Nos últimos anos, temos assistido ao surgimento de várias startups portuguesas que rapidamente se afirmaram como líderes mundiais nas suas áreas de atuação – Codacy, Farfetch, Feedzai, Outsystems, Unbabel. E outras são já apontadas como a próxima geração de startups nacionais a dar cartas no que diz respeito à sua capacidade de inovação.
Mas numa indústria em que a capacidade de inovar, e de inovar rapidamente, é decisiva para a afirmação das startups originando necessidades de capital recorrentes, em que momento podem e devem estas empresas e os seus empreendedores considerar uma entrada em bolsa? Numa fase inicial – em vez de optarem pelos tradicionais Venture Capital ou Private Equity – ou mais tarde, quando já alcançaram o estatuto de unicórnio – correndo no entanto o risco de os seus fundadores terem entretanto prescindido do controlo do negócio e da estratégia das empresas que criaram e talvez até da sua identidade, entretanto entregue aos investidores financeiros? Qual o caminho que estas empresas deverão prosseguir e como podem conciliar a angariação dos fundos necessários com a desejável preservação de controlo nos seus fundadores?
É certo que uma entrada em bolsa requer reunir uma série de requisitos, afinal os investidores de mercado são os mais exigentes e apenas as empresas mais bem preparadas poderão concluir com sucesso um uma admissão em Bolsa. Mas reuni-los pode estar ao alcance de mais empresas do que se julga.
Um dos aspetos mais distintivos do financiamento no mercado de capitais é a liberdade que os investidores conferem à equipa de gestão. São investidores que não pretendem de modo algum interferir na gestão da empresa, mas antes confiam na equipa de gestão para prosseguir a sua visão e estratégia, promovendo assim o crescimento da empresa e – em última análise – também a rentabilização do seu investimento. Optar por uma entrada em bolsa está por isso muitas vezes associada à confiança e ambição dos empreendedores.
Para atrair estes investidores é por isso essencial ganhar a sua confiança e isso requer apresentar uma equity story sólida e atrativa: demonstrar a vantagem competitiva em que assenta a diferenciação da empresa, a aceitação por parte do mercado (com uma carteira de clientes de reputação internacional ou de investidores-âncora), a oportunidade e capacidade de fazer crescer o negócio e apresentar uma equipa de gestão experiente que demonstre um sólido conhecimento do mercado e que seja suportada por um modelo de governance sólido.
Porque não vemos então mais empresas early-stage a entrar em bolsa? Por que razão os unicórnios têm de ir para a bolsa de Nova Iorque? Bem, na verdade, uma e outra ideia estão erradas.
Olhando apenas para a Euronext – a bolsa pan-Europeia líder no segmento de empresas tecnológicas com cerca de 480 empresas cotadas e 115 novas entradas desde 2015 – encontramos vários exemplos que demonstram (i) a capacidade de realizar transações entre €10M e €50M (e foram 25 empresas a fazê-lo desde 2017), mas também (ii) a possibilidade de realizar operações acima de €1bn e em menos de um ano triplicar o valor da empresa de €7bn para €20bn (foi o que fez a Adyen, a fintech holandesa, que detém uma posição de liderança mundial em sistemas de pagamentos).
E apesar de parecer algo bastante complexo, a verdade é que as empresas podem optar entre diferentes modalidades de admissão, colocação e mercados e assim encontrar o modelo que mais se adequa às suas necessidades, modelo de negócio, dimensão e ambição.
Podem por um lado optar entre uma admissão técnica (sem dispersão de capital), uma colocação particular (apenas dirigida a investidores institucionais de mercado), ou uma oferta pública (dirigida a investidores particulares); ou numa operação mista das últimas duas.
Podem também optar uma admissão no Euronext Access, o segmento de entrada no mercado de capitais, no Euronext Growth, o segmento desenhado para empresas de crescimento) ou no Euronext, o mercado regulamentado, onde estão cotadas as empresa com maior presença em bolsa e maior ambição – os três segmentos de mercado da Euronext, desenhados para assegurar o enquadramento adequado à dimensão e objetivos de cada empresa. E podem – e aliás devem – encarar a bolsa como uma oportunidade de desenvolvimento e assim ponderando uma entrada num dos mercados juniores, fazê-lo perspetivando a prazo transitar para o mercado regulamentado. Foi o que fez a Solutions 30, uma empresa francesa de telecomunicações que em 2005 concretizou a entrada em bolsa no Euronext Access com uma valorização de €4.5M e que hoje – enquanto líder Europeu no seu sector– está cotada no Euronext Growth com uma capitalização de €900M.
E existem ainda três outros benefícios de uma admissão à bolsa que não devem ser desvalorizados: (i) o reforço reputacional decorrente da capacidade de atrair o investimento de investidores que não têm um papel activo na gestão e que podendo desinvestir continuam a apostar nas empresas em que investem, com um impacto significativo no desenvolvimento do negócio (novos mercados, novas parcerias, novos clientes), (ii) a facilidade (em termos de prazo e de custo) de concretizar rondas adicionais de financiamento após a entrada em bolsa e (iii) a liquidez que concede aos seus acionistas para ajustarem as suas participações.
Claro que tudo isto requer esforço e investimento – em termos de comunicação com os investidores e que em certa medida é feita através da imprensa, de gestão da exposição mediática, da gestão de expectativas para com o mercado, do cumprimento de requisitos de legais e regulatórios. Mas esse é o preço da liberdade que o mercado oferece aos empreendedores que escolhem esta via de financiamento, crescimento e independência.
Nota: Desde 2003, a Bolsa de Valores Portuguesa faz parte do Grupo Euronext, líder enquanto Grupo pan-Europeu de Bolsas. A Euronext tem, atualmente, uma presença local em 6 países (Amesterdão, Bruxelas, Dublin, Lisboa, Oslo e Paris), partilhando uma única plataforma de negociação acedida por investidores de todo o mundo, facilitando o acesso às empresas a uma comunidade de investidores internacional, especializada e com capacidade financeira para apoiar as suas estratégias de financiamento e crescimento.
Consciente dos desafios que se colocam às empresas tecnológicas a Euronext tem vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas especificamente dirigidas a empresas de base tecnológica, onde se destaca o TechShare (AQUI)– o programa pre-IPO de motivação, educação e capacitação especificamente desenhado e dirigido a empresas tecnológicas. Desde o lançamento do programa o TechShare conta com 280 alumni (25 portugueses), a que se juntaram este ano mais 130 participantes (onde se incluem 7 empresas Portuguesas).