1. Tem sido muito sublinhado o facto das sondagens sobre as legislativas darem um empate entre a coligação PSD/CDS (Portugal à Frente – PàF) e o PS, quando os socialistas já nelas estiveram bem à frente. Assim, enquanto em tempos se tinha como certa uma clara vitória do PS, vitória que nas europeias só admirou por escassa, hoje não é assim. Esta mudança, se não inversão, nas expectativas, constitui um elemento altamente favorável à PàF.
No entanto, tal empate não me parece tão surpreendente como se tem dito. Já no início de janeiro aqui escrevi que “a próxima pugna eleitoral será muito mais disputada do que antes se previa”, atendendo à “inesperada capacidade política” revelada por Passos Coelho e a alguns “fatores externos” que lhe são favoráveis. Ora, desde então tais fatores, como a descida das taxas de juro e do preço do petróleo, só se acentuaram. Mais, surgiram outros que em si mesmos, ou pelo aproveitamento que deles é feito, favorecem a PàF. Entre os quais sobressai de facto o “caso” da Grécia, que representa uma acrescida dificuldade para o PS, ainda maior do que a do não negligenciável “caso” Sócrates.
2. Face a esta situação, e a uma certa oposição interna (vinda de uma parte de ex apoiantes de Seguro, socratistas radicais e adversários da abertura e renovação políticas ensaiadas por António Costa, visível no apoio implícito à candidatura presidencial de Sampaio da Nóvoa e na escolha de cabeças de lista para as legislativas como Alexandre Quintanilha no Porto e Tiago Brandão Rodrigues em Viana), o que podem o PS e o seu líder agora fazer?
Antes da reposta: à partida faltou ao PS promover uma ampla iniciativa com os objetivos e a dinâmica dos Estados Gerais para uma Nova Maioria, de Guterres. Mas houve, por exemplo, um trabalho sério, mormente do grupo de economistas, para um consistente e fundamentado programa eleitoral. Muito louvável, embora talvez não dê muitos votos. E ao nível da propaganda não existiu até hoje uma palavra de ordem ou uma imagem mobilizadora: “Confiança” não diz nada; e um enorme cartaz que parece meio da IURD meio da Coreia do Norte é uma desgraça…
3. Repito: que fazer então? Se bem ajuizo, daqui para a frente, Costa tem de centrar e apurar muito o foco da “mensagem”, melhorar a forma de a fazer passar, através de quem (não pode ser só ele a transmiti-la) e quando. O que é especialmente difícil dado o estado dos “media”, em geral, e a influência das redes sociais em que campeia a manipulação, inclusive a organizada em favor do “poder”.
E, quanto à “mensagem”, não pode privilegiar só o que o PS se propõe fazer, em contraponto com o que se propõe a PàF. É-lhe essencial sublinhar com rigor e vigor o que foram os quatro anos de Governo PSD/CDS, a ofensiva contra o Estado Social, ou o próprio Estado tout court, a fúria privatizadora e suas consequências, a não defesa intransigente da dignidade nacional; mostrar a desproporção entre os resultados positivos e os negativos, entre o que os portugueses sofreram e o que se conseguiu. Umas eleições são também um veredito sobre a ação do governo que chega ao fim do mandato: se é de uso dizer que Sócrates deu ao PS a sua maior vitória de sempre, mais correto será talvez notar que quem lha deu foi Santana Lopes…
4. Ainda quanto aos resultados do PS nas sondagens, tem de se considerar o aparecimento de novos partidos à esquerda, que também lhe retiram “intenções de voto” – mesmo que depois, por efeito do “voto útil”, possam porventura retirar menos votos. A propósito desses partidos, uma nota sobre os debates eleitorais nas televisões. Creio correto que deles sejam totalmente afastados partidos que têm existência legal mas de facto não existem. Já é mais duvidoso que o sejam partidos com “identidade” e uma certa votação em anteriores eleições. Mas tal afastamento é incompreensível e injustificável em relação a novos partidos, pelo menos quando têm como dirigentes e/ou a ser candidatos figuras conhecidas da vida política e pública, como o Livre/Tempo de Avançar e o PDR.