Diz um novo estudo que faltam 180 anos, entre cinco e seis gerações, para que as mulheres atinjam igualdade face aos homens dentro de casa. Segundo esta investigação, um grande trabalho promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre a Mulher hoje em Portugal, “serão necessárias cinco a seis gerações para que se alcance uma distribuição equilibrada das tarefas domésticas entre sexos”, entre os casais em que ambos trabalham fora de casa.
Custa-me ver replicada esta parangona acriticamente. Não acredito de forma alguma neste número. Ou seja, estamos a antecipar futuros comportamentos sociais à luz dos nossos preconceitos e na nossa mentalidade atual. É uma análise falaciosa, porque – felizmente – há ritmos de mudança exponenciais, revolucionários. Se a paridade nos cargos de chefia e salarial pode demorar mais a acontecer, porque não depende apenas da vontade das mulheres, a paridade dentro de casa está muito mais nas suas mãos. E as miúdas de hoje são muito menos burras do que nós éramos (e somos).
O estudo é feito mulheres acima dos 18 anos (a maioria entre os 35 e os 44 anos) e extrapola-se a partir daí a evolução ao ritmo que, na última geração, evoluiu a contribuição do homem para a execução das tarefas domésticas. Se calhar era bom falar-se com jovens de 12, de 14, de 16 anos para perceber a diferença abissal de mentalidades nestas cabeças. Sim, ainda vejo amigas que se dizem feministas a carregar, ionicamente, a esmagadora maioria das tarefas domésticas. Mas não vejo, de maneira nenhuma, a minha filha de 15 anos, e muito menos a minha de 5, a tolerarem adiante algo que não seja igualitário quando vierem a partilhar casa e constituir família. Nem nenhuma das suas amigas. As nossas netas ou bisnetas a admitir que o marido fique por sistema refastelado no sofá enquanto elas passam a ferro depois do trabalho? Não creio.
É preciso perceber que a escalada igualitária é avassaladora e muito mais rápida agora: há coisas que estas miúdas simplesmente não vão aceitar e que eu tolerei e tolero, em casa e fora dela. Elas são, felizmente, mais exigentes, mais reivindicativas, mais ferozes no combate pelos seus direitos, e com pouco que as prenda ao passado a não ser a biologia (há tarefas que a natureza não permite partilhar, mas são poucas e temporárias). E são as nossas miúdas que vão exigir serem tratadas com tudo a que têm direito, sobretudo na partilha de tarefas domésticas e de cuidado dos filhos – situações que estão na sua disponibilidade e dependem essencialmente da sua vontade.
Estamos a analisar o mundo com os nossos olhos e à luz dos nossos preconceitos, e não à luz do que estas jovens pensam e querem para si. Não as tomemos por tolas, por favor. E cabe-nos a nós, sobretudo nós mães, garantir que as educamos exatamente assim: como mulheres independentes, inteligentes e zelosas da paridade.