O anúncio da criação de uma Superliga de futebol, liderada por 12 dos maiores clubes de Inglaterra, Espanha e Itália, tem uma transcendência que ultrapassa em muito o círculo restrito de quem acompanha o desporto mais popular do mundo. Desengane-se, por isso, quem pensa que este é um assunto específico do futebol, dos seus protagonistas e dos seus adeptos. Aquilo a que estamos a assistir é a um sintoma eloquente do crescimento das desigualdades, principal ponto de clivagem nas nossas sociedades.
Os indicadores económicos de um ano de pandemia já nos tinham avisado de que, enquanto a maior parte do planeta ficou fechada em casa, os super-ricos ficaram ainda mais supersuper-ricos. Com a inevitável consequência de se ter acentuado, durante os estados de emergência, o fosso para os mais pobres. A riqueza é, cada vez mais, acumulada por uma pequena minoria no topo da pirâmide, enquanto nos patamares abaixo os rendimentos estagnam ou diminuem. É uma realidade que tem servido de rastilho para inúmeros e crescentes protestos e revoltas por esse mundo fora, e que os Estados têm sido incapazes, até ao momento, de contrariar – apesar dos recentes apelos e propostas para a introdução de novas taxas e impostos sobre a riqueza, por parte da Administração Biden e até do FMI, agora preocupados com a resposta que precisa de ser dada à emergência social, com milhões de pessoas em situações precárias, sem rendimentos nem apoios.