ainda sofriam. Foi uma ligação à história que ali se passou, e aos poucos apercebi-me de que este novo romance podia aproximar-se dos massacres de Jeju e talvez, quem sabe, de todos os massacres do mundo ou através dos tempos. Porque estamos todos ligados. Os massacres são, tragicamente, universais. Queria perceber quanto amor nos pode fazer humanos, afirmando que a prova de que somos humanos é a nossa força, a nossa vontade de amar, nunca dizer adeus.
Em que sentido? No pior do mal há também lugar ao maior dos bens? Se pensar em qualquer tempo ou espaço em que um genocídio aconteceu, há sempre quem decide não se despedir. Depois das guerras e dos massacres, o amor continua. E é sobre essas pessoas que quero escrever. Quero escrever sobre a brutalidade, o ódio, mas também sobre as pequenas coisas, um floco de neve, uma pena, uma sombra, uma chama ou uma vela que nos guia. Quero escrever sobre o mal, mas também sobre coisas leves e acolhedoras.
Essa é, de facto, uma dimensão muito forte neste novo romance e na sua escrita. Só um certo lirismo, uma atenção às pequenas coisas e pormenores, pode contrabalançar a dimensão do mal de um massacre? O que me acompanhou durante a escrita do romance foi a ideia de ligação, entre personagens – a Kyungha, a Inseon e a sua mãe –, mas também entre os vários tempos e geografias do livro. É por isso que está sempre a nevar, desde a primeira frase: “Uma neve esparsa caía.” E esta neve cai e liga os vivos e os mortos, o céu e a terra, talvez também o silêncio e as memórias. Integra também o fluxo do mundo, que a todos nos liga, pois a água que banha Lisboa pode, num futuro mais ou menos próximo, acabar num floco de neve na Coreia. A ideia de ligação é a corrente elétrica do romance. Como seres vivos, estamos constantemente a experimentar a energia da vida, precisamente como uma corrente elétrica. Daí que diga tantas vezes que este é um livro sobre o amor com dois tipos de movimentos.
Quais? Na primeira parte, há um movimento horizontal, com as personagens a percorrerem várias partes da Coreia do Sul até chegarem à ilha de Jeju. E depois, na segunda, há um movimento vertical, mergulhando nas profundezas da condição humana para conseguir, no fim, acender a chama da esperança e uma vela que nos guie, como contraponto à violência.
Procura, na sua escrita, valorizar a relação entre Homem e Natureza? Sim. O facto de ter corpos é importante. Porque os corpos são frágeis e suaves e quentes. Não devíamos esquecer isso. Talvez a literatura queira descrever estas coisas, a nossa fragilidade e o que nos aquece.
Em muitos dos seus livros há personagens que têm muitas coincidências biográficas consigo. Um jogo literário? É uma forma de fazer a ponte entre a realidade e a ficção. Porque eu estou neste mundo, eu sou real.
