A LG anunciou o monitor OLED 5K2K, ou seja, com resolução de 5120 por 2160 pixéis e que pode passar de completamente plano para uma curvatura de 900R. Além de o painel poder ser curvado, o utilizador pode ativar o Dual Mode e escolher entre o rácio de 21:9 ou 16:9 ou mesmo para assumir dimensões ajustadas para ecrãs de 39, 34 ou 27 polegadas facilmente. A LG revela que p 45GX990A tem oito configurações que podem ser escolhidas, noticia o The Verge

A resolução máxima pode alterar, de acordo com as definições escolhidas e o ecrã tem uma contagem de pixéis equivalente ao 4K, com 3840 por 2160. O painel é compatível com Nvidia G-Sync e AMD FreeSync Premium, incluindo suporte para DisplayPort e HDMI 2.1, embora o padrão 2.2 esteja para chegar brevemente.

Com estas dimensões e características, este ecrã pode ser o único necessário para a maior parte das secretárias de trabalho e de gaming e servir para dizer adeus aos múltiplos monitores. Nesta fase, ainda não há qualquer indicação de preço para o aparelho, com a LG a provavelmente reservar algum espaço para a apresentação na CES dentro de poucos dias.

Palavras-chave:

O Chaos Computer Club e o Der Spiegel foram informados por um denunciante que dados da localização de mais de 800 mil carros elétricos das marcas Volkswagen, Skoda, Audi e Seat podiam ser encontrados online, desencriptados. A informação estava na Amazon Cloud e provinha da Cariad, uma empresa de software automóvel que realiza tarefas para o grupo VW.

Quer o jornal, quer os hackers analisaram durante algum tempo a informação e constataram que esta era fidedigna e permitia a localização detalhada e trajetos dos condutores, chegando mesmo à identificação destes. “A falha de segurança permitiu à publicação detetar a localização de dois políticos alemães com uma precisão alarmante, com os dados a colocarem um membro do Comité de Defesa alemã no lar do seu pai e em instalações militares”, conta o ArsTechnica.

A Cariad assumiu que uma “falha de configuração” levou a que os dados tivessem surgido online desencriptados e informou que, entretanto, já sanou a vulnerabilidade. O grupo informa ainda que além da publicação e do CCC, não há indicação de que os dados tenham sido acedidos por qualquer outra pessoa ou entidade.

Um estudo recente revelou que 42% dos cidadãos europeus não têm qualificações digitais básicas, com o Conselho da União Europeia a alertar que mudanças na demografia e pobres condições de trabalho em alguns setores podem agravar este cenário. Com o avanço expectável da Inteligência Artificial, é fácil prever que a procura por profissionais qualificados vai intensificar-se.

O relatório da Stack Overflow revela que os cargos mais populares entre programadores estão os de full-stack, back-end e front-end, seguidos por programadores de desktop ou enterprise, mobile e aplicações integradas. JavaScript é a linguagem mais procurada, seguida de SQL, HTML/CSS, Python e TypeScript.

Por seu lado, o relatório Oversee da GitHub revela que o JavaSctript foi destronado e que a linguagem mais procurada na sua plataforma agora é o Python, pela sua simplicidade e bibliotecas extensas. A GitHub explica ao The Next Web que esta é a “primeira alteração de grande escala que vemos nas duas principais linguagens de programação desde 2019 – e reflete o crescimento do Python que acompanhou o boom da Inteligência Artificial generativa a que assistimos nos últimos dois anos”.

Também a computação da nuvem, a Internet das Coisas e as tecnologias de realidade aumentada e realidade virtual vão exigir mais profissionais e mais qualificação. A Kotlin tem vindo a destacar-se no desenvolvimento para Android e a Go a ser popular para construir redes de servidores escaláveis e sistemas concorrentes, com a simplicidade e desempenho como trunfos.

Dados da Developer Nation mostram que linguagens mais antigas estão a ressurgir, como o Java, que ganhou oito milhões de programadores entre 2021 e 2023. O Index TIOBE lista a C++ no segundo lugar, devido ao desempenho em sistemas integrados, desenvolvimento de jogos e software de trading financeiro. Apesar disto, algumas fontes como o governo dos EUA têm vindo a apelar aos programadores que mudem da C++ para linguagens mais seguras, como a Rust que viu a sua base de utilizadores triplicar nos últimos tempos.

Situada no Príncipe Real, com uma área de 180 m², a loja portuguesa da Flabelus é, até à data, a maior da marca de calçado espanhola, que conta com espaços próprios em cidades como Madrid, Barcelona, Sevilha, Londres e Paris.

