O ato de brincar é, por definição, incompatível com a obrigação. Brincar é prazer, é liberdade, é imaginação. O que não quer dizer que não seja coisa séria. Basta observar uma criança para perceber o foco e a dedicação que investe na brincadeira e o quanto aprende com ela. Já os adultos, quando são convocados a brincar pelas suas crianças, estão muitas vezes noutra frequência de onda. A maioria já perdeu o mapa para a Terra do Nunca e tem de fazer um grande esforço para sair do fato e gravata mental e canalizar o Peter Pan interior. Por um lado, é um convite ao abrandamento e à rutura com a cadência ansiosa da rotina, mas, por outro, pode ser um convite inconveniente, especialmente quando se tem os olhos na meta e se pretende permanecer no fluxo da concentração e da eficiência.
Claro que não é apenas uma questão de disponibilidade. Há adultos com mais talento que outros para brincar, além de que pode depender do contexto e da relação, quando, por exemplo, um pai que pouco brincou com os filhos se torna um avô muito dotado para o faz de conta. Com maior ou menor facilidade, brincar com as nossas crianças é um dever e isso é, desde logo, tão certo quanto contraditório.