Oito anos depois, terminam os Governos de António Costa. Quem ouvisse o ainda primeiro-ministro em 2014, quando desocupou António José Seguro do Largo do Rato, ou antes das eleições de 2015, esperaria que a sua eventual experiência governativa fosse transformar o País. Eram os tempos da célebre “Agenda para a Década”. Ao fim de quase uma década de António Costa, o País não viveu substancial transformação, foram escassas as reformas, os serviços públicos estão caóticos, os indicadores de pobreza continuam dramáticos, nunca foi tão difícil arrendar ou comprar casa e a carga fiscal é a maior de sempre. Foram os anos do “habituem-se”. Foram 8 anos de paragem.
O PS passeou-se pelo poder, foi para o Governo com um pensamento revanchista, quis meter-se em tudo o que mexe na sociedade portuguesa, tudo tinha de ter o seu agreement, usou o poder para tentar consolidar a sua hegemonia, mas não o usou para mudar a vida dos portugueses para melhor.
O dramático fim dos Governos de António Costa com o inefável Galamba, o dinheiro vivo escondido em São Bento, o amigo que passou a ex-melhor amigo, tudo amalgamado com lítio e hidrogénio, parece o último capítulo de um clássico de literatura de cordel, após 8 anos dos quais pouco ou nada ficará de estrutural para o nosso futuro coletivo. Claro que, mesmo na queda, não podiam faltar Centeno e Santos Silva a este triste epílogo.
De acordo com a narrativa destes últimos 8 anos, tudo o que correu mal e tudo o que não se fez tinha os seus responsáveis exteriores ao PS: primeiro, Passos, depois a pandemia, e mais recentemente, a guerra. A falta de professores nas escolas, a incapacidade de chegar a um acordo com os docentes, as urgências fechadas, mais de 1.6 milhões de portugueses sem médico de família (eram 1 milhão em 2015), o SNS em colapso após se ter quase duplicado o seu orçamento, a ultrapassagem pelos países de leste, a destruição do SEF, os mais de 3 mil milhões de euros para a TAP, a incapacidade de escolher um local para o novo aeroporto de Lisboa, a emigração jovem qualificada aos milhares, quase 2 milhões de pobres, o salário médio que não cresce, a dificuldade nunca antes vista dos jovens portugueses conseguirem comprar ou arrendar casa, o drama do alojamento dos estudantes deslocados, os investimentos cativados. Podia continuar, mas este é um pequeno balanço não exaustivo dos reais problemas com os quais estamos confrontados e para os quais nada de estrutural foi feito ao longo dos últimos 8 anos.
Quando confrontado com alguns destes problemas, qualquer socialista dirá que são culpa “do Passos, da pandemia ou da guerra”. Patético ou não, o argumento serve também para demonstrar que efetivamente não tivemos governo para resolver problemas e reformar o País. Procurando ser defensiva, esta narrativa é também a confissão do total fracasso da Governação dos últimos 8 anos. Cai agora o pano a um Governo que, durante 8 anos, existiu apenas para se preservar no poder, sem vontade reformista. Os últimos três governos socialistas – Guterres (2001), Sócrates (2011) e Costa (2023) – acabaram de forma semelhante, com o País de rastos, prostrado e fatigado.
O País que vai a votos próximo dos idos de março de 2024 necessita de um grande conjunto de reformas e mudanças estruturais, precisa de um novo governo que não se limite a gerir o presente, o dia ou a semana, precisa de uma governação que nos tire da cepa torta, que tenha vontade de resolver os problemas que acima elenquei.
Se não o fizermos, estaremos a falhar às atuais, mas também às novas gerações. Depois do governo menos reformista, mais situacionista, imobilista e conservador das últimas décadas, necessitamos de virar a página. Não temos de estar condenados a um País onde não há esperança de ser mais do que isto, do que o “ramerrame” do costume, um país sem elevador social, um país sem ambição. O país do PS. Um país que serve a quem quer apenas estar no poder, mas não serve para convergirmos com as sociedades mais desenvolvidas e prósperas da União Europeia e garantir qualidade de vida, melhores salários ao fim de cada mês e igualdade de oportunidades para os filhos das famílias mais pobres. Temos uma nova oportunidade a 10 de março.
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