No seu interior – um projeto assinado pela arquiteta Marta Sánchez Zornoza, onde não falta cor, do papel de parede aos azulejos e cortinas de veludo –, cabe a coleção completa de sapatos de fabrico artesanal que têm feito furor nos pés das raparigas europeias, e ainda peças da linha de vestuário, como calças, blazers e camisas.

O sucesso da marca, fundada por Beatriz de los Mozos em 2020, faz-se de uma combinação feliz da estrutura da alpercata espanhola com a forma como é fabricada, com os materiais e as silhuetas dos friulanes, os chinelos dos gondoleiros venezianos do século XIX. O resultado são modelos de um romanticismo clássico, modernos, produzidos com materiais sustentáveis (o veludo de algodão é 100% orgânico) e cozidos à mão, com solas antiderrapantes feitas a partir de borracha de pneus de bicicleta reciclados. Curiosamente, os sapatos são laváveis à máquina em programa delicado.

Os Flabelus são para mulheres de todas as idades, mas também para homem e criança. Entre os best-sellers estão o modelo Mary Jane Georgina, de veludo cinzento com acabamento em bordeaux e fecho de fivela, e o Mafalda, que em vez de um fecho de fivela tem um elástico forrado no peito do pé, também de veludo e na cor da estação, o bordeaux.

Mas falemos das novidades, como os slippers Lyra e Gynevra. Os primeiros levam um grande laço e os segundos, atacadores e tule. As Mary Jane Georgina têm sola plataforma; os Sophie, um fecho de fivela maior e trabalhado, os Mae são revestidos a tachas (nas versões de veludo e ganga). Há ainda outros modelos que se vestem de lantejoulas ou se apresentam em verniz. Estão todos disponíveis para experimentar na Flabelus lisboeta.

Flabelus > R. D. Pedro V, 101, Lisboa > seg-dom 10h-20h

Palavras-chave:

Quatro anos após o lançamento do título original (que vendeu 72 milhões de unidades), Fairy Tail regressa numa sequela que mantém o princípio base: um JRPG inspirado nos populares ‘manga’ e ‘anime’. Prepare-se, portanto, para amar ou odiar tudo o que é característico num típico Role Playing Game nipónico: rapazes de cabelo esquisito, raparigas de seios (excessivamente) fartos, mascotes bizarras e o constante carregar no X para fazer avançar os diálogos.

Saúde-se, porém, a disponibilização de uma opção de Auto-Play para contornar a necessidade de carregar constantemente no botão para que as falas das diferentes personagens prossigam. Ponto importante: só é disponibilizado áudio em japonês e legendas em inglês, o que obriga a esmagadora maioria dos jogadores a ter de olhar para o ecrã para perceber o que é dito. E contribui para uma interface gráfica algo atafulhada, já que há muita informação disponibilizada ao mesmo tempo.

Encontrar os ingredientes certos

A nível de enredo, Fairy Tail 2 concentra-se nos acontecimentos do ‘Alvarez Empire Arc’, o clímax da história original e que, sucintamente, coloca o jogador encarregue da equipa de defensores de Fairy Tail (não só Natsu e Lucy) no combate contra o imperador Zeref e a sua equipa de elite Spriggan 12. Há ainda uma história original após a batalha final – ‘Key to the Unknown’.

Quem entra neste universo pela primeira vez é brindado com uma sinopse dos acontecimentos passados no início do jogo. Contudo, é muita informação e ‘muito pela rama’, pelo que será natural sentir-se meio perdido perante tantas personagens e conceitos. A funcionalidade Terminologia, que oferece contexto sobre alguma das expressões que vão sendo referidas, acaba por ser muito bem-vinda. Este é, claramente, um título que obriga o jogador a empenhar-se para descortinar totalmente a história das diferentes personagens e as suas características específicas.

O mundo semi-aberto permite alguma dose de exploração, mas as batalhas por turnos em equipas de três são o grande chamariz de Fairy Tail. O sistema foi remodelado nesta sequela e a chave do combate passa por conseguir quebrar a Break Gauge dos inimigos para desferir ataques mais poderosos. Dito assim pode parecer simplista, mas obriga a alguma estratégia, pois convém escolher os intervenientes com as características mais adequadas para cada tipo de oponente, os ataques mais eficazes e quais os especiais mais letais. Confessamos que gostámos mais do que antevíamos.

