Num testemunho em tribunal, para o caso dos remédios contra a posição monopolista da Google, o vice-presidente da Apple Eddy Cue confirmou que a empresa está à procura de soluções que tragam Inteligência Artificial (IA) para o navegador Safari. O aumento destas soluções fez com que, pela primeira vez, o número de pesquisas Google feitas com o Safari tenha descido: “nunca aconteceu em 22 anos”, contou o executivo.

O vice-presidente explicou que as soluções de IA existentes no mercado ainda não são suficientemente boas para o que a Apple pretende e confirmou que já decorreram conversações com a OpenAI, com a Perplexity e com a Anthropic. Recorde-se que, em agosto do ano passado, a Apple anunciou uma parceria com a OpenAI para integrar o ChatGPT em alguns dos seus produtos. Cue também quis garantir que a empresa tinha a capacidade de mudar de ‘fornecedor’, caso surgisse uma alternativa a liderar o segmento da IA.

De acordo com o Gizmodo, os mercados não parecem ter gostado da revelação de Cue em tribunal sobre a IA e os preços das ações da Alphabet (dona da Google) e da Apple baixaram nesse dia, 8 e 22% respetivamente.

Executivos da Yahoo, da Microsoft e da OpenAI também vão testemunhar neste caso em tribunal durante a fase de remédios, onde a Google é acusada de manter uma posição monopolista no que toca a publicidade online.

A Netflix confirmou que a nova versão da app para TV vai começar a ser disponibilizada “nas próximas semanas e meses” globalmente. Nesta nova versão, as principais novidades concentram-se na interface de utilização, com diferenças substanciais face ao que se vê atualmente.

Eunice Kim, responsável de produto da Netflix, conta que “a nossa página de entrada redesenhada para TV é mais simples, mais intuitiva e representa melhor o entretenimento disponível na Netflix hoje (…) e é melhor na coisa mais importante, que é ajudar os nossos membros a encontrar facilmente as séries, os filmes, os eventos ao vivo e os jogos que adoram”, lê-se no comunicado de imprensa citado pelo The Verge.

A aba Home mostra um grande anúncio central onde se sugere algo para o utilizador ver. Ao deslizar para baixo, há filas com diferentes conteúdos como “Ver a seguir”, “As Escolhas de Hoje para Si” e “Conteúdos Exclusivos”, com ícones como “Adicionado Recentemente” ou “Vencedor de Emmy” a serem apresentados junto de cada conteúdo para ajudar o utilizador a identificar melhor o que pretende ver.

Na nova interface, os atalhos foram movidos para uma secção mostrada no topo do ecrã.

Os testes a este novo desenho começaram no ano passado e a Netflix está a apostar em captar as atenções dos utilizadores para conteúdos ao vivo e em jogos em streaming para a TV. Para os utilizadores das versões mobile, está a ser testada a possibilidade de haver reprodução de vídeos na vertical.

A responsável tecnológica Elizabeth Stone confirmou ainda que a plataforma vai trabalhar melhor com “recomendações responsivas” que interpretam melhor mais sinais de comportamento do utilizador para sugerir o que ver depois. Por exemplo, se o utilizador pesquisar por comédias românticas e Glenn Powell, a página de entrada pode aparecer ajustada para se adequar a estas preferências, mesmo que o utilizador não faça nada proactivamente.

As H3 Health Cubes são uma proposta da canadiana UniDoc Health para fazer chegar postos clínicos conectados em contentores a um maior número de utentes. A clínica é na verdade um contentor na forma de um cubo, conectado à Internet, acessível para pessoas em cadeiras de rodas e pode ser usado em farmácias, centros comunitários, instituições governamentais ou instalações de cuidados primários. Os cubos podem ser colocados em ambientes interiores e exteriores.

Em vez de ser necessária uma consulta presencial com um médico no seu gabinete, o utilizador pode entrar no cubo e ter uma videoconferência com um profissional de saúde e, dependendo no que precisa de ser examinado, pode ser feito um diagnóstico remotamente ou dadas as instruções a um farmacêutico ou outros especialistas clínicos sobre o que fazer para assistir aquele utente.

Cada unidade está equipada com um sistema de comunicações de alta definição e instrumentos clínicos como um estetoscópio ou aparelho de medição da tensão arterial e há a possibilidade de os configurar com aparelhos mais avançados como ultrassons abdominais, eletrocardiogramas e tomografias axiais computadorizadas, além das análises convencionais de sangue.

Entre cada utilização, o cubo é esterilizado com recurso a um sistema de ultravioletas, explica o New Atlas.

O conceito já tinha sido apresentado em 2022 e a UniDoc Health revela que já enviou agora as três primeiras unidades para regiões de conflito na Ucrânia e em Gaza para serem usadas pela fundação italiana Aiutamoli a Vivere, uma unidade para a cidade de Aliano em Itália e uma terceira unidade para o hospital pediátrico em Okhmatdyt, na Ucrânia.

Em Janas, chamam “cantina” a este lugar que serve comida simples, saudável, generosa e de conforto, a preço económico. A Aldea Coop – que junta, na mesma casa, restaurante e cafetaria, mercearia de produtos biológicos e drogaria – foi o caminho natural depois da Eco Aldeia de Janas ter começado a vender os primeiros cabazes de frutas e hortícolas biológicos em 2018.

