Não é um exercício comum na nossa administração central, mas mais vale tarde do que nunca. Identificar as megatendências que influenciam, num horizonte temporal a vinte, trinta anos, as grandes questões da globalização e da geopolítica, com impactos diretos e indiretos em Portugal, nas suas opções e nos seus processos de decisão, é uma prática habitual em organizações internacionais e em democracias com uma cultura antecipatória. A estrutura do PlanAPP criada em 2021, na tutela da Presidência do Conselho de Ministros – no ensaio Portugal na Era dos Homens Fortes, sugeri uma secretaria de Estado na dependência direta do primeiro-ministro –, suporte de uma equipa multissetorial de prospetiva e análise de políticas públicas, tem tido o mérito de municiar departamentos ministeriais e decisores com informação sistematizada e avaliações comparativas que evitam abordagens de silo e um excesso de curto prazo na definição política.
Há dias, ao participar num debate preparatório do relatório final sobre as megatendências que até 2050 tenderão a gerar efeitos e oportunidades em Portugal – sociais, económicas, ambientais, securitárias, tecnológicas ou a combinação de várias –, testemunhei o mérito de um exercício interdisciplinar e interdepartamental, quando é pautado por um virtuoso circuito de contributos vindos das universidades, centros de investigação, organismos públicos e privados, e até organizações internacionais, capazes de melhorar a coleta de dados, identificar fragilidades em ângulos levantados e, sobretudo, ajudar a definir as prioridades estratégicas. Para usar o jargão do PRR, é uma espécie de agenda mobilizadora, que altera metodologicamente uma cultura de capela para uma outra colaborativa. Um país com a dimensão e os recursos de Portugal só beneficia se aproveitar de maneira integrada o que tem de forma dispersa e desarticulada. Este é o princípio base para enfrentar as próximas décadas.