Há 12 anos, no conclave convocado após a resignação de Bento XVI, tudo indica que Jorge Mario Bergoglio se evidenciou pelas palavras críticas que proferiu acerca do funcionamento da Igreja. Agora, na eleição de Leão XIV, terá sido substancialmente diferente. Robert Francis Prevost deu nas vistas sobretudo por ser discreto e reservado.
A reunião na Capela Sistina continua a ser ultrassigilosa, mas várias fontes do Vaticano têm dado conta de que, por volta da hora de almoço do passado dia 8 de maio, a eleição do novo líder da Igreja Católica já estaria encaminhada. Divididos em torno da figura de Pietro Parolin, o italiano que assumiu funções de secretário de Estado durante o pontificado de Francisco e que até então estava na linha da frente dos papabili, os cardeais viram no perfil de Robert Francis Prevost uma possível solução. Não se tratava apenas de uma pessoa avessa a conspirações e manobras de bastidores. Numa altura sensível da geopolítica mundial, era também uma espécie de “o melhor de dois mundos”. Por um lado, provinha de uma grande potência, mas simultaneamente também tinha origens numa “periferia”, uma periferia, por sinal, ainda mais “fim do mundo” do que “o fim do mundo” de Francisco. Por outro lado, tinha mais de duas décadas de experiência como missionário, na América do Sul, junto de populações pobres e remotas, mas, ao mesmo tempo, conhecia alguma coisa dos meandros da Cúria Romana.

Como responsável pelo Dicastério para os Bispos durante o último pontificado, Robert Francis Prevost também seria razoavelmente conhecido de uma boa parte dos membros do Colégio Cardinalício. Ainda assim, era uma completa estreia, dado que foi a primeira vez que Prevost participou num conclave. Sabe-se que tinha perguntas a fazer sobre a eleição e que, curiosamente, tirou essas dúvidas com um dos favoritos: Luis Antonio Gokim Tagle, o filipino a quem chamam “o Francisco da Ásia”, que Bento XVI elevou a cardeal e, depois, Francisco nomeou para prefeito do Dicastério para a Evangelização. Entretanto, Tagle já contou como foi essa conversa. “Como é que isto funciona?”, perguntou o norte-americano. “Eu tinha a experiência de ter participado num conclave e ele não”, comentou o filipino.
Antes da votação decisiva, também António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima e um dos quatro portugueses com direito de voto no conclave da semana passada, se cruzou com o ainda cardeal Prevost. Nesse momento-chave, abraçou-o e, como contou na conferência de imprensa que deu a seguir à eleição, disse-lhe: “O Espírito Santo nos iluminará.” Insuspeito, o americano-peruano apenas sorriu. O Espírito Santo lá terá, de facto, feito o seu trabalho. Na altura da aceitação, Prevost estava “sereno” e “comovido”, revelou ainda Marto. “A Igreja hoje não é eurocêntrica, nem o mundo hoje é eurocêntrico”, sustenta o cardeal português.
Norte-americano, mas pouco
Ao nomear cardeais de países como Myanmar, Haiti, Ruanda e Suécia, era sabido que Francisco tinha alterado, de forma substancial, a natureza do Colégio Cardinalício. O mundo é global e, como tal, a política de “internacionalização” havia sido elogiada por (quase) todos. Porém, os resultados imediatos dessa estratégia tornavam a eleição do sucessor do Papa argentino perigosamente imprevisível e, sobretudo, demasiado vulnerável a pressões. Além das habituais tensões entre as vozes mais reformistas e as vozes mais imobilistas, havia ainda que considerar o atual momento político: as relações entre a Santa Sé e os EUA não só não eram as melhores como, nos últimos meses, se agravaram substancialmente, por causa das políticas migratórias da Administração de Donald Trump e de JD Vance.
