Ano novo, vida nova! Talvez este seja um dos pensamentos mais comuns nesta época e que paira na mente de milhões de pessoas pelo mundo fora.
A pergunta é: Precisamos mesmo de uma vida nova, ou precisamos de olhar para a vida que temos e para as escravidões que “assinamos”?
Precisamos de uma vida nova ou de perceber porque não gostamos da que temos, e gostávamos de ter uma outra, talvez a do vizinho, do colega, do chefe, do irmão, do amigo, do ator daquele filme ou da telenovela?
Sabia que só a simples comparação da sua vida com a dos outros pode significar escravidão, ainda que não consciente, e fazê-lo sentir um conjunto de emoções entre as quais inveja, desespero, angústia, tristeza e, especialmente, raiva?
Quando a comparação é repetida e sistemática pode ainda fazê-lo sentir-se insuficiente, incapaz, colocar em causa a sua auto-estima e auto-confiança, fazê-lo sentir pequenino e impotente, e dar origem a sentimentos de profunda insegurança.
Sim, é difícil não ser escravo da comparação, porque a sociedade em que vivemos a fomenta desde que nascemos até que partimos, das formas mais criativas, manipuladoras e perversas, fazendo-o acreditar que só será alguém se…e se…e se…e todos esses “e ses” entram-nos pela casa dentro, pela escola dentro, pelo trabalho dentro, pelo ginásio dentro, pela vida dentro…a cada instante, sem termos sequer tempo para pensar se faz sentido, se queremos, se o desejamos, se nos faz bem!
Mas a escravidão não se limita apenas à comparação. Abrange muito mais áreas, como se de um verdadeiro “polvo” se tratasse, e os seus tentáculos tocassem toda a nossa existência.
Escravidão da imagem! É magro? Tem músculos e abdómen bem tonificados, um metro e oitenta, um palmo de cara?
É Olivia Palito, tem muitas curvas, seios grandes e um rabinho virado para o teto?
Veste roupas de marca, usa os perfumes publicitados na tv para se sentir sexy e atraír o sexo oposto? Não faz nada disso, mas pensa que talvez precise de tudo isto para encontrar um namorado/da?
É isso que a publicidade nos diz e quer que acreditemos. Que temos de ser e ter tudo aquilo que publicitam para termos mais sucesso na sedução e conquista. Que não somos pessoas com encantos naturais e únicos, que precisamos ter a imagem “Y” para ter um namorado, uma relação, casar, ter filhos e sermos felizes. Porque nos anúncios todos tem companheiros e famílias, e estão felizes (durante o tempo que dura a gravação!).
Você não é o seu corpo, nem o que veste. É muito mais! Não se deixe escravizar por modelos de beleza “patológicos”. Faça exercício, não como uma adição, mas como fazendo parte de um plano para se manter saudável. Quem lhe diz que não gosta de si porque tem uma barriguinha, ou que não tem desejo porque você não tem o rabo da kardashian, não gosta de si, gosta de corpos não de pessoas.
Todos parecem felizes, a comer as mais variadas porcarias e, menos vezes, algumas coisas saudáveis, a conduzir carros, a usar champôs, cremes, meias, roupas, lingerie…
E o que é o que o seu cérebro lhe diz? Também preciso daquilo para? Para ser feliz!
Sabia que os anúncios publicitários apenas criam necessidades? Fazem-no acreditar por um lado, que você tem necessidades que na realidade não tem e despoletam em si a vontade de as satisfazer, mostrando os sorrisos e a felicidade de quem o faz ou tem. Difícil de resistir? Verdade? Como resistir?
A sociedade de consumo vive da sua escravidão e do facto de você pensar que precisa realmente de tudo o que compra. Mas, nem tudo o que compra o faz sentir feliz. Passado algum tempo, às vezes algumas horas, aquilo que pensou fazê-lo sentir-se “poderoso”, deixa-o agora com uma enorme preocupação e sentimento de culpa, a pensar como vai pagar o cartão de crédito.
O segredo? Olhe à sua volta! Tudo o que tem na sua casa fá-lo mesmo feliz? Precisa mesmo de tudo isso? Fique apenas com o que o faz sorrir e não o preocupa. Tudo o resto, dê a quem mais precisa. Acredite, pode fazer a diferença na vida de muitos.
E pense, o que está por detrás do bombardeamento pró-consumo é uma brutal máquina de interesses económicos que não está minimamente interessada na sua felicidade, apenas no seu dinheiro.
E quanto à escravidão do trabalho? Cada vez mais existem empregadores a exigir que os seus funcionários coloquem a sua vida familiar em sexto, sétimo, oitavo lugar, porque eles querem estar nos primeiros cinco, durante o período laboral e fora dele. Antes vestia-se a camisola, agora veste-se o pijama e se for preciso, pega-se na mala, e vai-se para o aeroporto e, no caminho, liga-se à mulher/marido a dizer que não se sabe quando se regressa.
Todos precisamos de trabalhar, todos temos compromissos, todos temos contas para pagar. Mas será que não temos contas a mais, porque compramos coisas a mais, e depois somos escravos do trabalho?
Será que precisamos mesmo trabalhar tantas horas e descansar tão poucas? Será que trabalha mais horas, porque tem medo de ir para a rua se não o fizer, ou porque tem uma ambição desmedida e quer alcançar o topo da “montanha”, ser rico e não ter tempo para gastar o dinheiro? A ambição quando comedida é uma notável característica de personalidade que nos faz evoluir, mas quando desmedida pode transformar-se em escravidão. Cuidado! Lembre-se: fica cá tudo! Quer continuar a trabalhar como escravo para quê e para quem?