Afonso David é um dos mentores da Aldea Coop, mercearia de produtos biológicos e restaurante no centro de Janas, onde faz fila para comprar o pão saloio

É preciso recuar a 2010, quando Afonso David e outros engenheiros do ambiente criaram a Associação Dólmen para dar formação na área da sustentabilidade e ecologia e fazer uma ecoaldeia perto de Lisboa. “Janas tinha todo o potencial por manter preservada a estrutura de uma aldeia. Não está descaracterizada e tem comércio local com três padarias, três mercearias, uma churrasqueira famosa, uma loja de animais, escritórios de arquitetura e de engenharia abertos ao público, o showroom das Velharias de Janas. É uma comunidade completa”, descreve Afonso.

Na verdade, são os atuais mil associados, na sua maioria estrangeiros radicados na região, que “gerem” a Aldea Coop. São eles também os principais clientes dos produtos de agricultura biológica provenientes de três quintas, uma com alojamento local (com capacidade para 20 hóspedes), uma com vinha e outra com horta. A este tudo-em-um foi recentemente acrescentado, a pedido dos sócios, a loja de artesanato com mobiliário e objetos de decoração, desde as cadeiras de tesoura de Monchique a artigos feitos por uma fiadeira local. Segue-se uma plataforma de serviços variados, feita de associados e para associados.

Pão com manteiga de regalar

Em frente à Aldea Coop, a tal “cantina”, numa garagem aberta à beira da estrada, há mais de 40 anos que ali funciona a Padaria da Carlota, com o pão saloio em formato grande, médio, pequeno e bolinha. Simples, feito de água, farinha e sal, num dos dois fornos a lenha onde Carlota Vicente, hoje com 87 anos, chegou a fazer 22 fornadas por dia.

Há mais de 40 anos que a Padaria da Carlota, em Janas, fabrica pão saloio em formato grande, médio, pequeno e bolinha

“Até regala comer uma fatia de pão com manteiga”, diz Carlota enquanto nos mostra o forno de pedra. Nascida e criada em Janas, começou por fazer bolos quando trabalhou numa padaria, antes de emigrar para Inglaterra e deixar um forno montado na garagem em frente à casa onde continua a morar. Hoje, é o filho de 53 anos a levar o negócio para a frente. Fica mesmo ao lado da famosa Churrasqueira de Janas, de Pedro e Lúcia, onde tudo o que sai das brasas é bom, do frango ao coelho, das “gaitadas” (pianinho) às espetadas.

Ao comércio tradicional têm-se juntado vizinhos recentes, como a Hula Concept Store, em frente à loja de animais e junto ao talho, com originais coleções de roupa, bijuteria e acessórios, mais estúdio para workshops e aulas de pilates e ioga.

Cabrito assado, do melhor

De Janas até Nafarros é um pulinho, em registo de passeio por uma estrada de terra batida, um atalho florido e repleto de canas altas e esguias. Num instante, estacionamos à porta da Adega do Saraiva, um clássico com mais de 60 anos de história. Quem aqui vem divide-se entre escolher o cabrito assado, cozido à portuguesa, bacalhau assado na brasa ou algum dos substanciais pratos do dia: cabidela e polvo à lagareiro (terça), cozido (quarta, sábado e domingo), pataniscas de polvo, mãozinha de vitela com grão (quinta), caldeirada de peixe, favas com entrecosto ou dobrada com feijão branco (sexta).

Cabrito assado da Adega do Saraiva. Foto: Marcos Borga

É num ambiente rústico e sempre recebidos com muita amabilidade que Maria João, 68 anos, e o marido, João Pedro, filha e genro do fundador, dão continuidade à tradição. É impressionante perceber como uma pequena adega, que começou por servir sandes e copos de vinho, cresceu para três salas e 140 lugares tão disputados. A culpa foi do senhor António Saraiva e da dona Emília, que só há alguns anos passou o segredo do tempero do cabrito à filha. Ficamos a saber que não tem grande marinada e mais não nos contam.

Trabalhos manuais

Com o sol à espreita, é sempre de aproveitar para fazer um passeio. Próxima paragem: Almoçageme, na freguesia de Colares. A praça central, Largo Comendador Gomes da Silva, com coreto e fontanário, é também morada da igreja do século XVIII, consagrada a Nossa Senhora da Graça, há mais de 250 anos, com uma celebração em sua honra sempre no mês de outubro. No fim da época balnear, agradecem-se as colheitas da época e pede-se abundância para o ano agrícola seguinte.

Caminhando pelas ruas, descobre-se o Mãe-Terra, bistrô ovolactovegetariano e vegano com brunch, num cenário minimalista e contemporâneo. O mesmo género da Auake (lê-se “awake”, significa despertar em inglês), loja e estúdio de cerâmica onde Soraia Serrano, 38 anos, dá aulas e asas à sua criatividade.