Neste contexto, Robert Francis Prevost parece, portanto, ter o perfil ideal para o lugar. É americano, mas, na verdade, é pouco americano: o 267º líder da Igreja Católica passou uma boa parte da vida fora dos EUA e também tem nacionalidade peruana (o correspondente no Vaticano do jornal La Repubblica, Iacopo Scaramuzzi, chamou-lhe “o menos americano dos americanos”). Já terá votado no Partido Republicano e, embora seja ambíguo nas questões relacionadas com os homossexuais e os transgénero, é claramente contra as deportações. Em várias declarações, já demonstrou estar alinhado com Francisco na defesa dos migrantes. O bispo português António Marto também diz não ter dúvidas de que Leão XIV assegurará a continuidade de Francisco no “respeito pelos imigrantes” e por “aqueles que procuram uma vida melhor e mais digna”.

O seu passado também fala por si: quando estava no Peru, em Chiclayo, durante os anos do chavismo na Venezuela, Prevost acolheu os exilados venezuelanos que então chegavam em massa à cidade andina. Inclusivamente, eram utilizadores da rede de refeitórios sociais criada pelo “padrecito Roberto”.
Nos anos 90, durante os governos autoritários de Alberto Fujimori, Prevost também esteve do lado certo da História, na defesa dos direitos humanos. Em 2017, dois dias depois de o governo peruano perdoar o antigo Presidente, o então bispo de Chiclayo exigiu que aquele pedisse desculpas a cada uma das vítimas. “Talvez fosse mais eficaz pedir desculpas pessoalmente por algumas das grandes injustiças cometidas e pelas quais foi julgado e condenado”, afirmou Prevost.
Filho de migrantes, raízes crioulas
A vida de um homem, ainda que religioso, é uma coisa. Outra coisa é a vida de um Papa, sucessor de Pedro, chefe de Estado, líder espiritual de milhões de pessoas e, não raras vezes, interveniente direto na política internacional. Desde a eleição da semana passada que se foi conhecendo um pouco mais da vida de Robert Francis Prevost. A curiosidade é natural, mas acima de tudo é natural que se tente encontrar no percurso do homem alguns indícios do que poderá vir a ser o seu pontificado. A lógica parte do pressuposto de que uma coisa decorre da outra, mas tem os seus limites: sendo certo que os homens são produto das circunstâncias (Papa incluído), também é verdade que, em boa medida, são os cargos que fazem os homens.
Um exemplo recente disto de que falamos: enquanto arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio não era tido como uma pessoa particularmente sorridente. Porém, como líder da instituição mais antiga do mundo, adotou um estilo próximo e carismático capaz de atrair crentes e não crentes (e, às vezes, mais estes do que aqueles…), ao ponto de ter ficado conhecido como “o Papa que ri”. Quer isto dizer que podemos especular, atender aos atos e às primeiras palavras, claro, mas, em rigor, só o futuro dirá quem será Leão XIV.

Robert Francis Prevost nasceu há 69 anos, em Chicago, no estado do Illinois, EUA, numa família de migrantes. O pai tinha ascendência francesa e italiana, a mãe tinha ascendência espanhola. Entretanto, a imprensa norte-americana já descortinou as raízes crioulas do novo Papa. “A descoberta significa que Leão XIV não está apenas a inovar como o primeiro pontífice nascido nos EUA. Vem também de uma família que reflete os muitos aspetos que compõem o complexo e rico tecido da História americana”, escrevia, na semana passada, o New York Times.
Os pais de Robert Prevost – que, nos EUA, é conhecido como “father Bob” – eram ambos católicos e muito ligados às atividades da paróquia. Desde cedo que Bob, o mais novo de três rapazes, revelou a sua vocação. Em casa, costumava até usar a tábua de passar a ferro para brincar às missas com os irmãos. Passou a infância em Dolton, um subúrbio de Chicago. Começou por estudar no Seminário Menor dos Padres Agostinianos, em Holland, no estado do Michigan. Formou-se depois em Matemática na Villanova University, na Pensilvânia, onde também estudou Filosofia. Tirou Teologia na Catholic Theological Union, em Chicago e, aos 27 anos, foi enviado para a capital italiana, para fazer o doutoramento em Direito Canónico, na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino.
Um missionário faz-se além-fronteiras
Prevost juntou-se à Ordem de Santo Agostinho em 1977 e, em 1982, foi ordenado padre na Igreja de Santa Mónica dos Agostinianos, em Roma. A primeira missão surgiu três anos depois, na cidade peruana de Chulucanas. Os anos seguintes também foram passados noutra missão no Peru, em Trujillo.