Entre o mal e o sublime
Os cinco romances de Han Kang já traduzidos para português, desde 2016. Aqui estão as linhas de força de uma escritora ao mesmo tempo lírica e brutal, histórica e pessoal
Despedidas Impossíveis É inevitável ler na escrita de Han Kang um forte cunho político. Ele afirma-se no resgate ao esquecimento, trazendo para o debate público momentos que marcam a história da Coreia do Sul nas últimas décadas. Mas o gesto mais político será, mesmo, o de centrar esses romances em pessoas comuns, mais até no interior das pessoas comuns, nas suas emoções e vivências, nas suas forças e fraquezas. Han Kang descreve o mal (neste caso, o que se viveu na ilha de Jeju, em 1948 e 1949, nos alvores da Guerra Fria) para o denunciar, claro, mas também para evidenciar o seu contrário: a resistência, o amor, a sua fé no ser humano. E isso tanto pode estar nos atos das pessoas que sofreram e sobreviveram aos massacres como em duas amigas (as protagonistas) que acalentam projetos artísticos que evocam a memória desse sofrimento. — Dom Quixote, 192 págs., €16,60
O Livro Branco A mais autobiográfica de todas as obras de Han Kang e um dos títulos com uma estrutura mais singular. É uma meditação sobre o luto, pensado a partir do que poderia ter sido a vida da sua irmã mais velha, caso ela tivesse sobrevivido ao parto (morreu com duas horas de vida). O branco, aqui, simboliza essa fragilidade, a delicadeza, mas também as coisas mais simples. E é com um catálogo de coisas simples, todas brancas, que esta reflexão começa. — Dom Quixote, 152 págs., €14,90
Atos Humanos Um confronto com uma das memórias mais marcantes e mais fundas da juventude de Han Kang: o massacre de Gwangju, a sua cidade natal. Em 1980, a ditadura militar continuava a impor a sua brutalidade, reprimindo qualquer contestação. Nesses anos, os estudantes lutavam contra o fecho de universidades e por mais direitos. A repressão, em Gwangju, foi tão forte quanto abafada, e o romance regressa à violência, à dor, mas também à resistência. — D. Quixote, 232 págs., €16,60
Lições de Grego Um louvor da linguagem como elemento de ligação entre as pessoas, as culturas, as vidas que se reconstroem a cada momento. É, também, a linguagem que promove o encontro e a união, mesmo de polos opostos. Neste romance, um professor de Grego está a perder a visão e uma aluna sua está a perder a voz. Sentem-se os dois limitados mas também ligados pela capacidade de encontrarem novas formas de expressão. — Dom Quixote, 200 págs., €15,50
A Vegetariana Distinguido com o Man Booker International Prize (para melhor tradução publicada no Reino Unido), este foi o romance que deu projeção mundial a Han Kang, permitindo não só muitas traduções, como a revelação de um universo estranho, neste caso visceral e inesperado. Tem como protagonista uma mulher que decide tornar-se vegetariana depois de um sonho que a atormentou. A sua decisão e, sobretudo, a sua progressiva identificação com o mundo vegetal separam-na e aproximam-na do mundo de uma forma radical. — Dom Quixote, 192 págs., €16,60
Dois orgasmos. Um no início e outro a finalizar Babygirl, filme escrito e realizado por Halina Reijn, que retrata a vida de uma mulher de meia-idade na sua descoberta sexual… com muitos fétiches pelo meio.
Nicole Kidman, 57 anos, interpreta Romy, uma mulher de negócios com uma carreira sólida numa empresa de robótica e uma família estável, casada com Jacob (Antonio Banderas), homem das artes, e com dois filhos adolescentes. Ao envolver-se com Samuel (Harris Dickinson, 28 anos), estagiário no escritório, não só dá início a um caso proibido, uma história de traição, como os papéis vão inverter-se e a troca de poder é bem assumida, com Romy de gatas no chão de um vulgar quarto de hotel, a rosnar como um animal e a sentir verdadeiro prazer.
Babygirl tem dado que falar por ser mais do que um simples thriller erótico. Poderá ser uma eventual resposta à parábola sobre o desejo que Nicole Kidman protagonizou em De Olhos Bem Fechados (1999), a derradeira obra de Stanley Kubrick? É verdade que é através do erotismo que Babygirl explora as fragilidades humanas e as consequências da junção explosiva de poder e desejo no feminino depois dos 50 anos. Mas o filme mostra também como uma mulher quis ceder ao desejo para melhor se conhecer e aceitar, narrativa que só recentemente tem vindo a ser mudada nas produções de Hollywood.
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A indústria do cinema foi sempre impiedosa com as atrizes a partir do momento em que o rosto ganhava rugas e o corpo alargava as suas formas. É sabido que o preconceito da idade sempre foi um critério para os castings delas, enquanto neles o cabelo grisalho era sex appeal.
