Isto é um elogio. Genuíno. De um não socialista. Tenho imensa pena que António Costa deixe de ser primeiro-ministro: estará em gestão até ao novo Governo, mas não era suposto terminar desta forma, e na confusão que foi. O Presidente sempre disse que não gostava de instabilidade, e incerteza, e esse sentimento deve ser comum à maioria dos portugueses. Ninguém gosta, nada.
António Costa é o único político em Portugal que exerceu, sem hiatos temporais, todos os cargos políticos eletivos em Portugal, com a exceção da Presidência da República, que não deixará de estar ao seu alcance, se quiser. E este dado é de uma importância extraordinariamente relevante: foi sempre escolhido pelos eleitores para esses cargos. Ou seja, foi escrutinado, avaliado e votado para estar onde esteve. Não entrou por nomeação, por empurrão, ou por conspiração.
O seu pedido de demissão, há um mês, foi o que tinha de ser, nas circunstâncias e perante o alvoroço judicial, político e mediático nacional. Protegeu o cargo, a dignidade da instituição, e saiu de cabeça erguida. Só pediu, com natural razão, que o Supremo Tribunal decida rapidamente o que vai fazer, para não se eternizar num processo com o qual nada tem a ver. Ninguém acredita que o PM estivesse alguma vez envolvido no que levou ao 7 de Novembro, e que acabou sem foguetes nem canas.
Este PM foi escolhido pela maioria dos eleitores para governar por mais quatro anos, o que significou que lhe foi reconhecido o trabalho que executou na primeira legislatura. A maioria absoluta foi um prémio, e também a manifestação da vontade maioritária de se ter estabilidade e descanso por quatro anos. Ninguém gosta de insegurança, indefinição e hesitação. Já bastou o que vivemos com o Covid, e agora com as duas guerras. Fica um sabor amargo.
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