Após um período em que voltou a exercer funções de provincial nos EUA, foi superior geral da congregação dos agostinianos. Correu o mundo nessas funções, durante dois mandatos (2001-2013). Foi sobretudo nesses tempos que ganhou fama de ser um homem além-fronteiras, poliglota, “cosmopolita”, nas palavras do correspondente no Vaticano do La Repubblica. Depois, em 2015, Francisco nomeou-o bispo de Chiclayo, uma cidade pobre, cheia de problemas sociais, longe de tudo. Nesses anos, Prevost também desempenhou funções na Conferência Episcopal peruana. Na memória do povo simples e humilde ficou, por exemplo, a forma como o bispo ajudou os desalojados das chuvas torrenciais do El Niño e como, na pandemia de Covid-19, conseguiu instalar duas centrais de oxigénio que salvaram muitas vidas.
Francisco nomeou-o cardeal em 2023 e atribuiu-lhe logo o cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos. Numa das poucas entrevistas que concedeu, ao Vatican News, explicou que os clérigos e os bispos devem partilhar do “espírito de comunhão”. E também salientou as qualidades que considerava importantes nuns e noutros: “Preocupamo-nos, muitas vezes, em ensinar a doutrina, mas corremos o risco de esquecer que o nosso primeiro dever é comunicar a beleza e a alegria de conhecer Jesus.”

Nas reuniões do Sínodo dos Bispos, o então cardeal Prevost mediou com sucesso o diálogo tenso entre o Vaticano e a Igreja alemã. Acredita-se que, agora, como Papa, também conseguirá ultrapassar a polarização e amenizar as relações diplomáticas com a Administração norte-americana. Leão XIV foi eleito a 8 de maio, o dia em que se comemoravam os 80 anos do fim da II Guerra Mundial na Europa. Na primeira intervenção pública que fez, apareceu comovido e proferiu a palavra “paz” nove vezes: “Ajudai-nos também vós, e uns com os outros, a construir pontes, através do diálogo, através do encontro, unindo-nos a todos para sermos um só povo, um povo de paz. Obrigado, Papa Francisco!”
Aqui chegados, pergunta-se se o Papa entre mundos prosseguirá o legado do seu antecessor. O jornalista Jorge Wemans avançou uma hipótese interessante. Estabeleceu semelhanças entre os pontificados de João XXIII e de Paulo VI e os pontificados de Francisco e Leão XIV. No jornal Público e no Sete Margens, apontou: “Ao ver e ouvir Leão XIV tomar a palavra na loggia da Basílica de São Pedro, a comparação com aquele junho de 1963 em que Paulo VI foi eleito Papa para suceder a João XXIII impõe-se e sugere um prognóstico: este é o Papa da consolidação dos caminhos abertos pelo seu antecessor.” Afinal, não é isto que faz um construtor de pontes, um Papa entre mundos?
De missionário a sucessor de Pedro
Dez momentos da vida de Leão XIV
Infância
Nasceu em Chicago, no estado norte-americano do Illinois, a 14 de setembro de 1955, no seio de uma família de migrantes (o pai tinha ascendência francesa e italiana; a mãe tinha ascendência espanhola). É o mais novo de três rapazes.
Vocação
Sobre a escolha da vocação, já confessou ter tido no pai a sua maior influência. Desde muito cedo que a família sabia que “Bob” queria ser padre. Em casa, costumava usar a tábua de passar a ferro para brincar às missas com os irmãos.
Matemática
Começou por estudar no Seminário Menor dos Padres Agostinianos. Formou-se depois em Matemática na Villanova University, na Pensilvânia, onde também estudou Filosofia.
Estudos teológicos
Tirou Teologia na Catholic Theological Union, em Chicago. Aos 27 anos, foi enviado para Roma, para estudar Direito Canónico, na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino.
Poliglota
Além da nacionalidade norte-americana, tem também nacionalidade peruana. Fala cinco idiomas: inglês, espanhol, italiano, francês e português. Sabe algum alemão e também consegue ler latim.