Anjos cinquentões Carla Bruni, 57 anos, de lingerie preta num desfile da Victoria’s Secret
“Quando se fala destes filmes, não estamos a falar de mulheres que nos aparecem como mulheres de 50 anos. É muito agradável pensar neste empoderamento todo e nesta representação, mas há aqui uma falácia de base: estas atrizes não têm propriamente corpos nem uma forma física que corresponda àquilo que é a norma dos corpos das mulheres destas idades”, faz notar Patrícia Pascoal, psicóloga clínica e professora na Universidade Lusófona e na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
A verdade é que há uma nova geração de atrizes veteranas que, independentemente da sua (boa) forma física, estão no auge das suas carreiras, com brilhantes performances e com os argumentos dos filmes e das séries a empoderá-las, abordando de forma aberta o desejo sexual dos 50 em diante, com a possibilidade de os romances serem com homens mais novos.
“Não acho que possamos tirar grandes ilações de representações glamourizadas das mulheres, e é isto que continua a ser a pedra de toque. Elas são válidas quando são bonitas, quando estão numa boa forma e não é disso que estamos a falar quando falamos destas representações. E, portanto, por mais positivo que seja, dificilmente alguma mulher de 50 anos considera que parece a Nicole Kidman ou outras cuja sexualidade é apresentada de forma positiva”, acrescenta a psicóloga clínica.
Menos make-up, mais poder
Apesar disso, pesos-pesados como Demi Moore e Pamela Anderson voltaram à ribalta e a mais recente gala dos Globos de Ouro e as nomeações para diversos prémios comprovam como a obsessão pela juventude começa a cheirar a bafio. A mulher loura e sensual mantém-se, mas Pamela Anderson, que corria nas praias californianas em Marés Vivas (1989), com fato de banho vermelho e peito protuberante, renasceu em 2023 com o lançamento de um livro, um documentário e ao ser cabeça de cartaz no musical Chicago, na Broadway. Aos 57 anos, desfila agora nas passadeiras vermelhas sem maquilhagem, com penteados sóbrios e corpo mais ou menos discreto – e o filme The Last Showgirl (ainda sem data de estreia em Portugal), de Gia Coppola, escrito por Kate Gersten, devolve-lhe as plumas e as lantejoulas através da personagem Shelly e da sua última atuação num clube de Las Vegas.
Com quatro décadas de carreira, Demi Moore, 62 anos, recebeu o seu primeiro Globo de Ouro pelo papel em A Substância, de Coralie Fargeat. Quando Elisabeth Sparkle, celebridade televisiva nos EUA conhecida pelo seu programa de ginástica aeróbica, se vê em decadência física, não resiste a tomar uma droga que lhe faz nascer, literalmente, uma versão mais jovem de si (Margaret Qualley, 30 anos), mas com dias de validade.
A atriz de Ghost – O Espírito do Amor (1990) e G.I. Jane (1997), há muito cancelada no meio, revela-se agora mais poderosa. O lado gore do filme, bem como as cenas de nudez, obrigaram-na a sair da zona de conforto e a plateia está a aplaudir. “Nesses momentos em que achamos que não somos inteligentes o suficiente, bonitos o suficiente, magros o suficiente, bem-sucedidos o suficiente, uma mulher disse-me: ‘Saiba que nunca será o suficiente, mas pode entender o seu valor se simplesmente deixar de lado a régua e as medidas’”, disse Demi Moore ao agradecer de galardão em riste.
Declínio Em A Substância, Demi Moore mostra comoa aparência e a juventude afinal importam e podem levar ao extremo
O ano passado foi prolífico em romances no ecrã com diferenças de idade, entre mulheres de meia-idade e rapazes mais novos: Anne Hathaway, ainda com 42 anos, em lingerie num quarto de hotel em The Idea of You; novamente Nicole Kidman em Um Assunto de Família, envolvida com Zac Efron, no papel de namorado da filha; Laura Dern, 57 anos, em Mundos Solitários, a deambular por Marrocos, de mão dada com Liam Hemsworth; Léa Drucker, 53 anos, enamorada pelo enteado de 17 anos em Culpa e Desejo.
Mas há mais, mais atrás: Julianne Moore, 64 anos, a fazer bolos sugestivos em May December; Jennifer Lopez, 55 anos, exímia na dança do varão em As Golpistas, há cinco anos; Gillian Anderson, 56 anos, como terapeuta sexual na série Sex Education e que recentemente editou o livro Desejo, uma coleção de fantasias sexuais.