Há um ano, Soraia Serrano abriu em Almoçageme o Auake, ateliê de cerâmica onde ensina a moldar o barro

Depois de vários anos como assistente de bordo na aviação privada, chegando a voar com a família real saudita no Qatar e também em África, a ceramista abriu, há um ano, o seu ateliê, pronta para passar conhecimento, lado a lado com o seu par, Clément Rue, 32 anos, parisiense responsável pela imagem do estúdio.

Ainda com poucos clientes portugueses, são os estrangeiros que vieram para aqui morar (ingleses, alemães e ucranianos) que frequentam os workshops e o curso intensivo. “Quando dou uma aula, deixo a pessoa fluir na sua criatividade”, explica. Soraia Serrano tanto faz objetos utilitários (colheres, taças…) como peças decorativas (as jarras são as suas preferidas).

Trabalhar com a cor é uma novidade no seu percurso. Prefere a simplicidade do branco, daí só usar barro cinzento, que lhe transmite a sensação de serenidade, em contraponto com a anterior vida muito agitada. Em 2026, Soraia prevê ter uma roda de oleiro e começar a ensinar outra técnica, será “como aprender uma língua nova”.

À porta da Auake, Soraia e Clément contam como Almoçageme, tal como acontece em Janas, funciona como um microcosmo em que vários grupos no WhatsApp ajudam a colmatar algumas necessidades. Por exemplo: Soraia encomenda pão ao inglês Charles (C’Alma) e vai depois buscar a sua casa; quando quer comida indiana caseira, tem o contacto de um rapaz que a confeciona e leva-lhe à porta.

Seguindo em direção à praia da Adraga, mais abaixo do Auake, fica o Adraga Atelier, também dedicado à cerâmica, e, acima, a Dolomite, geladaria artesanal que começou no Areeiro, em Lisboa, e passou pela Praia das Maçãs, antes de se instalar em Almoçageme.

Vinho de chão de areia

Esta é a mesma aldeia da Adega Viúva Gomes, a mais antiga da região, armazém de vinhos com mais de dois séculos, num edifício com pináculo de 1808 em frente à igreja. Está há mais de 30 anos na família de José e Diogo Baeta, pai e filho, focados “em valorizar os pequenos terroirs dentro da Região de Colares”. As uvas para o DOC (Denominação de Origem Controlada) Colares crescem em solos arenosos, de vinhas plantadas em pé-franco, maioritariamente com as castas autóctones Ramisco, nos tintos, e Malvasia-de-Colares, nos brancos, as únicas que graças às raízes fundas resistiram, em 1865, à praga da filoxera. Uma paisagem imperdível nas dunas entre as Azenhas do Mar e Fontanelas, terra de maçã reineta, que vale a pena visitar, como aconselha Afonso David da Aldea Coop. Perto, está Gouveia, apelidada de “aldeia em verso”, onde as placas toponímicas expõe as rimas de José Valentim Lourenço (1941-2002), poeta popular e fundador do Grupo de Teatro de Fontanelas e Gouveia.

Carlos Mendes, responsável pelo enoturismo da Quinta de San Michel, em Janas, produtora de vinhos brancos 

Por enquanto, os vinhos da Quinta de San Michel, em Janas, ainda não são DOC, mas para lá caminham. Há dois anos, junto à praia da Aguda, próximo de Fontanelas, plantaram vinha em chão de areia.

“Estamos num planalto, a meia cota da serra de Sintra, a um quilómetro em linha reta do mar, expostos à frescura dos ventos atlânticos e à salinidade do mar, com solos argilo-calcários que lhes confere mineralidade”, descreve Carlos Mendes, responsável pelo enoturismo. O produtor Joaquim Camillo e o enólogo Alexandre Guedes, sogro e genro, são os promotores desta quinta de pequena dimensão, com vinha em cerca de quatro hectares, desde 2013.

Produzem quatro vinhos que estão nos antípodas uns dos outros: enquanto a Malvasia-de-Colares dá vinhos com “mais fruta, mais floral e tropical”, o Arinto é um “bicho selvagem, cítrico e mineral”. “Temos um blend único no País de Malvasia e Arinto, o Malvarinto de Janas, mesmo longe da areia, mas ainda assim fresco”, resume Carlos.

Esta pequena produção de brancos, incluindo um vinho de curtimenta feito com contacto pelicular, encontra-se em restaurantes com Estrela Michelin como Belcanto, Alma, Feitoria e 50 Seconds, todos em Lisboa, e restaurantes locais como o Adraga e o Nortada. “Já somos um pouco outsiders, mas queremos estar na aldeia”, afirma.

O espumante feito através do método clássico tem por agora a terceira edição esgotada. “Quem tem Arinto em casa e faz espumante com Malvasia-de-Colares é porque gosta de arriscar”, brinca.

A garrafeira Terroir Wines de Emília Pinto, na Terrugem, faz questão de ter referências locais e os vinhos da Quinta de San Michel não faltam. Aberta no final de 2021, com vinhos de vários produtores do País, a garrafeira prima pela regionalidade com mel do Magoito e mel Abmel, o gin Cacimba, de Gonçalo Fonseca Xavier e José Ribeiro Corrêa, feito com botânicos da serra, desde a típica maçã reineta de Fontanelas, eucalipto, louro e pêssego rosa. Às terças e sábados (7h-17h), quem for à Terroir tem oportunidade de abastecer-se no mercado de frutas e legumes ao ar livre.

