Somos hoje plenamente livres para ser quem somos? O jovem da Escola Secundária, a quem, em função da sua orientação sexual, é adiado o afeto, o amor, o entusiasmo de ser jovem e a alegria, a quem falta a efetivação da educação sexual que esclareça, permita descobrir e combata preconceitos, dirá que não. Aquele que, pela sua identidade, tem necessidades de saúde específicas e especializadas e que sem elas garantidas lhe é impedida a sua afirmação também dirá que não. O jovem do Ensino Superior que não tem alojamento público estudantil e a quem é negado um quarto no mercado habitacional por discriminação dirá que não, que hoje a juventude não é plenamente livre para ser quem é.
O jovem trabalhador e a jovem trabalhadora que têm que deixar todos os dias à porta do local de trabalho quem realmente são porque o contrato não é efetivo, ou aqueles que não veem o dia em que poderão respirar desimpedidos, que poderão ser quem são sem necessidade de justificações, mesmo quando chegam a casa, porque os salários de miséria não lhes permitem sair de ambientes familiares adversos à sua afirmação e emancipação.
Passados 50 anos da Revolução de Abril, do culminar de décadas de resistência e luta contra ao fascismo, onde a juventude teve sempre papel, estão hoje postos em causa muitos dos direitos conquistados na luta e consagrados na Constituição da República Portuguesa de 1976. O artigo 13º estabelece o princípio da igualdade, um dos progressistas valores de Abril, aos quais a juventude e o nosso povo têm uma inegável ligação, como ficou claro com as massivas comemorações populares do 25 de Abril.
No entanto, no que toca a uma efetiva igualdade na vida, deparamo-nos hoje com dois problemas essenciais: primeiro, o apagamento do fator de classe no impacto das discriminações seja por raça ou etnia, por sexo, por identidade ou orientação sexual, procurando ilibar sucessivos governos da sua responsabilidade de resolver os problemas concretos da juventude e dos trabalhadores. Segundo, o agitar de velhos e novos preconceitos para fomentar o ódio, o individualismo e a inveja, com o objetivo essencial de dividir aqueles que, sendo todos diferentes, se confrontam lado a lado, todos os dias, com as mesmas injustiças e que juntos reúnem forças capazes de transformar.
Mas não há quem consiga enjaular os sonhos da juventude. Os sonhos de uma vida melhor, de uma vida com direitos, com Educação pública, gratuita, democrática e de qualidade, com acesso ao SNS, com trabalho cujos salários cheguem ao fim do mês e com contratos efetivos, com habitação digna e a preços acessíveis, com a preservação dos ecossistemas e combate às alterações climáticas, com desporto, com Cultura. Todos diferentes, os jovens sonham em participar e contribuir, em ter uma vida alegre e feliz, com tempo para família, amigos e para namorar, sonham com uma vida em que, tendo garantidos os seus direitos essenciais, vêm garantido também o direito a ser quem são.
Unindo em torno dos sonhos partilhados cabe-nos a exigência de, vendo para lá da areia que nos atiram aos olhos, para além do racismo e da xenofobia, para além das discriminações em função do sexo, da identidade e da orientação sexual ou qualquer outra forma de discriminação, avançarmos juntos! Reconhecendo que, em cada esquina, naquele que connosco partilha as injustiças está um amigo, lutemos juntos para que em cada rosto se concretize a igualdade. Todos diferentes, sonhos iguais, juntos avançamos!
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