Há menos de um mês, Jamie Lee Curtis, 66 anos, aceitava o desafio de Jimmy Fallon no programa The Tonight Show, para recriar a cena de Perfeição (1985), filme feito quando ela tinha 27 anos, em que a professora de ginástica trocava olhares sedutores com John Travolta durante a aula. Também vem aí Bridget Jones: Mad About the Boy, quarto filme da saga de comédias românticas, com Renée Zellweger, 55 anos, interessada em Leo Woodall.
“E, senhoras, não deixem ninguém dizer que já passaram do vosso auge. Nunca desistam”, gritou Michelle Yeoh, 62 anos, ao receber, em 2023, o Oscar pelo desempenho em Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo.
Predadoras como as pumas
Estarão as atrizes mais confiantes? Ou serão os criadores a pensar em histórias que lhes assentam que nem uma luva? A verdade é que a quota feminina atrás das câmaras aumentou. São agora muitas mais as mulheres a escreverem as histórias, a assinarem os livros e os argumentos originais, e a dirigirem e a produzirem os filmes.
A ficção sempre refletiu (sobre) a realidade e o foco que era dado ao sexo heterossexual entre casais, com as mulheres no pico da fertilidade, começa a diminuir. “Vivemos num patriarcado. Mesmo que pensemos que somos emancipados, ainda estamos presos à ideia de que as mulheres são redundantes após a menopausa”, analisa no The New York Times Halina Reijn, 49 anos, nascida em Amesterdão, cineasta de Babygirl, para explicar a ausência, no passado, de histórias sobre mulheres com mais de 40 anos. E a exceção foi sempre Meryl Streep.
A grande Naomi Foi umadas maiores supermodelos nos anos 90. Naomi Campbell, 54 anos, desfilou no ano passado para a Victoria’s Secret Foto: Daniel Dal Zennaro/LUSA
Poucas ou nenhumas produções puxam pela fase da menopausa nas histórias. É raro verem-se as personagens femininas falarem de alterações hormonais ou sofrerem de calores, suores ou hemorragias inesperadas. “Fala-se do desejo e esquecemos uma componente muito importante. A lubrificação é um processo psicofisiológico e, quando uma pessoa está perturbada emocionalmente, pode ficar comprometida. Isto é problemático, no sentido em que se pode ter dor na penetração e isto pode aparecer como um fenómeno novo nesta altura e que requer uma grande cumplicidade com os parceiros ou as parceiras”, alerta Patrícia Pascoal.
No passado recente, quando as mulheres mais velhas eram sexualmente ativas e enalteciam o prazer das suas relações sexuais, eram retratadas de forma libertina – lembra-se de Samantha Jones (Kim Cattrall) em O Sexo e a Cidade? Ou mesmo ridicularizadas, como Jennifer Coolidge no papel de “mãe do Stifler” em American Pie (1999), mas que, aos 63 anos, ganhou uma legião de fãs com uma Tanya lânguida em The White Lotus.
No mesmo artigo do jornal norte-americano, Shira Tarrant, escritora e professora de estudos sobre mulheres, género e sexualidade, diz: “Estamos finalmente a dissociar a sexualidade das mulheres dos nossos anos de fertilidade.”
Na vida real, as atrizes desta geração dão voz à causa do envelhecimento e de deixarem de ser meras reprodutoras: Naomi Watts, 56 anos, fundou a Stripes Beauty, uma empresa que oferece “soluções holísticas para a menopausa”, e Halle Berry, 58, iniciou a RESPIN, uma comunidade online focada na saúde da menopausa.
“O impacto da menopausa será tão diferente quão diferente é a relação que cada mulher tem com a sua imagem corporal e quão diferente é também o tipo de desafios com que se confronta. Existe muita investigação que suporta a ideia de que a libertação do receio de uma gravidez pode ter um efeito desinibidor”, explica a psicóloga clínica. “Também não podemos deixar de pensar como tantas mulheres se pacificam nesta altura com a pressão para terem corpos magníficos e passam a aceitar-se um pouco mais como são ou a ser mais assertivas e afirmativas, o que também é interessante. Estamos a falar, obviamente, de mulheres que não estão em situação de subjugação ou domínio dentro de uma relação”, continua a psicóloga.
