Portugal ‘acordou’ para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020! Com o início das competições começaram as (irrealistas) expetativas de ganhar uma palete de medalhas. Isto apesar da larga maioria dos portugueses ignorar o nome dos atletas que integram a Missão, as modalidades que praticam, os seus resultados ou o seu nível competitivo. Vive-se cada resultado aquém do pódio como um falhanço, desconsiderando o esforço, empenho e dedicação diários de todos os atletas, ao longo de vários anos. E, acreditem, ninguém mais do que eles deseja ganhar.
Facilmente se olvida que vivemos num país com uma das mais baixas taxas de prática desportiva em comparação com os congéneres europeus, uma nação onde a maioria dos jovens abandona precocemente essa paixão, além da percentagem de investimento do PIB no desporto ser… anémica. Com 24 medalhas olímpicas em mais de 100 anos – média de uma a duas por edição – não podemos sonhar com uma mão cheia de pódios em Tóquio. O talento, a geração espontânea e alguns atletas pontuais que se destacam em determinada modalidade não vão alterar esta realidade, apenas camuflá-la. Da mesma forma que a conquista de várias medalhas nos Jogos Olímpicos não significa, per si, um país desportivamente desenvolvido. Especialmente se os resultados emergirem de prestações pontuais ou ‘importações’ de última hora.
Sem prejuízo da imprevisibilidade dos resultados, as expetativas devem estar fundadas na performance competitiva internacional dos atletas, nos seus resultados desportivos anteriores e não num ‘wishfull thinking’. Devemos ter consciência de que esta Missão de Portugal a Tóquio 2020 integra atletas com objetivos desportivos distintos: alguns ambicionam, legitimamente, conquistar uma medalha, se analisados os seus resultados nos últimos campeonatos mundiais, outros almejam um resultado entre os oito primeiros (Diploma Olímpico) e há ainda os que objetivam qualificar-se nos 12 lugares cimeiros. Nenhum dos desportistas que integra a Missão portuguesa a Tóquio participa por convite. Os nossos atletas garantiram a sua presença com resultados de mérito, qualificando-se entre os melhores do mundo e, por essa razão, já merecem o nosso reconhecimento. É injusto criticá-los gratuitamente se não ganharem medalhas.
Os atletas procuram no desporto atingir a superação e transcenderem-se, competindo contra eles próprios e contra dezenas de adversários que diariamente, e durante anos, buscam o Olimpo. A falta de medalhas não se deve ao maior ou menor empenho, mas a um sistema desportivo pouco robusto, um modelo societário no qual o desporto e a atividade física não têm expressão e dignidade suficientes para se afirmarem como um fator fundamental no desenvolvimento dos seus cidadãos. A esta fragilidade acresce um défice de cultura competitiva quando nos reportamos ao alto rendimento.
Urge alterar este sistema desportivo envolvendo todos os agentes. Continuar a fazer o mesmo e esperar resultados diferentes é um exercício inglório. E que tem sido repetido. Não sendo suficiente hiperbolizar alguns resultados pontuais com o beneplácito das maiores figuras do Estado ou de quatro em quatro anos menorizar os resultados dos nossos atletas olímpicos.
Nota: Para memória futura recordemos que, e de acordo com o Contrato programa celebrado entre o Comité Olímpico de Portugal e o Instituto Português do Desporto e Juventude (Contrato n.º 33-A/2018), são este os objetivos da Missão Portuguesa para Tóquio 2020:
Participação dos atletas:
- Não inferior a 2 posições de pódio;
- Não inferior a 12 diplomas;
- Não inferior a 26 classificações entre os 16 primeiros.
- Aumentar a pontuação dos resultados obtidos, ou seja, obter mais de 40 pontos nas classificações entre os 8 primeiros.
- Aumentar para 80 % o rácio entre atletas apoiados e atletas selecionados para competirem nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020.
- Aumentar a representatividade das modalidades participantes nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, ou seja, qualificar atletas de 19 modalidades distintas.
- Aumentar o rácio da participação por género para 40 % de atletas femininas selecionadas para competirem nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020.