Santo Agostinho
Juntou-se à Ordem de Santo Agostinho em 1977 e, em 1982, foi ordenado padre, em Roma, na Igreja de Santa Mónica dos Agostinianos. No primeiro discurso de saudação que fez enquanto Papa, na varanda da Basílica de São Pedro, citou o autor de A Cidade de Deus: “Para vós, sou bispo, mas convosco sou cristão.”
Missionário
No Peru, foi missionário durante mais de duas décadas. Desempenhou funções pastorais e também funções de formação. A primeira missão naquele país da América do Sul aconteceu em 1985. Em 1988, dirigiu o Seminário de Trujillo.
Chiclayo
Em setembro de 2015, o Papa Francisco nomeou-o bispo de Chiclayo, uma cidade no Noroeste do Peru. Durante este tempo, Prevost fez muito trabalho junto de comunidades remotas. Em 2018, foi eleito segundo vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana.
Vaticano
Em 2023, o Papa Francisco elevou-a a cardeal e atribuiu-lhe o cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos, o “ministério” da Santa Sé responsável pela nomeação de bispos e cardeais de todo o mundo. O cargo ter-lhe-á dado alguma visibilidade, num conclave onde uma parte significativa dos cardeais não se conheciam.

Conclave
No conclave após a morte de Francisco, a 21 de abril, terá obtido a maioria de dois terços dos votos do Colégio dos Cardeais à terceira votação (algumas fontes garantem que teve mais de 100 votos). Ao aceitar ser Papa, manteve a serenidade, mas não escondeu a comoção. Escolheu ser chamado de Leão XIV, numa clara alusão a Leão XIII.
Os trabalhos de Leão XIV
Dos problemas de gestão às questões fraturantes, alguns dos dossiers mais urgentes do novo pontificado

Finanças do Vaticano
Acreditam os especialistas que o facto de Leão XIV não ter um estilo tão confrontacional quanto Francisco vai permitir uma aproximação entre os EUA e o Vaticano e, sobretudo, que o dinheiro das dioceses norte-americanas seja orientado para os cofres da Santa Sé. Também se diz que a formação em Matemática vai ajudar o novo Papa nas questões da gestão financeira que, nos últimos anos, tanto têm ensombrado o Vaticano.
Mulheres e falta de vocações
A expansão dos evangélicos e a falta de vocações têm sido, nas últimas décadas, dois dos principais problemas da Igreja Católica, cuja influência tem decrescido no chamado mundo ocidental, cada vez mais secularizado. Mesmo que a abertura às mulheres iniciada por Francisco não signifique a ordenação das mulheres, tudo indica que o novo Papa será favorável à prossecução da política de inclusão das mulheres em alguns lugares importantes do Vaticano.
Abusos sexuais
Como em muitas outras matérias, não se sabe exatamente qual é a posição do novo Papa, vai ser preciso esperar para ver. Contudo, em relação aos abusos sexuais, há declarações claras de Robert Prevost, concedidas ao Vatican News, sobre “o silêncio” não ser “uma resposta” nem “uma solução”. Entretanto, também já se falou em duas denúncias, que envolvem outros membros do clero, com as quais Prevost não terá lidado da melhor maneira. Uma aconteceu nos EUA, outra no Peru e, muito provavelmente, vão agora ser alvo de escrutínio.
Sinodalidade
No primeiro discurso de saudação que fez, na Praça de São Pedro, o novo Papa referiu-se à “Igreja sinodal”. Tudo leva a crer que, neste campo, Leão XIV também pretende prosseguir o caminho iniciado por Francisco, no sentido de devolver a todos os batizados a reflexão acerca dos destinos da Igreja. Já depois de adoecer, o Papa argentino marcou, inclusivamente, uma assembleia eclesial de toda a Igreja Católica no Vaticano para outubro de 2028.