Com ou sem uma aparência jovial, estas mulheres apelidadas de cougars, predadoras como as pumas, quase nunca aparecem com um corpo imperfeito – tal como mostra A Substância. Um estudo feito por Stephen Follows, analista de dados, a pedido do jornal The Economist e divulgado no ano passado, concluiu que houve 40% menos cenas de sexo nos principais filmes de 2023 em comparação com os de 2000, após visionar os 250 filmes com maior bilheteira nos EUA nestes 23 anos.
Porque estará o sexo a diminuir nos filmes? Será uma redução na intensidade do conteúdo sexual ou menos cenas sexuais, em geral? “Pode haver menos cenas de sexo, mas aquelas que aparecem são mais explícitas do que nunca”, responde o analista no seu site. Em 1992, o mundo sustinha a respiração com o cruzar de pernas de Sharon Stone em Instinto Fatal (a atriz tinha 32 anos); em 2024, tanto Fair Play como Saltburn não se inibiram de ter personagens a praticar sexo oral com a mulher menstruada.
Mais castos, os últimos dos Millennials e a Geração Z (1997-2012) não só praticam menos sexo do que os mais velhos, como também querem ver menos sexo no ecrã, de acordo com uma sondagem recente realizada pelo Centro para Académicos e Contadores de Histórias da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Quem sobra? Nós, a Geração X, muitos nos 50 anos, mais os Baby Boomers.
Lançado no dia 24 de janeiro de 2005, o álbum “LCD Soundsystem” foi a estreia oficial em álbuns da banda norte-americana liderada por James Murphy. Entre 2002-2004, lançaram diversos “singles” até à conclusão, em 2005, do álbum. Sendo “Losing my edge” o primeiro som oficial da banda, editado em 2002, que já remetia para a influência dos Daft Punk em James Murphy, “I was the first guy playing Daft Punk to the rock kids”.
O estilo musical introduzido por James Murphy já se começava a fazer sentir em Nova Iorque, com a música “House of Jealous Lovers”, música dos The Rapture, produzida pelo próprio, que iniciava o longo caminho do Dance-Punk…
O início dos anos 2000 foi um período de transformação na música e na tecnologia. As plataformas de streaming ainda corriam a meio gás e a música digital, dominada pelo iTunes e MP3, começava a moldar como as pessoas consumiam música.
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Foi neste período que surgiram bandas como os LCD Soundsystem, os Strokes e mesmo os Interpol.
O grupo de Murphy inovou e impulsionou muito para o futuro. A banda combinou o passado com o futuro. Os discos de vinil não foram esquecidos e o fenómeno das novas tecnologias não podia ficar para trás. Com isto surge, então, o primeiro álbum da banda de Nova Iorque.
Um marco na música eletrónica e alternativa, o disco capturou o espírito inquieto de uma geração e estabeleceu os LCD como um dos grupos mais inovadores e influentes do início do século XXI. James Murphy inicia todo este caminho com um objetivo centrado: acabar com a vida noturna secante em Nova York e dar a conhecer novas músicas e estilos musicais.
O primeiro álbum da banda trouxe uma fusão única de géneros, incluindo o pós-disco, o rock alternativo, o rock psicadélico e aproximações ao punk como à música experimental.
A banda passou por Portugal, pela primeira vez no LUX frágil, no próprio ano de lançamento do primeiro disco, em 2005. No ano passado estiveram no MEO Kalorama, e tudo indica que vão voltar a Portugal, para apresentar o novo álbum que sai 20 anos depois do primeiro.
Mas não foi só por aí. Após o primeiro concerto no LUX, a banda voltou ao espaço que os deu a conhecer aos portugueses. Em 2018, após concertos em Lisboa, organizaram uma festa na discoteca de Santa Apolónia. A festa auto-intulada de “LCDjs” contou com DJ set dos membros da banda, incluindo James Murphy.
