De pequenino é que se torce o pepino. O ditado popular é utilizado em vários contextos e assenta também como uma luva quando falamos de dinheiro. Ensinar os mais novos a pouparem pode, por vezes, parecer uma tarefa quase impossível, sobretudo quando a geração de crianças e jovens até aos 18 anos são inundados, de manhã à noite, de diversos apelos de consumo através dos vários dispositivos com os quais contactam.
Nos últimos três anos tive oportunidade de andar de norte a sul do país, e também nas ilhas, a dar formação de educação financeira a jovens e acabei por confirmar algo que já desconfiava: os jovens não falam de dinheiro nem na escola, nem em família. Quase sempre que o tema os apanha a partir da adolescência, é porque são aliciados para esquemas de dinheiro fácil que correm mal e que acabam por afetar a sua relação com o dinheiro na idade adulta.
É urgente que a educação financeira ganhe espaço nos currículos escolares, mas enquanto isso não acontece, cabe aos pais assumirem a responsabilidade para passarem os primeiros valores e ensinamentos sobre dinheiro. Até porque os pais têm um papel determinante enquanto influenciadores do perfil e mentalidade dos filhos.
Dicas para ensinar a poupar
Aproveitando o mote do Dia Mundial da Criança deixo-lhe algumas dicas de como falar com os filhos sobre dinheiro e incentivá-los a pouparem.
Em primeiro lugar é importante explicar a diferença entre desejo e necessidade, de forma a que consigam logo distinguir desde tenra idade as coisas que compramos porque “queremos” daquelas que compramos porque “precisamos”.
Aproveite para falar sobre o que é caro e barato, explicando o conceito através de comparações simples nas idades mais novas. Com os adolescentes procure falar com eles abertamente sobre o que consideram caro ou barato, até porque muitas vezes tendem a comparar-se com os outros, sejam amigos, sejam influenciadores que acompanhem nas redes sociais e que têm situações financeiras muito distintas da sua.
O mealheiro continua a ser uma excelente ferramenta para ensinar a poupar, ou a guardar dinheiro. É importante que as crianças percebam que poupança é consumo futuro. Ou seja, eu abdico de consumir hoje (poupo) para consumir amanhã. Utilize como mealheiro um recipiente mais ou menos transparente, para que a criança possa ver o dinheiro crescer. Serve para incentivar a poupar.
Ainda dentro dos mealheiros é interessante utilizar a técnicas dos mealheiros-objetivo. Ou seja, ter mais do que um mealheiro. Seguindo as melhores práticas de gestão financeira a nível internacional pode ter três ou quatro mealheiros:
Gastar no Curto Prazo para algo que queira comprar no imediato;
Poupar para um Objetivo específico pode ser um jogo que queira;
Investir para longo prazo, ou seja, parte do dinheiro que recebe dos presentes para poupar para universidade, carro, etc. Sendo que esse dinheiro poderá ser aplicado em algum produto financeiro, dependendo do prazo. No podcast MoneyBar falo de quais as alternativas às contas poupança para crianças que atualmente não apresentam rentabilidades interessantes. Aliás, a maioria, nem consegue superar a inflação, ou seja, não rendem nada.
Por fim, o mealheiro “doar” para também perceberem que vivemos em comunidade e não fechados sobre nós mesmo e que podemos ajudar o próximo.
Claro que podem ter mealheiros-objetivos para diferentes compras: um só para a bicicleta, outro para a consola, etc. É importante deixar a criança definir os seus objetivos e sempre que receber dinheiro coloque a questão: queres gastar tudo em gelado ou poupar uma parte também para o mealheiro da bicicleta? É importante que comecem a tomar decisões e percebam quando fazem uma escolha abdicam de outra. É base da gestão financeira.
Uma ótima estratégia é a gamificação da educação financeira. Faça desafios por exemplo nas compras. Peça ajuda para encontrarem o preço mais baixo comparando o preço por litro ou por quilo. Diga-lhe que têm cinco euros e que tem de comprar um lanche que inclua bebida, pão e fruta e que tem de caber no orçamento. Quando há irmãos é muito interessante ver as escolhas que fazem e comparam depois. Conversem sobre as escolhas. Aproveite também para explorar jogos como o Monopólio ou outros.
A semanada ou mesada também são uma boa forma para as crianças e jovens começarem a gerir o primeiro dinheiro. Notas importantes: quando gastam tudo não deve dar mais dinheiro e têm de esperar até ao dia de receberem de novo; não faça depender parte de tarefas de casa que considera normais que devem fazer de dinheiro; e até aos 13 anos, mais ou menos, a semanada funciona melhor (com valores adequados à idade) e a partir daí poderá manter a periodicidade semanal ou passar para mensal.
Seja o exemplo. É contraproducente ensinar os filhos a poupar e, ao mesmo tempo, deixá-los verem o pai ou a mãe a serem consumistas, comprando várias coisas desnecessárias.
E não menos importante: deixe-os errar. Os erros fazem parte da aprendizagem. Não critique o erro e nem torne a falha como algo negativo. Ajude-os a compreender o que fizeram e que um caminho diferente poderia ser mais benéfico. Penalizar a falhar é condicionar o crescimento. Em termos de comportamento financeiro verificamos depois o impacto na idade adulta.
Quanto mais e melhor educação financeira os nossos filhos tiverem, melhor preparados estarão no futuro para serem cidadãos financeiramente mais responsáveis e saberem gerir as suas finanças pessoais. Comece já hoje a ensinar os seus filhos a pouparem!