A Souldough Pizza abriu em Colares, no terraço HopSin Brew Pub, fabricante de cerveja artesanal

Um jardim só para nós

Nascido e criado no Magoito, o cervejeiro Sérgio Pardal continua a ser um dos empreendedores da região. Pela sua mão, em 2019, o edifício da antiga estação do elétrico em Colares reabriu para albergar um bar e fábrica de cerveja artesanal. Vale a pena descer naquela paragem e fazer um brinde no HopSin Brew Pub.

Cinco torneiras são fixas, as outras cinco mudam consoante as suas criações, tendo ganho em 2022 o selo “Made in Sintra”.

Quinta da Ribafria (século XVI) aberta ao público há uma década, tem 13 hectares de jardins e bosques

Agora, os 120 lugares no terraço com esplanada ganharam uma nova parceria. As pizzas de fermentação lenta da Souldough, que se cortam à tesoura e comem-se sem talheres, são feitas à boa maneira de Nápoles: massa fina no meio e rebordo (o chamado cornicione) alto e fofo, e com poucos ingredientes. Depois da estreia em 2018 na Aldeia da Praia, a caminho da Praia das Maçãs, a Souldough abriu uma segunda morada em Cascais, e agora, há cerca de três semanas, tomou conta desta esplanada.

Daqui seguimos para um jardim improvável, longe de atrações turísticas como a Volta do Duche ou o Parque de Monserrate. No jardim de buxo, o aroma a rosas é inebriante. As aves, a falarem de uma árvore para a outra, interrompem o correr do rio de Colares, e nós caminhamos de devagarinho, aproveitando a Natureza.

Na estrada para a Várzea e o Lourel, a Quinta da Ribafria (século XVI) está aberta ao público há uma década, gerida pela Fundação Cultursintra, a mesma da Quinta da Regaleira. São 13 hectares de jardins e bosques, com um solar de estilo renascentista (1541), com um torreão de inspiração medieval e o escudo dos Ribafria, os antigos alcaides-mores de Sintra.

Nuno e Luísa Morgado sempre andaram por estas bandas. Entre 2013 e 2016, mantiveram a Casa Madalena no Carrascal, quando petiscar era uma modernice. Há nove anos, mudaram-se para a Várzea e as receitas tradicionais portuguesas com toques de Moçambique, Angola e Índia (as origens de Luísa) foram evoluindo para pratos requintados, cheios de aroma e sabor, como o cabrito com canela e cravinho, rissóis de berbigão em massa de tinta de choco, açorda de tomate com gambas, caril de gambas, bochecha de porco preto, arroz de polvo, sarapatel (petisco goês feito com miudezas, de origem alentejana), mousse de requeijão com doce de abóbora caseiro.

No restaurante Casa, na Várzea, Nuno e Luísa Morgado apostam em sabores portugueses com um toque de Moçambique, Angola e Índia

As mesas nos nichos são as mais requisitadas e a sala ao fundo, com seis grandes mesas redondas, ideal para convívios. No teto e paredes há panelas a fazer de candeeiros, tachos e tachinhos, cadeiras de pernas para o ar, balança, púcaros e termos, tudo de outro tempo. Nenhum objeto que decora a Casa foi comprado, veio da casa de familiares, amigos e também clientes, que arriscam levar exemplares únicos de pratos e orgulham-se de os ver expostos na parede. “Metade do sucesso de um restaurante é a comida, os outros 50% é o serviço”, resume Nuno. Conferimos e aprovámos. 

FAZER

Quinta de San Michel Estr. de Janas > T. 91 399 2167 > Provas, às 11h e às 15h, com marcação prévia: visita guiada com prova de 2 vinhos + 1 espumante €32, com prova de 3 vinhos brancos €28

Adega Viúva Gomes Lg. Comendador José Gomes da Silva, 2-3, Almoçageme > T 96 724 8345 > Provas às quartas 11h30 e 14h30, primeiro sábado de cada mês 16h, com marcação prévia, prova aberta com 4 vinhos €35

VER

Quinta da Ribafria Estr. da Várzea > T. 21 910 6650 > abr-set seg-dom 10h-19h, jan-mar, out-dez 10h-18h

COMPRAR

Terroir Wines R. da Aviação Portuguesa, 125, Loja A > T.  21 936 3740 > ter-sáb 10h-13h, 15h-19h > mercado de frutas e legumes à terça e sábado 7h-17h

Padaria da Carlota R. da Ponte, 4, Janas > T. 21 928 2590 >ter-dom 7h-13h

Churrasqueira de Janas R. da Ponte, 2, Janas > T. 21 929 0064 > ter-sex 17h-21h, sáb 9h30-14h, 17h-21h, dom 9h30-14h, 17h-20h

Hula Concept Store R. do Marco, 3, Janas > seg-sáb 9h30-13h, 14h30-19h

Auake R. da Praia da Adraga, 26, Almoçageme > T. 21 929 2487, 91 696 3383 > ter-dom 11h-19h30 > workshops sábados e domingos, 11h-13h ou 15h-17h, €45

