Sem narrativas internas, seríamos prisioneiros num mundo sem sentido. Para sobreviver, o cérebro precisa contar essas histórias a si mesmo para obter um feedback constante sobre o seu desempenho na vida. A evolução levou este órgão a criar heurísticas e vieses, na formação de crenças, de forma a que as ações e decisões utilizassem o mínimo de energia possível e fossem rápidas e eficientes. O problema é que esses vieses podem sabotar-nos e levar-nos a errar, mais do que pretendemos.
O medo de cometer erros está muito presente, especialmente na experiência laboral. No geral, a realidade, não representa o que as pessoas vivem, acreditam ou experimentam. É por isso que precisamos ser muito humildes e admitir que não somos donos da verdade, e que não podemos apenas punir o erro.
Qual o motivo de ser tão difícil admitirmos que estamos errados? Como resultado do medo de cometer erros, que nos foi ensinado ao longo dos anos, surge o viés de confirmação: uma falácia lógica que alimentamos
inconscientemente. Resumidamente, é a tendência de lembrar, interpretar ou pesquisar informações para confirmar as nossas crenças ou hipóteses iniciais. É o feedback que formulamos para nós mesmos, na maior parte das vezes inconscientemente, com base no que nos fez ser aceites nos grupos onde vivemos, tornando-se uma armadilha perigosa para nós.
As pessoas também têm mais probabilidade de procurar informações desejáveis e de acreditar e reforçar as suas crenças, quando recebem informações desejáveis. Na verdade, não nos apercebemos de que estamos errados. O cérebro não regista bem aquelas informações que vão contra o que acreditamos, especialmente quando são negativas. Existem formas de perceber quais as alterações na atividade cerebral que devemos notar quando recebemos novas informações. Podemos ver que há menos “registo” a acontecer quando a
informação não é desejável, ou contrária ao que acreditamos.
Qualquer pessoa que tenha um bom conhecimento sobre como o cérebro funciona, sabe que podemos contornar toda essa “má história” que ele teima em contar. Existem formas muito eficazes de nos protegermos dessas armadilhas cognitivas.
Existem registos de, pelo menos, 120 vieses cognitivos, mas o mais famoso é sem dúvida o viés de confirmação, segundo o qual procuramos e aceitamos mais facilmente informações que confirmam o que já acreditamos. Portanto, precisamos cercar-nos de evidências que tornem o nosso caminho mais prudente e respeitar cada um dos nossos erros e sucessos, como resultado de uma aprendizagem interminável. Na experiência laboral, ou mesmo na contratação, estes conhecimentos são cruciais, para que seja feita uma análise imparcial.
Embora a raiz esteja nas pessoas, claramente somos fortemente influenciados pelo ambiente em que operamos, e pela empresa em que trabalhamos. Por exemplo, uma empresa que pune os erros dos funcionários, irá encorajá-los a ter novas ideias, ou simplesmente irá bloqueá-los por medo de cometer erros e serem punidos, novamente?
Reza a história que Thomas Edison fez inúmeras tentativas antes de conseguir fazer a sua lâmpada funcionar. Houve tantos erros que um dos seus assistentes sugeriu que ele não perdesse mais tempo e desistisse, uma
vez que, após 700 tentativas, eles não haviam avançado nem um passo. Ao que ele respondeu: “O quê? Não avançamos nem um passo? Fizemos 700 passos em direção ao sucesso final! Conhecemos 700 formulações que não funcionaram! Estamos além das 700 ilusões que tínhamos anos atrás e, que hoje, já não nos enganam. E isso é o que você chama de perda de tempo?”
As culturas das empresas que incentivam o novo, estimulam as pessoas a pensarem de forma diferente, porque lhes é permitido fazê-lo, porque não serão punidas se algo correr mal ao longo do caminho. Com isso, diluem-se os medos, um dos principais paralisantes da inovação, e um factor de resistência à mudança, até para formar novos hábitos.
Resumindo, compreender como funciona o nosso modelo mental é o primeiro passo para mudarmos a forma como agimos e como criamos a experiência laboral.
A escolha de mudar será sempre nossa, assim como a responsabilidade de inovar, ou não, começa connosco. A tentativa de manter o status quo leva à inércia, a aversão à perda leva ao medo de cometer erros e,
consequentemente, ao medo de mudar. Torne a sua “base empresarial” a melhor experiência laboral de sempre.
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