A Lua hoje está minguante. Fina como uma unha. Com o horário de inverno temos mais tempo para ela. Não há fuga. Ela chega para roubar o final da tarde e estender a toalha à melancolia. Tudo parece ficar mais curto com os dias. E até a pele parece ficar mais fina, mais transparente. Como se tudo ficasse mais exposto, mais sensível, e qualquer toque (emocional) fosse capaz de criar uma pisadura.
Enquanto alimento a procrastinação, bocejando, sinto que envelheci muito nos últimos meses. Estes quase dois anos de pandemia parecem dez. Devíamos contá-los noutra escala de quantidade, como os anos de cão. Um ano de humano são sete anos de cão. Dois anos de pandemia são dez anos de cepa torta. A sensação térmica é de eternidade. O cansaço entorta-nos a espinha.