Aldea Coop Lg. Visconde da Asseca, 6A, Janas > T. 21 135 2699, 93 461 4319 > seg-dom 9h-20h

COMER

Adega do Saraiva Lg. do Paquete, 3, Nafarros > T. 21 929 0106, 93 448 0110 > 12h30-15h30, 19h30-22h (exceto domingo jantar e segunda)

HopSin Brew Pub e Souldough Pizza Av. do Atlântico, 1, Colares > T. 21 928 3512 > seg, qua-dom 15h30-23h, novo horário a partir de maio seg, qua-dom 12h30-23h; Terraço pizzas sex 18h30-22h, sáb-dom 12h30-15h30, 18h30- 22h

Petiscaria Casa R. Dom António Correia de Sá, 2, Várzea > T. 21 924 3104, 96 399 2994 > seg, qua-sáb 12h-15h, 19h-22h30, dom 12h-15h

É o conclave, no Vaticano, que mais ocupa a agenda mediática por estes dias, mas é de um enclave que aqui quero falar hoje. Gaza. E aí, o fumo, negro ou branco, tem sido quase sempre sinal de ataques brutais do exército israelita.
O mundo tem convivido, nos últimos meses, anos, com situações de violência extrema nesse pedaço de terra entalado entre o Mediterrâneo e Israel. Hoje, é difícil ver na atitude do governo  israelita o “direito à defesa” sempre invocado, e sublinhado depois dos terríveis ataques perpetrados pelo Hamas a 7 de outubro de 2023. A população de mais de dois milhões desse enclave tem sobrevivido em condições extremas, agravadas pelo bloqueio à ajuda humanitária imposto desde março por Israel. Neste preciso momento, a vida dos palestinianos de Gaza é uma luta, hora a hora, pela sobrevivência, por um mínimo de dignidade, entre ruínas. E é com espanto que se ouvem as decisões oficiais de Israel para os próximos tempos: “Um ataque em larga escala e o movimento da maioria da população da faixa para protegê-los numa área estéril do Hamas”, sintetizou o general Brig Efi Dufferin, porta-voz militar israelita. Depois da destruição, promete-se mais destruição, “em larga escala”, enquanto se bloqueia toda e qualquer ajuda exterior. É a severa punição de toda a população que está aqui em causa. 

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Talvez nada resuma de forma tão sintética os tempos que vivemos, como o momento em que Donald Trump, em 2016, após a vitória nas primárias do Nevada, afirmou: “Adoro os pouco instruídos” (“I love the poorly educated”). A multidão aplaudiu, incapaz de se sentir insultada.

E, no entanto, estamos todos progressivamente a perder a capacidade de ler textos complexos, de selecionar de forma crítica o verdadeiro do falso, de demonstrar empatia pelo outro.

O fenómeno não é novo, mas agudiza-se à medida que, diariamente, consumimos, mais de 34 gigabytes de informação (o equivalente a 100 mil palavras), consultamos os nossos telemóveis dezenas de vezes ao dia, e saltamos, entre ecrãs e dispositivos. Lemos, mas não retemos. Passamos os olhos no ecrã, em busca das palavras-chave – o princípio, o meio e o fim do texto – uma leitura em “F”, onde os argumentos, que nos permitem questionar e compreender, se perdem. Stanley Kubrick preocupava-se não com o facto de os computadores ficarem mais parecidos com o ser humano, mas o oposto… Hoje, quantas vezes nos sentimos um motor de busca a selecionar extratos de informação, para incluir num memorandum ou relatório?

Ficámos mais eficientes, mas mais frágeis na nossa capacidade de analisar de forma crítica a informação que nos chega. A informação, ao invés de nos dar conhecimento e poder, distrai-nos, entretém. Os nazis, pioneiros na propaganda, queimaram livros e distribuíram rádios a pilhas.

O meio digital contaminou a nossa forma de ler. Tornou-se mais difícil “ler profundamente” (deep reading como lhe chamam os neurologistas). Imergir no texto e, no processo, ser transportado para a realidade do autor, percorrer as ruas com as suas personagens, viver com elas as alegrias, angústias, vitórias e derrotas. Quando a história nos captura, é hoje mais provável ler como se de um filme se tratasse, acelerando para o final, do que vivenciar com a personagem os seus pensamentos e ações.

Podemos dizer que é apenas o sinal dos tempos, que verdadeiramente não altera as nossas capacidades, mas a neurociência já provou que não. O cérebro humano não está biologicamente programado para ler, como está, por exemplo, para aprender a falar ou ver. Aprender a ler é um processo complexo, que altera a estrutura do cérebro, obrigando a novas ligações entre sinapses e a reutilizar de forma diferente partes do cérebro biologicamente pré-programadas para outras tarefas. E saber ler não é o mesmo que ter um elevado nível de literacia. Tal envolve um esforço, que só o tempo e a atenção permitem e que só a persistência mantém. Hoje, parcelamos a nossa atenção, e, como tal, o tempo de concentração de que somos capazes tem vindo a diminuir.