Como pode antever pelo que descrevemos anteriormente, a evolução de cada personagem torna-se fulcral a longo prazo e há três características para desenvolver: Espírito, Habilidades e Força. De resto, há ‘loot’ para ir recolhendo e as batalhas ajudam a elevar o ranking. A utilização dos pontos para depois ir construindo uma equipa que se adequa ao nosso estilo de jogo revelou-se cativante.

A nível gráfico, ficámos com a sensação que tínhamos bonecos de ‘anime’ a passear num ambiente razoavelmente bem desenhado. As personagens estão esteticamente bem conseguidas, mas, por vezes, não colam no cenário com a fluidez desejada. Por exemplo, Natsu subiu uma mesa sem qualquer sensação de elevação, foi como se estivesse a andar normalmente e calhou ter algo mais alto à frente sem que isso implicasse outro tipo de movimento. De resto, destaque para a disponibilização de histórias relativas a diferentes personagens que vão surgindo à medida que evoluímos as respetivas características. Fairy Tail 2 é, em suma, vocacionado para fãs de ‘anime’ que gostam de aprofundar as narrativas e personagens, pelo que estreantes neste universo deverão ser cativados por RPGs menos ‘mágicos’.

Tome Nota
Fairy Tail 2 – €69,99

Nota final: 3,7

Plataformas PS5 (testado), PS4, PC, Switch
Estúdio Gust
Editora KOEI TECMO AMERICA Corporation

Prós
+ Um par de cliques e trocamos de personagem durante a fase de exploração
+ A possibilidade de controlar a câmara em algumas cutscenes é apelativa…

Contras
– … Mas algumas dessas cutscenes são gigantescas!
– 86-60-86? Não, aqui é mais 106-60-86

Ainda não fez um mês que a livraria Re-Read está a funcionar e já há quem passe todos os dias, incluindo vizinhos, para ver as novidades. Desde que a Pastelaria Suprema encerrou, em 2016, na Avenida de Roma, que esta morada não tinha inquilino, até que um cartaz afixado na montra anunciou a novidade.

Em vez de bolos, há agora milhares de livros em segunda mão, em muito bom estado, à espera de novos leitores. “No dia da abertura, 25 de novembro, havia uma fila de gente à espera que abríssemos”, conta Inês Toscano, responsável pela estreia da cadeia espanhola de livrarias low-cost em Portugal.

Esta é a primeira morada da cadeia espanhola de livrarias low-cost em Portugal

Depois de 17 anos a trabalhar como diretora financeira, foi no bairro de Alvalade que encontrou o lugar certo para o projeto que vem ao encontro do seu gosto pela leitura e pelos livros, realizando o sonho de menina de ter uma livraria. “Achei a ideia muito interessante. Convida as pessoas a pegar nos livros esquecidos, parados e empoeirados das suas estantes e a dar-lhes nova vida, novos leitores. Ajuda a mudar hábitos de consumo, através da reutilização, assim como torna os livros e a leitura mais acessíveis a todos, é quase como uma missão”, diz Inês.

Luminosa, com uma montra envidraçada e estantes brancas, começou com 7 mil livros em stock, de todos os géneros. Narrativa, romance histórico, ciências, todos os temas têm espaço na Re-Read, onde a oferta também inclui edições em língua estrangeira, como o espanhol ou o alemão. Há ainda um cantinho para os leitores mais novos, com mesa e cadeiras junto às estantes da banda desenhada, manga e literatura infantojuvenil.

Um livro custa €4, dois custam €7, cinco custam €15 e, no máximo, o cliente só pode adquirir 10 livros por dia. Se vier vender, cada exemplar vale €0,25. A partir de 100, pode marcar uma visita da Re-Read ao domicílio. “Preferimos edições a partir dos anos 1990-2000, embora possamos estar interessados em clássicos, livros de História ou outros de anos anteriores. Não compramos enciclopédias, manuais escolares, revistas e livros em mau estado”, explica a responsável.

Os livros recém-chegados têm uma zona específica, ao cimo das escadas que dão acesso ao piso superior. O que é mesmo bom é vasculhar as prateleiras à procura de novas leituras, sem ser preciso esvaziar os bolsos.

Re-Read > Av. de Roma, 61 B, Lisboa > T. 91 995 3404 > seg-sáb 10h-19h

Os tempos são propícios ao pessimismo. Em especial quando o discurso público está dominado pelas indignações permanentes, as redes sociais ficaram cada vez mais transformadas em ringues de boxe – mas de rua, sem regras nem cavalheirismos – e os debates deixaram de ser centrados na realidade para se debruçarem sobre as perceções, em que apenas as negativas são valorizadas e dissecadas até muito para lá da exaustão.

