O regresso de Robert Fico às vitórias na Eslováquia, em condições de formar uma coligação, diz alguma coisa sobre o estado das nossas democracias.
Primeiro, por se tratar de alguém que já foi primeiro-ministro por duas vezes, tendo a última acabado num pedido de demissão, após o assassínio do jornalista Ján Kuciak, em 2018, que na altura investigava uma teia de corrupção, que ligava governantes, empresários e a máfia italiana. Segundo, por se tratar de alguém que, apesar de caído em desgraça há poucos anos, conseguiu uma reabilitação política capaz de torná-lo novamente competitivo. Neste sentido, Trump parece já ter feito escola. Além disso, o tempo de reabilitação de Fico foi acompanhado de um incompreensível silêncio da família política europeia, os socialistas e sociais-democratas do S&D, incapazes de expurgar um corpo estranho ao centro-esquerda moderado, enfraquecendo com isso as críticas que justamente fizeram à relação entre Viktor Orbán e o PPE. Fico é o Orbán do S&D. Terceiro, por se tratar de alguém que se alimenta do discurso de ódio em crescendo nas democracias ocidentais – mais uma vez a escola trumpista –, empolgado pelo negacionismo na Covid, permeável às teorias de conspiração, validando tentações anti-UE, pró-russas e antiucranianas. Dizem as sondagens que a desinformação do Kremlin faz especial mossa na sociedade eslovaca, o que dá um caldo explosivo num país que teve quatro primeiros-ministros, nos últimos cinco anos, e cuja presidente, polo de moderação, não se recandidatará nas eleições do próximo ano.