Os estudos confirmam que os fatores ambientais estão a causar uma sociedade com défice de atenção. A somar ao stresse que sentimos, a nossa perda coletiva da capacidade de empatia, de compreender o outro e as razões que o movem. A neurociência demonstrou aquilo que sabíamos intuitivamente, quando lemos e relemos um livro que nos apela particularmente, o nosso cérebro e o nosso corpo vivem com a personagem as suas aventuras e desventuras, e isso transforma-nos como pessoas. Ler torna-nos mais humanos, porque vemos o mundo de muitas perspetivas, saímos da nossa realidade e somos capazes de compreender melhor aqueles que estão ao nosso lado, mas também os que habitam mundos, que sendo distantes do nosso, vimos todos os dias, na rua, no ecrã do telemóvel ou da televisão, mas que apelidamos de “outro”, “estrangeiro”, “imigrante”, “refugiado”. Retomar a leitura profunda exige esforço e tempo. Reeducar o cérebro. Mas quando, finalmente, aceitamos que já não somos o leitor que fomos na nossa adolescência – num tempo pré-smartphones –, estamos preparados para fazer o esforço, e lentamente recuperar o poder de viajar, sem sair de casa. Estamos também cognitivamente mais resilientes, individual e coletivamente, para resistir às investidas daqueles para quem os “pouco instruídos” são adoráveis…

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A 25 de Abril de 2021, nos jardins da Residência Oficial de São Bento, o então primeiro-ministro, António Costa, condecorou Sérgio Godinho com a Medalha de Mérito Cultural. O projetado concerto de fim de tarde fora previamente gravado, devido às restrições impostas pela pandemia, e transmitido nas redes sociais do governo. Não estávamos em período eleitoral e Sérgio Godinho, como anotou António Costa, era, consensualmente, uma voz de Abril e, portanto, politicamente correta o suficiente para que ninguém ousasse acusar o governo de estar a retirar dividendos da celebração, abusando do poder e das instalações oficiais do Estado, mantidas por todos nós.

Tony Carreira, por seu turno, não se notabilizou – como Sérgio Godinho – pela resistência à ditadura, até porque, em abril de 1974, tinha apenas 10 anos. A arte simplória – alguns diriam “alienante” – de Tony Carreira podia perfeitamente ter medrado durante o Estado Novo, sem nenhum aperto da censura nem qualquer restrição política. Ele é o representante perfeito da forma musical que a Revolução execrou: o “nacional cançonetismo”. Na verdade, a “utilização” de Sérgio Godinho e a de Tony Carreira, tal como a de Cristiano Ronaldo ou a dos campeões nacionais recebidos nos Paços do Concelho de Lisboa ou do Porto, servem exatamente o mesmo propósito: a projeção política de quem os homenageia, convida ou condecora. Quem nunca? Todos os líderes partidários tiveram os seus artistas, cantores, atores ou intelectuais de serviço. E todos os primeiros-ministros, numa ou noutra altura, os usaram, alguma vez, para promoção própria, o que resulta em notoriedade e satisfação da húbris para as duas partes. Acontece que uma certa elite de esquerda (e não só elite) não perdoa a Montenegro ter “conspurcado” o 25 de Abril e o 1º de Maio, dois em um, com a atuação de um cantor popularucho, sem substância nem pergaminhos de “ativista”, ainda por cima, acusado de plágio, e confesso apoiante de um PSD que, alegadamente, assobia para o lado sempre que se comemoram estas datas. Montenegro teria feito uma “apropriação cultural” do 25 de Abril, ainda para mais, de forma populista. Sérgio Godinho, que aceitou o convite de Costa, não aceitaria um convite de Montenegro (que, aliás, dificilmente o condecoraria). Mas se fosse Sérgio a escolha, o primeiro-ministro não teria sido criticado (exceto pelo Chega). Tony Carreira representa, para os críticos, a alienação do povo. Também Estaline, através do Sindicato dos Escritores, tornou proscritos escritores como Boris Pasternak (impedido pelas autoridades soviéticas de receber, presencialmente, o Prémio Nobel da Literatura, em 1958, já depois da morte do vozhd) ou poetisas ímpares como Anna Akhmátova ou Marina Tsvetáieva, porque a sua escrita era sentimental, subjetiva, individualista e não estava ao serviço da Revolução. Ora, mal ou bem, este Tony Carreira, não sendo um Nobel, é do povo. Tal como o 25 de Abril. E não podemos seguir o conselho de Bertolt Brecht e mudar de povo.

