As “bolhas de certezas” permeiam as interações humanas, onde cada indivíduo tem as suas previsões automáticas sobre as emoções dos outros, mas sabe pouco sobre as verdadeiras emoções alheias. A capacidade do cérebro de prever tudo, faz-nos questionar como as expressões faciais dos outros são interpretadas, com base nas suposições emocionais armazenadas na memória.
A boa comunicação é a solução para essa confusão preditiva, enfatizando a necessidade de treinar a conscientização de que cada indivíduo está imerso na sua própria “bolha preditiva”. Reduzir a especulação e cultivar uma comunicação livre do ego, revela-se essencial para estabelecer conexões autênticas entre as pessoas, evitando o impacto nas “paredes narcísicas” à nossa volta.
A capacidade de compreender as emoções dos outros é fundamental para o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis e significativos. No entanto, encontramo-nos presos em “bolhas de certezas”, onde acreditamos, erroneamente, que conhecemos as emoções dos outros, embora tenhamos uma compreensão limitada da realidade emocional alheia.
Vejamos mais em pormenor as “bolhas de certezas” e a ilusão emocional.
Previsão automática do cérebro
O cérebro humano é altamente adaptativo e constantemente tenta prever o mundo ao seu redor, incluindo as emoções das outras pessoas. Essas previsões são baseadas em experiências passadas e nas informações armazenadas na memória. No entanto, essas previsões automáticas podem ser influenciadas por vieses
cognitivos, limitações perceptivas, e diferenças culturais, resultando numa visão distorcida das emoções dos outros.
Correspondência ilusória
A correspondência ilusória ocorre quando interpretamos as expressões faciais dos outros com base nas nossas próprias suposições emocionais, levando ao viés da ilusão de controlo. Mesmo que as expressões faciais possam variar de acordo com a cultura, personalidade e contexto, tendemos a acreditar que as nossas previsões são precisas e que os outros estão a sentir exatamente o que acreditamos. Essa ilusão de correspondência pode levar a mal-entendidos, conflitos e dificuldades na formação de conexões interpessoais genuínas.
Assim, revelo a importância da comunicação, com base no conhecimento do funcionamento do cérebro.
Superar a confusão preditiva
Para superar as “bolhas de certezas” e a ilusão emocional, é essencial dar prioridade à comunicação efetiva. Através da comunicação aberta e honesta, podemos desafiar as nossas previsões automáticas e confrontar os nossos próprios viéses cognitivos. Ao expressarmos as nossas emoções e ouvirmos ativamente os outros, criamos um espaço onde as verdadeiras experiências emocionais podem ser compartilhadas e compreendidas.
Comunicação sem ego
Um dos principais obstáculos para uma comunicação eficaz é o ego e a auto-referência, ou seja, as próprias suposições automáticas, que muitas vezes influenciam as nossas interações. O ego leva-nos a buscar a validação das nossas próprias ideias e a resistir a perspectivas diferentes das nossas. No entanto, para
nos conectarmos verdadeiramente com os outros, é necessário deixar o ego de lado e estar aberto à possibilidade de estar errado, ou de ver as coisas de uma nova forma. Ao praticar a comunicação com base no conhecimento do automatismo do cérebro, podemos estabelecer uma atmosfera de compreensão mútua e respeito, promovendo a conexão interpessoal autêntica.
Treinar a lembrança da “bolha preditiva”
Para melhorar a nossa capacidade de comunicação e superar as “bolhas de certezas”, é fundamental treinar a consciência da nossa própria “bolha preditiva”. Isso envolve reconhecer que as nossas previsões automáticas podem estar equivocadas, e que as emoções dos outros podem ser mais complexas e diversas do que imaginamos. Ao cultivar a consciência da nossa limitação pessoal, biológica e emocional, estando abertos a novas perspectivas, podemos expandir a nossa inteligência emocional e fortalecer as nossas habilidades de comunicação.
As “bolhas de certezas” representam um desafio significativo para o estabelecimento de conexões interpessoais autênticas. Reduzir os “achismos” e praticar uma comunicação livre de ego são os segredos para uma conexão mais profunda e significativa entre as pessoas. O conhecimento do funcionamento do cérebro facilita este treino.
À medida que exploramos e aprimoramos essas habilidades, abrimos espaço para uma compreensão mútua mais genuína, e construímos relacionamentos mais saudáveis e enriquecedores.
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