O pessimismo é, ainda por cima, acentuado quando olhamos para o mundo e parece que o caos está instalado um pouco por todo o lado. Os sinais são evidentes: cresce o individualismo e perderam-se noções básicas de solidariedade. O humanismo ficou reservado para algumas raras ocasiões – mais para quando “fica bem” do que para quando seria necessário e até urgente.

Muita da raiva que tem sido canalizada para os partidos extremistas e radicais nasce precisamente deste desencanto latente que se vai manifestando entre quem considera que foi ficando para trás, com dificuldades no acesso à habitação, sem perspetivas de melhoria salarial e, pior do que tudo, com a sensação de que o seu papel na sociedade é menos valorizado e, por isso mesmo, mais dispensável.

À custa de ouvirmos e lermos que “está tudo pior” e que “nada funciona”, vamos destruindo, aos poucos, o pilar essencial de qualquer sociedade: a confiança em nós próprios, enquanto comunidade. Não é por acaso que os inimigos da democracia e das liberdades são, precisamente, os que mais gostam de espalhar o caos e a desconfiança nos serviços e instituições que deveriam representar-nos e proteger-nos. Aproveitam todos os motivos para desmoralizar espíritos. E usam o pessimismo para destruir aquilo que, no fundo, sempre foi o motor do progresso: a esperança.

É nestes momentos de caos e de pessimistas encartados que se torna mais importante não perder a esperança. E acreditar que o futuro, como tantos exemplos do passado demonstraram, pertence aos otimistas, aos que acreditam no progresso, aos que não desistem de melhorar a vida e as sociedades.

Neste mundo cada vez mais habitado por líderes carrancudos e de ar zangado, em que o sorriso passou até a ser menosprezado por muitas máquinas de campanhas eleitorais, não podemos deixar-nos ceder pelo pessimismo.

Vários trabalhos científicos já identificaram uma relação direta entre o otimismo e a longevidade, por exemplo. Um estudo realizado, em 2019, com base em inquéritos feitos em 15 hospitais dos EUA, revelou que os indivíduos com níveis mais altos de otimismo tinham um risco 35% menor de sofrer de doenças cardiovasculares, bem como uma menor taxa de mortalidade. Por outro lado, outros estudos indicaram que as pessoas mais pessimistas tendem a ter hábitos de vida menos saudáveis e a importar-se menos com o seu bem-estar. Além de que o pessimismo patológico pode ser, muitas vezes, uma autoestrada para a depressão – um fator de risco também para as doenças cardiovasculares.

Da mesma maneira que as perceções erradas devem ser combatidas com factos, também o pessimismo só pode ser atenuado se, a cada motivo de desânimo, conseguirmos apresentar um dado ou uma realidade que incuta esperança. E é nesses momentos em que nos vemos rodeados de guerras, de convulsões e de incertezas, que devemos recordar-nos de que, apesar de tudo, o mundo está melhor do que tantas vezes nos parece ou é difundido pelos agentes do caos.

Mais do que nos concentrarmos nas perceções, temos de regressar ao tempo em que confiávamos, naturalmente, nos factos. E acreditar nos indicadores fornecidos pelas instituições válidas e de trabalho comprovado. Deixar de pensar que cada estudo ou estatística que contrarie a nossa perceção – própria ou induzida por outros – teve origem numa qualquer conspiração, de motivos ocultos. A realidade é bem mais transparente. E a verdade é que, por exemplo, apesar de todos os problemas nos serviços de saúde, a esperança média de vida continua a aumentar em Portugal, as vacinas reduziram a mortalidade infantil em 40% a nível mundial, nos últimos 40 anos, e que, nas décadas recentes, mais de 1,2 mil milhões de pessoas do planeta escaparam à pobreza extrema. E mesmo que ainda esteja muito por fazer no domínio das alterações climáticas, convém ter a noção de que, atualmente, por cada dólar investido em petróleo, gás e carvão, é gasto o dobro na produção de energias renováveis. O mundo precisa de mais otimismo.

OUTROS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ O ano zero do novo extremismo

+ País vazio ou cheio?

+ Confiança na VISÃO

Palavras-chave:

Poucos episódios serviriam melhor como introito ao que vai ser o ano político de 2025 do que os da Rua do Benformoso e o da alteração da Lei de Bases da Saúde para impedir a utilização do SNS por quem não tem autorização de residência no nosso país.

Se a política fosse apenas um jogo, não haveria como não aplaudir a estratégia do Chega. Conseguiu que, no espaço público, dois assuntos – a segurança e a imigração – se impusessem a todos os outros e que o Governo os elegesse como os mais importantes.