Tony Carreira, que reincidiu, aparecendo a fazer vídeos de promoção do cabeça de lista da AD por Portalegre, Castro Almeida, é um trunfo potente, em campanha. Ele não iria, como Carlão, Tim ou Ana Bacalhau, à Festa do Avante!, mas o PSD tem direito ao seu artista de estimação (e de cassete pirata), como outros partidos têm direito aos seus artistas de playlist. Isso diz alguma coisa do PSD. Mas a democracia também liberalizou o mau gosto. O problema, portanto, não está em Tony Carreira, mas na confusão total que o Executivo está a fazer entre funções governativas e campanha partidária. (Joana Amaral Dias, candidata do ADN, embora tomada, nos últimos anos, por alguma chalupice, em matéria de teorias da conspiração, acusou Luís Montenegro ter usado viaturas do Estado, para não chegar atrasado a um compromisso… partidário. Não foi desmentida). Tony Carreira em São Bento foi uma pura e simples ação de campanha eleitoral, aproveitando uma data oficial, num edifício público representativo da soberania do Estado. O problema não é, pois, Tony Carreira, nem Tony Carreira no 25 de Abril, ou no 1º de Maio. Aliás, muitos trabalhadores e, especialmente, trabalhadoras humildes, se terão sentido atingidos(as) pelo desprezo talibânico a um ídolo cujas músicas trauteiam de cor. O problema não é, então, o “menino” nem o seu sonho. O problema é Luís Montenegro e as suas confusões. Entre Estado e partido. Como entre governação e negócios. Já agora, se a AD tivesse apostado em Tony Carreira como cabeça de lista por um dos círculos da Emigração, então sim, teria prestado um serviço ao 25 de Abril, roubando um deputado ao Chega. Isto teria sido esperto. Não chico-esperto.

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Tal como vem descrito no Antigo Testamento, no Dia da Expiação (o Yom Kippur hebraico), dois bodes eram levados em sacrifício ao Templo de Jerusalém. Um era sujeito a holocausto, consumido pelo fogo; ao outro eram dados, simbolicamente, todos os pecados do povo de Israel, sendo depois “deportado” para o deserto, para morrer à míngua, vergado pelo peso da culpa dos outros.

A figura do bode expiatório é uma presença constante na história política ocidental. “Alguém tem de pagar”, ouvimos uma vez a um sincero José Mourinho, depois de uma derrota do Futebol Clube do Porto, avisando já o próximo adversário de que a disputa ia ser feia.

Os judeus foram o bode expiatório de uma Alemanha em crise nos anos 30, devastada pela Grande Depressão, com milhares atirados para o desemprego. Adolf Hitler não se limitava a pregar a superioridade da raça ariana – os judeus eram acusados de oprimir os trabalhadores alemães, como detentores dos meios de produção. A imagem do rico sovina.

O povo judeu, durante o nazismo, sofreu o destino dos dois bodes. O expiatório traduz uma necessidade primária e infantil de responsabilizarmos o outro pelos nossos problemas. O outro torna-se um inimigo e, para o populismo, não há nada tão eficaz como um inimigo comum para desviar as atenções dos verdadeiros problemas.

Os imigrantes têm sido o bode expiatório do mundo ocidental. E as suas mulas de carga também, apenas tolerados na medida em que precisamos de quem faça os piores trabalhos pelo mínimo possível de salário. Mesmo a nossa extrema-direita populista abandonou há uns anos a ideia de expulsão cega dos imigrantes para um discurso que prevê a “forte regulação” da imigração. Afinal, precisamos sempre de umas quantas mulas para que a economia funcione.

No arranque da campanha eleitoral para as legislativas de 18 de maio, o Governo anunciou a expulsão de 18 mil imigrantes do nosso país. Segundo o ministro da Presidência, Leitão Amaro, a “política de imigração passou a ser de imigração regulada”. O primeiro grupo, de mais de 4 500 pessoas, será notificado esta semana e tem 20 dias para abandonar o País. Se há casos de quem tem registo criminal e, por isso, viu o seu pedido de visto ser recusado, a esmagadora maioria é de imigrantes que já estiveram em situação de ilegalidade noutro Estado da União Europeia, sendo razão de lei para que lhes seja recusada uma autorização de permanência em território nacional.

O anúncio em vésperas de campanha eleitoral não passou despercebido aos partidos da oposição, tendo a esquerda acusado o PSD de entrar em terrenos perigosos, usando os imigrantes para roubar votos ao Chega. O próprio André Ventura ficou indignado e falou em “eleitoralismo”. “Vir falar disto é eleitoralismo de mau gosto, mas sobretudo é gozar com um tema sério. Só houve um partido e um líder que quiseram efetivamente controlar a imigração, não contra os imigrantes, mas um controle de uma imigração regulada, que permita ajudar o País, mas sem destruir o País. E sabem que esse político sou eu, não é Luís Montenegro”, afirmou. É já uma competição sobre quem consegue deportar melhor.

O curioso do simbolismo do bode expiatório é que, na cultura cristã, ele acaba por ser uma imagem para o próprio Messias, aquele que foi para o deserto para jejuar e ser tentado pelo demónio. O seu êxodo foi um tempo de preparação para vir a expiar os pecados do mundo.

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Já se antecipava que a imigração seria um tema em destaque na campanha para as eleições legislativas, mas o timing escolhido pelo Governo para anunciar, no último sábado, a decisão de notificar cerca de 18 mil imigrantes ilegais para deixarem o País, dos quais um primeiro grupo de 4 574 cidadãos até final deste mês, não deixou sombra de dúvida. A concretizar-se, será a maior expulsão de imigrantes ocorrida em Portugal nos últimos anos, contrariando até uma tendência de diminuição verificada desde o início da pandemia, quando em março de 2020 foi prolongada a validade dos documentos e vistos concedidos a estrangeiros. A extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), o aumento no afluxo de estrangeiros, os atrasos na análise dos pedidos de residência por parte da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e as mudanças legais decretadas pelo Governo, que em junho do ano passado pôs fim à manifestação de interesse, ajudam a explicar o avolumar de cerca de 400 mil processos de legalização que só agora estarão gradualmente a conhecer um desfecho.