Há 20 anos, os LCD deram-nos a conhecer faixas inéditas, que ainda hoje são “hits”, como “Daft Punk Is Playing at My House” ou “Temptation”, que viriam a tornar-se num clássico para todos os apreciadores de música. Letras que misturavam o humor e a ironia acabaram por ser um sucesso comercial, alcançando o primeiro lugar em diversos países.
Aclamados pela crítica, o álbum foi descrito como uma obra-prima que capturou a essência do início dos anos 2000. E com isso, ainda foram indicados para o Grammy na categoria “Melhor Álbum de Música Eletrónica”. Um feito atípico, visto que a banda estreara-se recentemente.
A combinação única de sons vintage e modernos faz com que o álbum ainda apareça nas listas de “Melhores Álbuns da Década”, porque, no final do dia, nunca se desatualizou…
Na verdade, quem é que não continua a passar um disco dos daft punk em casa?
Duas décadas depois, a banda não parou. E continuou a lançar álbuns. O sucesso inicial ajudou a solidificar o legado da banda, que hoje conta com faixas como “All My Friends” e “Dance Yrself Clean”.
Para 2025, os fãs querem mais “hits”, e por isso, citando os próprios em resposta aos fãs e à indústria da música:
“You wanted a hit
But maybe we don’t do hits
I try and try
It ends up feeling kind of wrong”
….
“So leave us, leave us on our own
And so you wanted a hit
Well this is how we do hits
You wanted a hit
But that’s not what we do”
Perfeitas, ou imperfeitas, as músicas dos LCD são características, não se desatualizam e continuam a surpreender pelo mundo fora. Seja em 2005, em 2025, ou em 2035, os LCD vão continuar a ser eles próprios, e é isso que os distingue de muitos.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
Miguel Arruda é o nome mais falado esta semana. Deverá ser também o nome mais pesquisado no Google, nas redes sociais e outras plataformas. Também é inspiração para o marketing de muitas empresas e memes. Diria que teve esta semana os seus (segundos) 15 minutos de fama, que se estão a prolongar no tempo.
Eleito pelo círculo dos Açores, Arruda é conhecido por ser um dos deputados mais barulhentos do Chega e por gostar de sentenciar nas redes sociais. No momento em que escrevo este texto sabemos que não acatou a vontade do líder do seu partido, para que renunciasse ou suspendesse mandato, e acabou a desfiliar-se do Chega. Passou a ser deputado não-inscrito.
Arguido por suspeita de furto qualificado, deu entrevista a um canal televisivo e, pasme-se, entre outras mensagens sugeriu que as imagens de videovigilância poderiam ser manipuladas. Entretanto, fez saber que vai meter “baixa psicológica” e regressar aos Açores.
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A forma como Miguel Arruda se defende, se justifica, ou se resguarda é-me indiferente. É um cidadão, com profissão “Político”, suspeito de praticar algo ilícito, tal como o foram no passado Isaltino Morais, Armando Vara, José Sócrates, Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro ou o antigo chefe de gabinete do ex-primeiro ministro Vitor Escária.
O que não me é indiferente é o facto de não haver nada no Regulamento da Assembleia da República que permita a um partido expulsar ou suspender o mandato de um deputado eleito quando a este é apontado algo gravoso.
Bem sei que é apenas arguido. Mas, fará sentido Miguel Arruda continuar a representar o povo, na Casa do Democracia, quando há registo efetivo da prática de uma ação tão rude? Para mim, não faz qualquer sentido Arruda ou outro deputado em situação semelhante poder continuar a representar o povo, quando na verdade não respeita esse mesmo povo.
Direito à defesa é uma coisa, presunção de inocência outra, mas eu tenho uma certeza, depois daquela entrevista televisiva, depois de tanta contradição, o mínimo, era suspender este deputado, até os factos estarem apurados.
O legislador parece andar adormecido. Foi assim no caso no lóbi, foi assim em outros casos. Até quando?