A Argentina ganhou, pela terceira vez na sua história, o Mundial de Futebol de 2022, no mesmo dia em que o Papa Francisco revelou, numa entrevista, que entregou, em 2013, uma carta de demissão, para ser usada se não tivesse condições de saúde para manter-se como chefe da Igreja Católica. Uma grande vitória no futebol, e uma grande desilusão com o Papa argentino.
A demissão de um Papa vulgariza a cadeira de S. Pedro. Os católicos convictos acreditam que a escolha de Francisco teve a intervenção do Espírito Santo, que iluminou os cardeais, e a sua ascensão divina não é comparável a um cargo publico, ou a uma função transitória. Quando Bento XVI renunciou, a Igreja e os fiéis foram apanhados de surpresa. «Um Papa não desce da cruz», disse um dos cardeais, também ele estupefacto.
A Igreja Católica não pode ter três Papas, mesmo que dois eméritos, e um a desempenhar o pontificado. O Papa Francisco nunca deveria ter escrito essa carta. Isso faz-se nas empresas, na política, e em muitas outras situações, mas jamais como Sumo Pontífice. O sucessor de Pedro não resigna, não abdica, não suspende a sua escolha. É muito confuso, para o mundo católico, que acredita em dogmas da fé.
Bento XVI desceu da cruz, o que nunca deveria ter acontecido, e agora Francisco anuncia que poderá chegar o dia em que fará o mesmo. Outra vez? Um Papa tem de o ser, até ao fim. Até Deus o chamar. Até o Espírito Santo voltar para iluminar os cardeais. O Papa nunca morre, porque só há um Papa, e a sua missão não é apenas terrena, e temporal. É uma primazia vitalícia.