A pedido de vários leitores, permaneço mais um pouco nos livros. Como já perceberam, há pelo menos duas inquietações que me acompanham nesta coluna, desde que a iniciei há um ano e meio, já para não recuar aos quase 17 anteriores noutros espaços da Imprensa escrita: cruzar a geografia com a política, trazendo algumas variáveis mais estanques à volatilidade dos acontecimentos, e acentuar a luta contra as desigualdades sociais e económicas como salvaguarda da saúde das democracias.
A primeira proposta é sobre o mar do momento. Desde a implosão da União Soviética e das consequentes independências, a região circundante ao mar Negro assistiu a revoluções na Ucrânia e na Geórgia, à invasão destas pela Rússia, à anexação da Crimeia, à cristalização dos enclaves da Transnístria (entre a Moldova e a Ucrânia) e de Nagorno-Karabakh (entre o Azerbaijão e a Arménia), viu a Bulgária e a Roménia aderirem à NATO e à União Europeia, e ainda à ascensão da Turquia como país do G20, com influência estratégica num radial de eixos entre o Mediterrâneo Oriental, os Balcãs, o Médio Oriente, a Europa Central e do Leste e a Ásia Central. Se estava por fazer um estudo histórico e político com o mar Negro no centro, Neal Ascherson preencheu essa lacuna.