Sempre difíceis, um mal-bem necessário de quem escolhe a vida nómada e dos que arrastamos com ela. Nós, os nómadas, somos profissionais do adeus. Os que deixamos em terra, também.
Dizer adeus não se torna mais fácil com o passar do tempo. Cada despedida traz consigo uma nova ferida, profunda, e um turbilhão de sentimentos que nos invadem nas últimas horas passadas com aqueles que nos são queridos.
Escolher, deliberadamente, deixar para trás os que amamos é duvidar, a cada despedida, da decisão que tomámos outrora com tanto entusiasmo. É perguntarmo-nos se vale a pena pagar um preço tão alto pela nova vida que criámos, sabendo que a convicção do sim vai voltar a magoar.
É começar cada visita, sabendo exactamente o seu prazo de validade e, ainda assim, escolher partir mais uma vez.
É preocuparmo-nos pelos que ficam, sabendo que a vida que desenhámos é a que nos preenche, e confiar nas expressões de amor virtuais…
É saber que abdicamos de comungar momentos importantes ao vivo e de partilhar a minúcia da vida a cores.
É saber que, tanto os que vão quanto os que ficam, acabam presos no tempo e que não conhecerão, porque a ausência física não lhes permite, a evolução mútua, gradual, criada pela partilha do dia-a-dia.
Por mais que a tecnologia nos salve – e vai aguentando as pontas entre viagens – não há substituto para os momentos partilhados ao vivo e a cores.
Não há solução para esta distância, senão um adeus diário. Limpam-se as lágrimas e a aventura continua.
Se fosse possível, escolheria ser tele-portada e acordar no meu destino de regresso, só para evitar a dor de mais um adeus. Mas sei bem que perderia a beleza, ingrata, que os até jás trazem aos relacionamentos que nos seguram a alma.
Porque é na dor inevitável do adeus que se descobre um lado profundo do amor, do carinho, da estima e da saudade.
Com cada despedida destilamos o que é importante; damos valor à família e aos amigos sem nos perdermos em trivialidades. Cada partida é um lembrete de que meros segundos passados em conflitos e teimosias sem importância são momentos de ligação profunda desperdiçados. Momentos que não voltam e que terão que esperar pela próxima visita para serem desfrutados.
Quantas vezes tomamos por garantidos os momentos que passamos com os que estão por perto? Damo-nos ao luxo de deixar aquele encontro para uma próxima vez, um telefonema para a semana, afinal ficaram de dizer qualquer coisa.
A distância obriga a que nos deixemos de histórias, de julgamentos, de guerrinhas, de querermos estar certos, sobretudo quando não importa.
É, ironicamente, nesta distância física que percebemos também o quanto devemos aos que nos viram partir pela primeira vez, e continuam a marcar presença ao fim de cada viagem, sabendo o que os espera. Percebemos que a coragem, o amor, o entusiasmo e todas as experiências que, passo a passo, nos conduziram à vida sem barreiras geográficas são a maior herança que carregamos e nos ampara a cada novo desafio.
Com o adeus caem-nos as máscaras que carregamos para evitarmos sentir o que temos que sentir; o poder criativo, arrasador, do adeus, e a excitação inevitável da (re)descoberta do destino que nos acolhe.
Sou de todo o lado e sou de nenhum. Mas carrego comigo a presença eterna dos que, décadas depois, continuam a ser os pilares desta vida transeunte.
E isto, nem a vida nos antípodas separa.