Como a política tem, ou tem de ter, como primeiro guia o bem comum, não se pode elogiar quem consegue pôr um primeiro-ministro de um dos países mais seguros do mundo a fazer conferências de imprensa sobre segurança tendo ao seu lado todos os chefes das polícias.

Como a política é a procura do melhor para a comunidade, não se podem tecer loas a quem convence um Governo a cometer um crime contra a mais básica humanidade, não permitindo gente que precisa de cuidados médicos de os obter. Pior, que homens e mulheres que pagam Segurança Social e que por culpa do Estado ainda não têm residência não tenham acesso a cuidados médicos.

E como a política não pode esquecer que é a busca permanente do melhor para a pólis, não se pode gabar um Governo que prefere, de facto, incentivar a imigração ilegal e causar danos às empresas acabando com o instituto de manifestação de interesse, alinhando na perceção plantada pelo Chega de que os imigrantes são uns malandros.

O Chega não precisou de ganhar as eleições para impor a sua agenda. Tenha sido por oportunismo ou por, afinal, convicção ideológica, o Governo está a tomar medidas que o Chega tomaria se estivesse no poder. E o mais relevante é basearem-se em temas que o próprio Governo sabe serem não temas, como é o caso da segurança, ou fazendo o oposto ao que o centro-direita clássico faria no tema da imigração.

Importa fazer um parêntesis neste tema. É evidente que o aumento exponencial de imigrantes num breve espaço de tempo levanta questões importantes. Mas o foco tem de ser descobrir soluções para melhor integrar gente de que precisamos e que, graças aos deuses, também precisa de nós. A resposta não pode ser limitar-lhes o acesso a cuidados de saúde, tratá-los como se fossem suspeitos de crimes só por terem uma cor diferente da maioria ou incentivar que se mantenham ilegais.

Sou sensível ao discurso de que não se deve deixar temas importantes para a comunidade entregues aos extremos. Não percebo, porém, do que se fala quando se diz isso e depois se reproduz por palavras e sobretudo atos o que a extrema-direita propagandeia.

E é aqui que chegamos a um ponto decisivo. O Chega já conseguiu mais do que pôr os seus temas no centro do debate político: a extrema-direita está a colonizar rapidamente o centro-direita. As reações ao caso da Rua do Benformoso são o retrato perfeito disso.

É impensável que um Governo formado por um partido com o património ideológico do PSD tenha patrocinado aquela ação. Ver um social-democrata relativizar a interferência do Governo em funções como a autonomia das forças de segurança é como ver um comunista a lutar pela economia de mercado.

Não só utilizou as polícias para fazer uma ação de marketing político (visibilidade, disse Montenegro), como a fez querendo mostrar que se estava a atacar a imigração e a de uma certa cor.

Não será a primeira vez, claro está, que um partido cai nas mãos de quem afinal não partilha os seus valores e o seu património ideológico. Das duas, uma: ou Montenegro é um puro pragmático (que não está a perceber o verdadeiro alcance das suas ações) ou então as linhas vermelhas em relação ao Chega, que não tinha nas eleições internas e que chegaram na campanha para as legislativas, foram um embuste.

O que foi demonstrativo da referida colonização foi terem sido apenas duas ou três vozes relevantes a terem denunciado a evidente quebra com o que devia ser a linha natural do partido – o único sinal positivo foi ter sido um ex-ministro e ex-candidato à liderança, Jorge Moreira da Silva, a fazê-lo. Assistir a pessoas que sempre estiveram no partido para o encostar a uma direita radical, como é o caso de Miguel Morgado, a fazer para o partido as despesas na defesa do indefensável disse tudo sobre aquilo em que o PSD está transformado: um clone sofrível do Chega.

Um social-democrata, um social-liberal, um democrata-cristão ou mesmo um conservador clássico fica sem espaço político que o represente. Aliás, um dos grandes eixos do combate político da extrema-direita é arrumar na esquerda toda a gente que não é a favor da sua linha. O grotesco é ver o PSD no poder a seguir também essa ideia.

Vamos ter eleições autárquicas, a conjuntura internacional vai deitar água na fervura da nossa euforia económica, mas o desaparecimento do centro-direita, que 2025 vai acentuar-se, irá alterar estruturalmente o equilíbrio político partidário e o próprio desenho da nossa democracia. Não será para melhor.

OUTROS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ Umas eleições que são um balanço

+ Perceções e governos

+ A autoridade a perder autoridade

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave: