A matemática é incrível, vejamos estes números, que não são primos, mas parecem:
130 buscas na Madeira e no continente + 200 inspetores + 2 aviões militares + 3 arguidos + 21 dias de cativeiro = zero indícios de prática de ilegalidades
1 dia de buscas na Câmara Municipal de Sines + 1 autarca + 6 dias de cativeiro = não há indicação da suspeita de qualquer crime
Bem sei que “à Justiça o que é da Justiça”, e que a Justiça é, ela própria, um poder, soberano, independente e imparcial. No entanto, começa a ser confrangedor o que se passa na Justiça e que mais parece um jogo entre gato e rato, onde o cidadão comum assiste sem poder fazer algo.
É certo que a Justiça tem o seu tempo e que necessita de tempo, mas na era da informação ao nanossegundo torna-se urgente a modernização. Tal como a conhecemos a Justiça precisa de reforma. Não podemos ter o Ministério Público a acusar, a Polícia Judiciária a sublinhar que “não iria desviar-se um milímetro da investigação” e o Tribunal de Instrução a não identificar indícios e a mandar embora (em paz).
É preocupante quando uma das asas da Justiça se vê obrigada a emitir um comunicado onde afirma que a detenção prolongada era da exclusiva responsabilidade da outra asa, e estranhando a “absolvição” dos três suspeitos depois de “cinco diferentes juízes de instrução proferiram no processo decisões sustentadas na convicção de existirem já então indícios de ilícitos criminais imputados”, conforme se lê no comunicado da PGR.
Num país onde o Índice de Perceção da Corrupção, publicado anualmente pela Transparency International, revela que “o combate à corrupção continua a não avançar e tem falhas ao nível da integridade na política”, num país onde a sabedoria popular diz que a Justiça leva anos e anos a concluir um processo – e se este for relacionado com heranças a conclusão chega a atravessar gerações – torna-se urgente que o próximo governo tenha um titular da Justiça disposto a agitar, a reformar, a fazer. O perfil para este titular é simples de traçar: o oposto aos perfis que tutelaram a Pasta nos últimos 8 anos. Será o próximo líder de Governo capaz de recrutar esse perfil?
Há investigações em cursos, mas esta semana ficamos a saber que um dos casos mediáticos que levou à demissão de um governante, Miguel Alves terminou com a absolvição do ex-secretário de estado adjunto de António Costa. O que acontece se não houver acusações nestes casos em investigação, ou se terminarem da mesma forma? Acontece que se derrubaram titulares de cargos públicos eleitos democraticamente injustamente. E isto é uma troca de poderes perigosa para o regime.
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+ Não se governam, nem se deixam governar
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