Kim Jong-Un é um artista do poder. Da mesma maneira que adora os filmes de ação de Jean Claude Van Damme, não perde oportunidade para mostrar ao mundo que é um grande Presidente. Escusado será dizer que não deve gostar da sétima arte quando esta tinha vedetas como Charlie Chaplin a protagonizar gloriosas películas como o Grande Ditador. Educado num elitista colégio suíço, o todo-poderoso chefe de Estado da Coreia do Norte é um personagem dos tempos modernos, um adepto da cultura de massas que sabe muito bem comunicar o que lhe interessa.
Esta sexta-feira, 8 de janeiro, o líder absoluto da única dinastia comunista do planeta cumpre o seu 33º aniversário. E, para ninguém ignorar tal efeméride, nem a sua importância global, fez questão de proclamar já hoje, em alto e bom som, que o seu país testou com êxito uma bomba de hidrogénio. Não importa se o dito engenho é eficaz e se tem uma potência superior às bombas lançadas pelos EUA sobre Hiroshima e Nagasaki, no final da Segunda Guerra.
A verdade é que depois dos testes nucleares de 2006, 2009 e de 2013, o regime de Pyongyang continua a ter capacidade para desafiar e amedrontar toda a gente, incluindo o seu principal aliado estratégico, a China. A questão é saber como irá Pequim reagir a esta nova provocação do Querido Camarada. Afinal, ele só quer que o levem a sério. Recordemo-nos das suas palavras a 10 de dezembro, através da agência oficial, a KCNA: “A Coreia do Norte converteu-se num estado poderoso, possuidor de armas nucleares, pronto para detonar uma bomba atómica – e de hidrogéneo – para defender a sua soberania e a dignidade do país”. Na altura, muito poucos acreditaram que fosse possível haver um tal brinquedo bélico no arsenal da família Kim.
No entanto convém explicar que, há um mês, todos nós achamos muito mais divertido dar atenção a uma outra arma de propaganda em seu poder: as Moranbong – o grupo pop feminino inventado por Kim Jong Un. As 15 raparigas de cabelo curto, minissaia e ar marcial viajaram então rumo à capital chinesa para dar aí um espetáculo. Em vão. Os principais dirigentes chineses não quiseram vê-las. Uma humilhação que Pyongyang não poderia tolerar. O concerto foi cancelado e as meninas receberam ordem de regresso a casa. Volvido um mês, a moral da história fica à vista de todos nós. Kim Jong Un goza com toda a gente, enquanto as Moranbong lhe cantam “Parabéns senhor Presidente”.