Leão XIII, o Papa que fez a Igreja descer à Terra
Leão XIV apresentou-se como herdeiro do pontífice que ficou para a história por causa de uma encíclica, a Rerum Novarum (1891), na qual revelou estar preocupado com as condições dos operários. Foi o primeiro Papa do seu tempo

O italiano Leão XIII (1878-1903) foi, provavelmente, o primeiro Papa a assumir-se como um Papa do seu tempo. O seu pontificado apanhou todo o período da pós-Revolução Industrial, a transição do século XIX para o século XX. E tratou-se de um pontificado longo: ao todo, durou 25 anos.Por causa de uma das mais conhecidas encíclicas da história da Igreja Católica, a Rerum Novarum (1891), Leão XIII – de que o Papa agora eleito se apresentou como herdeiro – ficou conhecido como “o Papa dos trabalhadores”. Na introdução da encíclica, Leão XIII recordava que “a sede das inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social”.A linguagem adotada então por Vicenzo Pecci é tão inovadora quanto as preocupações. Não se ocupa das questões teológicas, detém-se nos problemas reais dos mais frágeis, dos operários. É, por isso, que se considera que o texto é fundador do pensamento social católico. “Os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos de um pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião, enfim, mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito”, escreveu Leão XIII. Além de fazer recomendações aos empregadores, também exorta os próprios Estados a regular as condições de trabalho e a garantir o bem-estar dos trabalhadores.
O fascínio pelo cinema
O historiador francês Pierre Pierrard, na obra clássica História da Igreja Católica, defende que a ação de Leão XIII, ao definir o lugar das liberdades populares, também arrastou o Papa para “sólidas inimizades”: “Os católicos ‘integrais’ escandalizam-se e muitos republicanos repugnam-se a acreditar numa ‘Igreja liberal’; os socialistas consideram como uma aberração a incursão da Igreja no campo social.” No entender do historiador, Leão XIII revela “vistas largas” e “esforça-se por distinguir os temas de pensamento incompatíveis com a doutrina católica das realidades do mundo moderno: o seu desejo é fazer deles certas realidades cristãs, embora saiba que o mundo já não é cristão”.Leão XIII também revelou ser um Papa do seu tempo noutro aspeto: foi o primeiro pontífice a ser imortalizado pelo cinema. Como nasceu em 1810, em Carpineto Romano, é hoje tido como sendo a figura mais velha a ser captada por essas primeiras câmaras. Esses filmes, que até agora se encontravam guardados nos Arquivos Apostólicos, no futuro vão integrar a Mediateca Apostólica do Vaticano, uma iniciativa do Papa Francisco.
No próximo dia 26, decorrerá a primeira projeção pública dessas películas do século XIX, no Palazzo Pecci, na cidade natal de Leão XIII. A importância histórica desses filmes está relacionada com o facto de se tratarem dos primeiros registos cinematográficos da Igreja, mas não só: também provam, de acordo com Dario Edoardo Viganò, presidente da Fundação Memórias Audiovisuais do Catolicismo, o fascínio de Leão XIII pelo cinema. Autor de um poema dedicado à arte fotográfica, Vincenzo Pecci chegou a abençoar uma máquina fotográfica nos jardins do Vaticano.No último sábado, 10, no primeiro encontro que manteve, à porta fechada, com os 133 cardeais eleitores e também com outros que não votaram no conclave por causa do limite de idade, Robert Francis Prevost confessou-se herdeiro de Leão XIII. À semelhança do Papa da viragem do século, também o americano-peruano afirmou querer atualizar a sua missão aos desafios da sua época. Concretizou: “O Papa Leão XIII, com a histórica encíclica Rerum Novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial; e, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza da sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da Inteligência Artificial.” Esta nova realidade, concluiu, origina “novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”. Leão XIV pretende ainda prosseguir o legado do Concílio Vaticano II. Fez referência à obra de João XXIII, cujos conteúdos foram atualizados, na sua opinião, “magistralmente” pelo seu antecessor, Francisco, na exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013). No encontro com jornalistas, na segunda-feira, 12, Prevost elogiou o trabalho dos jornalistas (“só pessoas informadas podem fazer escolhas livres”), pediu a libertação dos jornalistas presos e também voltou a falar na Inteligência Artificial. O seu “imenso potencial”, defendeu, “exige responsabilidade e discernimento para orientar as ferramentas para o bem de todos, a fim de que possam produzir benefícios para a Humanidade.” Outro Papa do seu tempo?
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