Ao contrário do que se imaginará, Henry Kissinger não era um orador musculado ou um político tremendista e ameaçador. Pelo contrário. Era suave, obstinado e incansável. Vencia os adversários por cansaço. Tinha uma voz forte, um inglês pronunciado, e uma força física invejável. Ter chegado aos 100 anos diz tudo (nunca ninguém se esquecerá, há dias, quando uma das televisões americanas ainda anunciava que não se sabia a causa da morte!)
Ficará na história por todas as razões (conheci-o pessoalmente em Lisboa há mais de 15 anos), mas há duas marcas que a ele ficarão associadas: foi o secretário de Estado que mais voltas deu ao mundo, nas suas correrias entre o Médio Oriente e a Indochina. Vivia no avião. Casos houve em que não tinha tempo de ir a Washington, e despachava tudo entre voos. Mulherengo assumido, teve como companheiras várias atrizes famosas, muito embora a sua figura física fosse o oposto do homem de sonhos: era baixinho e gordinho.
Foi Kissinger que disse a Nixon, a 8 de Agosto de 1974, na Sala Oval, as palavras finais e decisivas:
Kissinger: Sr. Presidente, acho que já perdeu a batalha. Será lembrado como um grande presidente se renunciar. Se continuar no cargo estará condenado à ruína.
Nixon: (silêncio)
Kissinger: Sr. Presidente, acho que tomará a decisão certa.
Nixon: Sim, acho que sim.
Kissinger: Vai renunciar?
Nixon: Sim, vou renunciar amanhã!
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