Foi a comoção geral. O psicólogo Jordan B. Peterson, um fenómeno mediático dos tempos modernos, esteve em Portugal e arrastou uma legião de fãs. Tem milhões de seguidores que veem nele um guru do politicamente incorreto: um homem que diz as (suas) verdades com linguagem que todos entendem. Transformou-se num dos pensadores mais influentes e polémicos, conquistando amores à direita e ódios de estimação à esquerda. No seu último livro 12 Regras Para a Vida: Um Antídoto Para o Caos, um best-seller global do qual fala na entrevista que deu à VISÃO desta semana, definiu princípios básicos para uma vida melhor. E por falar em caos… lembrei-me do PSD. Não sei se Rui Rio lê sobre psicologia, mas creio que talvez gostasse de passar os olhos nos mandamentos de autoajuda de Peterson. Aqui fica um resumo anotado.
1. “Levante a cabeça e endireite as costas.” É um conselho elementar, sobretudo para um político: quem se mostra cabisbaixo e sem confiança passa para os outros a ideia de falta de ambição e capacidade de domínio. O que quer o PSD de Rio ser: a muleta do Governo do PS ou o partido que ambiciona governar?
2. “Cuide de si como cuida daqueles que dependem de si.” Estudar os assuntos a fundo, apresentar ideias concretas para os dossiers, ter, em suma, um projeto para o País dá jeito quando se faz oposição e se pretende governar. Porém, não está bem claro qual é o deste PSD.
3. “Faça amizades com pessoas que querem o melhor para si.” Os melhores líderes são aqueles que sabem rodear-se de gente boa e bem-pensante, mesmo que pense diferente. Aqueles que sabem ouvir opiniões contrárias e conseguem mudar as suas, aproveitando as boas ideias alheias. E percebem que querer o melhor para um partido é, também, querer o melhor para quem o lidera, assim saiba ouvir. Consta que fazer guerra aos militantes não ajuda.
4. “Compare-se com aquilo que era ontem e não com o que os outros são hoje.” Ora aqui está uma regra que parece escrita para o líder do PSD. Mais do que se aproximar do PS e ser praticamente indistinto, em termos ideológicos, do principal adversário político, talvez faça mais sentido concentrar-se no que já foi e pode vir a ser. Só se consegue fazer bem oposição assim.
5. “Não deixe os seus filhos fazerem coisas que o leve a não gostar deles.” Quem diz filhos, diz braços-direitos. Pedras no sapato como José Silvano não ajudam a solidificar a imagem impoluta que vem dar um banho de ética à política. Mais se instala a perigosa ideia de que ‘‘afinal são todos iguais.’’
6. “Ponha a sua casa em ordem antes de criticar o mundo.” É puro bom senso começar a aplicar dentro de portas o que se advoga para os outros, garantindo que não há telhados de vidro. Até agora, nada se fez, por exemplo, na autarquia de Lisboa em relação aos suspeitos envolvidos na operação Tutti Frutti, que investiga alegados esquemas de tráfico de influências, participação económica em negócio e branqueamento de capitais.
7. “Procure alcançar aquilo que tem sentido (e não o que lhe dá jeito)” A política é a condução dos negócios públicos para proveito dos particulares, pensando em primeiro lugar neles. O que, diz o bom senso e por princípio, devia coincidir com os interesses do partido.
8. “Diga a verdade – ou, pelo menos, não minta.” Bom princípio para qualquer cidadão, cuja violação na política já se pagou mais caro do que hoje. Infelizmente.
9. “Parta do princípio de que a pessoa que está a falar consigo talvez saiba alguma coisa que você não sabe.” A arte de bem comunicar nos média e com os média devia ser requisito essencial para qualquer candidato a seja o que for na política. Não, os jornalistas não são o inimigo (e esse discurso é assustadoramente próximo de um Trump). A propósito, existirá alguém com experiência política que olhe para os press releases que têm saído para as redações, porque alguns têm sido case studies do que não escrever.
10. ‘‘Seja rigoroso no seu discurso.” E, já agora, fale em português e não em línguas germânicas impercetíveis.
11. “Não incomode as crianças quando estão a andar de skate.” Na política, como em qualquer profissão, é preciso paixão, energia, mundo e correr riscos – a vida não é uma folha de Excel.
12. “Se vir um gato na rua, faça-lhe uma festa.” O mesmo se passa com os eleitores: também gostam de mimos e palavras doces. Diz que ajuda a ganhar votos. Que o diga o atual Presidente da República.
(Editorial da VISÃO 1342, de 22 de novembro de 2018)