Tinha pensado dedicar este espaço à conferência de imprensa que o primeiro-ministro deu, esta semana, em pleno horário nobre, e que me fez pensar sobre o valor desta ferramenta de comunicação. Afinal, a última vez a que assistimos a algo semelhante foi para o então primeiro-ministro anunciar a sua demissão. Ou seja: crise à vista.
Desta vez não havia crise. A conferência de imprensa foi para anunciar um investimento, um reforço de 20 milhões de euros para a PSP e para a GNR, e o alerta de que a segurança no País não é um dado adquirido. Por força das notícias que vamos lendo, dá-me vontade de concordar com o alerta. Mas, será que se justifica convocar uma conferência de imprensa à moda antiga?
Escrevia que tinha pensado abordar a conferência de imprensa, mas perante o circo que se viveu na Casa da Democracia não resisto a dar nota negativa ao líder do Chega e ao Presidente da Assembleia da República.
André Ventura esteve mal. Esteve muito mal quando, numa total falta de respeito pela Casa da Democracia, desfraldou faixas nas janelas de S. Bento, numa reação à aprovação da medida que põe fim ao corte de 5% nos salários de titulares de cargos políticos e gestores públicos. É certo que Ventura opta sempre pelo populismo, que é graças às mensagens populistas que tem construído o seu partido político. Mas, vandalizar a fachada da Casa da Democracia é que não!
Imagine-se o que seria se todos os partidos fizessem igual! Acredito que rapidamente teríamos um Palácio de S. Bento instagramável e em certa medida a concorrer com a Pont des Arts, em Paris.
Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, esteve mal. É certo que zelou pelo bem público e fez cumprir a lei, mas não teria sido suficiente a suspensão dos trabalhos até que o Chega retirasse as faixas de protesto, ao invés de ter bombeiros a subirem às janelas de S. Bento? Ou em antítese, continuar a votação do orçamento, tudo menos aquela discussão que só alimenta o tempo de antena do Chega.
Terminada que está a etapa do primeiro Orçamento de Estado da era Montenegro fica o sabor agridoce para os combates que se avizinham, num Parlamento que deveria estar unido a bem do País. No entanto, o que temos é cada partido, cada deputado a olhar para o umbigo e a esquecer que ser político é resolver os problemas que outros não resolvem.
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