Sim, por vezes é preciso fazer escolhas, aceitar novos desafios que lhe permitam sentir que vive e não apenas que vegeta, para um dia quando olhar para trás ter a sensação de que realmente sentiu e viveu.
A escravidão do trabalho, do dinheiro e do sucesso no fim da vida podem fazê-lo pagar um valor muito alto em termos emocionais e relacionais. Muitas das pessoas que priorizam o trabalho e o dinheiro, não constroem relações e tão pouco afetos, e acabam sozinhas.
Lembre-se: o sucesso, o poder, a fama… são conceitos muito subjetivos e nem sempre sinónimos de alegria, bem-estar emocional/físico e felicidade. Muito menos significam sentir-se amado. Já pensou porque o consumo de droga e o suicídio são tão elevados entre os famosos?
A escravidão da validação do exterior e dos outros, está igualmente na ordem do dia. Muitas pessoas passam o seu tempo a pensar o que os outros estão a pensar delas, o que dirão delas, o que farão com elas… ”colam” a sua autoestima e valor à mente dos outros, criam e alimentam relações de dependência emocional e transformam-se em verdadeiras marionetes.
Não se esqueça: Apenas você determina o seu valor. Apenas você define quem é, o que quer, para onde quer ir, o que é melhor para si. Não se deixe enredar em escravidões psicológicas e emocionais e em relações que lhe fazem tudo menos bem.
Memorize! Apenas existem dois tipos de relação:
Aquelas que o fazem sentir em paz, aceite, respeitado e amado; e as outras, em que pouco ou nada disso acontece.
E quando nada disso acontece, começa a acontecer sentir-se confuso, ansioso, angustiado, contrariado, desesperado…e se o calar, aqui pode começar a escravidão.
Pior do que um conflito, é ser escravo desse não conflito, fazendo tudo para o evitar. Isso sim, pode deixar-lhe graves sequelas.
Existe, igualmente, um outro tipo de escravidão da qual raramente se fala: O de fazer exigências a si próprio como se fosse o super-homem ou a super-mulher, mesmo sabendo que isso coloca o seu bem estar em causa, e sentindo que está quase, quase, a explodir!
O querer estar em todo o lado, fazer tudo e de forma perfeita, pode ter custos muito elevados. Esta é uma das escravidões que maior desgaste emocional provoca e mais consequências apresenta a nível psicológico e físico. Stress, ansiedade, problemas cardiovasculares, depressão, entre muitos outros.
Se pensa que vai ser reconhecido ou valorizado por ser uma “barata tonta”, engana-se. Raramente alguém repara no que as “baratas tontas” fazem. Pelo contrário, pensam que nunca fazem o suficiente e até podiam fazer mais.
Quer um conselho? Comece a fazer tudo com mais calma, aceite os seus “timings” e que é natural cometer erros, e vai ver como se vai sentir bem melhor.
Sabe uma das coisas que o vai fazer sentir que está a viver uma nova vida?
Decidir deixar de ser recetor de toda a informação que lhe “despejam” em cima todos os dias, tentando manter o foco no que é realmente importante para si. “Delete” é o segredo. Televisão, redes sociais, telemóveis… o seu tempo neste planeta é tão escasso, quer mesmo gastá-lo nisso? Não existirão outras coisas melhores para fazer e que o fazem sentir mais feliz?
A adição ás redes sociais e jogos, especialmente pelos mais jovens, já é um dos problemas de saúde mental mais graves segundo alguns investigadores. É muito importante definir regras no que respeita ao seu uso, sob pena de se tornar escravo dos mesmos.
E já agora, deixe-se de idealizações. Sonhe, faça projetos, trace objetivos e metas para o Novo Ano, mas pare de idealizar namorados perfeitos, companheiras que não chateiem, relações com paixão a subir pelas paredes, vinte e quatro sob vinte e quatro horas, durante anos a fio, sair-lhe a raspadinha ou o Euromilhões, ficar rico sem trabalhar, passar a vida ao Sol numa praia das caraíbas…até porque ao final de pouco tempo ia querer sair de lá.
Desafie-se, saía da sua zona de conforto, conheça novos mundos e outras formas de vida, leia muito, relacione-se mais, converse mais, divirta-se mais, faça programas diferentes, conheça-se melhor, descubra as suas capacidades, identifique as suas emoções e aprenda a geri-las a seu favor, aprenda a lidar com as emoções dos outros, estimule a sua criatividade e desenvolva a sua inteligência emocional.
Você não precisa de mudar de vida. talvez precise, sim, de olhar de frente para a sua vida, acabar com estas escravidões e Ser Bom consigo próprio. Passou a vida a tentar, de todas as formas, ser bom com os outros, e talvez se tenha esquecido de si. É natural, todos o fazemos. Ensinaram-nos assim.
Mas é sempre tempo de começar a questionar porque alimenta algumas destas escravidões, a interrogar o bem que elas lhe fazem e escolher começar a fazer-se bem a si!
Neste Novo Ano seja, igualmente, Bom para os Outros.
Todos nós somos humanos imperfeitos e sentimos todos os dias muitas dificuldades, principalmente em gerir os conflitos e as emoções dos outros. Ser Bom para os Outros, passa também por fazermos um esforço para os escutar e compreender, para sentir o que estão a sentir e estarmos atentos às suas necessidades, por não culpar, por aceitarmos que pensem diferente, por os respeitarmos.
Que o Novo Ano signifique Aprendizagem e Transformação, no sentido de todos percebermos e interiorizarmos a importância vital na nossa vida e felicidade de sermos tolerantes connosco e com os outros, de nos aceitarmos e de aceitarmos os outros, de nos amarmos e, sobretudo, de tratarmos, perdoarmos e amarmos os outros como a nós mesmos.
O que o impede de sentir Amor por si e pelos outros?
Um Ano Maravilhoso para Si!
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