Por estes dias, o futebol tem-se resumido a conversas sobre o beijo de Luis Rubiales, presidente da federação espanhola de futebol, à jogadora e campeã do mundo Jennifer Hermoso. O beijo, que aconteceu na cerimónia que sagrou a equipa espanhola vencedora do Mundial de Futebol Feminino, não é propriamente o primeiro do género. No entanto, é o primeiro que fez eclipsar as notícias que dão conta do recorde de dois milhões de espetadores nos estádios, as audiências televisivas em diversos países e de receitas na ordem dos 570 milhões de dólares.
O beijo aconteceu a 20 de agosto, mas ainda não consegui perceber ao pormenor todos os meandros deste caso. Eventualmente, teremos de aguardar que alguém se lembre de realizar um documentário para que a verdade venha à tona, há semelhança do caso Quereda, que em 2015 acompanhou a seleção feminina espanhola à Copa do Mundo de Futebol Feminino.
Para baralhar tudo isto, há quem compare o beijo de Rubiales a Jennifer com o beijo de Iker Casillas à então namorada Sara Carbonero. Mas este em nada pode ser comparado. Casillas e Carbonero tinham uma relação íntima.
Condeno veementemente todo o comportamento de abuso de poder, seja machista ou não. E condeno a conduta daquele beijo, naquele momento. Foi um beijo que transformou um momento de festejo, de felicidade da seleção espanhola, dos espanhóis, num caso que tem muito pouco a ver, para não dizer nada a ver, com futebol. É abuso de poder.
É certo que poderá estar a haver uma manipulação, um aproveitamento do momento, e que o momento possa estar a ser instrumentalizado para que o presidente da federação espanhola seja afastado do cargo. Todas as hipóteses são válidas. No entanto, a condenação pública está feita e a única solução que restava a Rubiales era afastar-se e ficar para a história como o presidente que se demitiu porque no calor do momento beijou uma jogadora – a história gosta de estórias cor-de-rosa.
Seria uma demissão injusta? Teria sido desnecessário naquele contexto dar um beijo a uma jogadora. Mas, com o “mal feito”, teria aconselhado a assumir a responsabilidade e a justificar o ato com o calor e a alegria do momento, pedir desculpa e, porque não, colocar o lugar à disposição. Agora é tarde. Abusadores de poder não podem ter lugar em cargos de liderança.
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