Os dados do último Relatório de Migrações e Asilo da AIMA mostram que em 2023 foram notificados para abandonar voluntariamente o País um total de 658 cidadãos estrangeiros (ver coluna infografia). Esse número foi o mais baixo verificado desde 2015, ano em que o PS, liderado por António Costa, formou governo, apoiado pelo acordo parlamentar com o PCP e o Bloco de Esquerda que ficou conhecido como a Geringonça. Ainda em 2023, os processos de afastamento coercivo, ou seja, as ordens de expulsão aplicadas a imigrantes ilegais que permaneceram em território nacional ascenderam a 344, cerca de metade dos valores pré-pandemia de 2019 (695) e até de 2015 (844).

Desde 2015, foram notificados para abandonar Portugal quase 28 mil estrangeiros, com os números a indicarem uma tendência constante até ao início da pandemia. O mesmo se passou com os processos de afastamento coercivo, em número de 5 625 no período em análise. Recorde-se que foi em novembro de 2021, ainda durante a pandemia, que se deu início à extinção do SEF, na sequência da morte do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk nas instalações do aeroporto de Lisboa.

De acordo com o ministro da Presidência, Leitão Amaro, o primeiro grupo de 4 574 imigrantes com pedidos de residência recusados terá 20 dias para sair voluntariamente de Portugal. Estas notificações são exigidas por lei e, se não forem cumpridas, os visados serão sujeitos a um processo de afastamento coercivo que pode implicar a detenção num centro temporário e a expulsão do País sob escolta policial. Sublinhando que “as regras são para cumprir”, o governante acrescentou que “as pessoas que não respeitarem a ordem de abandono voluntário do País serão alvo de fiscalizações e poderão ser detidas por permanência ilegal em território nacional”.

Acrescentando que muitos serão cidadãos impedidos de permanecer no Espaço Schengen por decisão de outros países europeus, o que inviabiliza a obtenção de residência em território português, Leitão Amaro mostrou-se convencido de que permaneceram em território europeu, à revelia das regras, por “acharem que Portugal era um sítio onde podiam ficar”. Cerca de dois terços serão originários do subcontinente indiano (Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal), segundo adiantou.

Em setembro do ano passado, foram criados 20 centros de missão para despachar cerca de 440 mil processos em atraso. Mas há, ainda, 110 mil processos à espera da avaliação da AIMA, dos quais poderão resultar mais notificações de abandono voluntário do País.

A “lição” do Presidente

Durante os debates entre os partidos da AD e a oposição, o tema da imigração serviu de arma de arremesso, com Pedro Nuno Santos, líder do PS, a acusar o Governo de Luís Montenegro de apropriação “do trabalho normal e natural da entidade competente, neste caso a AIMA, para fazer campanha política na sua disputa direta com o Chega”. A ideia foi também defendida por Rui Tavares, do Livre, que recordou que “nos anos da Geringonça houve mais notificações [para abandono do País] do que neste ano”. “Ninguém é ingénuo quando o ministro da Presidência aparece, num sábado de manhã, a gabar-se de uma coisa que é feita regularmente”, acrescentou.

Luís Montenegro invocou a herança do passado, acusando o PS de ter criado “uma situação de balbúrdia” ao deixar “400 mil processos pendentes” na AIMA. “O Partido Socialista não sabia quem é que estava efetivamente no País, quem é que estava a cumprir o desejo de legalizar a sua situação e o que é que estava a fazer. E o que está a acontecer hoje é o desenvolvimento de um processo de normalização que foi desencadeado por este Governo, que criou uma estrutura de missão que envolve hoje 20 municípios, 12 instituições, que deu à AIMA a capacidade de atender com mais sete vezes a capacidade que tinha”, disse.

Questionado sobre a polémica, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, adiantou que “a grande lição é que não se deve estar, como se esteve, três anos sem tratar desta matéria”, apenas porque “a extinção de um determinado serviço demorou tempo para substituir por seis ou sete serviços, deixando penduradas, sem definição, 200 ou 300 mil pessoas”. Acrescentou que “há erros que não se podem cometer”, pois são os imigrantes que “aguentam vários setores da economia.”

O último relatório intercalar da AIMA revelou que existem 1,5 milhões de estrangeiros residentes em Portugal, representando 15% dos 10,6 milhões de habitantes do País. Em breve, poderão crescer para 1,6 milhões, depois de concluída a análise dos pedidos de regularização que se encontram pendentes.

Um estudo recente da Faculdade de Economia do Porto (FEP) indica que Portugal precisa de atrair 138 mil novos imigrantes para que a economia possa crescer, em média, 3%, ou até mais, ao ano, e assim continuar a convergir com os países europeus mais ricos. Dados recolhidos pela VISÃO apontam para a falta imediata de 135 mil trabalhadores (nacionais e estrangeiros) só nas três áreas de atividade mais dependentes da força de trabalho imigrante, distribuídos da seguinte maneira: 90 mil pessoas na construção, cinco mil na agricultura e florestas e 40 mil no alojamento e restauração.

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