Não resisti ao trocadilho. De facto o que aqui vem terá tudo que ver com trânsito e surgiu-me somando vários sinais, mesmo assim tenho que confessar que o título pode enganar um pouco.
Sinal 1 – A Tencent compra 5% da Tesla (fabricante dos mais avançados carros eléctricos) por qualquer coisa como 1,7 mil milhões de dólares. Consequência disto e de outros fatores, mas este é sem dúvida decisivo, o valor em bolsa da Tesla ultrapassa o da Ford. Consequência da consequência, na semana seguinte, o valor da Tesla ultrapassa o da General Motors.
Sinal 2 – Existe uma lista publicamente publicada e periodicamente actualizada de todas as empresas autorizadas a testar veículos que guiam autonomamente nos Estados Unidos. Está lá boa parte das grandes marcas de automóveis e também a Google e a Tesla. Nesta lista inclui-se pela primeira vez a Apple. Já não era grande segredo que a empresa andava a pensar nestas coisas, mas foram tantos os avanços e recuos que pensei que, ou desistia, ou se aliava a uma marca automóvel e ficava só com a parte dos software de condução. Não excluindo nenhuma destas hipóteses parece-me que o facto de a empresa do iPhone estar na tal lista é um sinal evidente de que as ambições são grandes, como convém.
Do primeiro sinal depreendi muita coisa, quando o li era nítido que as ações iriam por aí acima, mas como não percebo nada de bolsas não vi estes dois limites psicológicos (superar sucessivos gigantes da indústria automóvel) a surgir no horizonte próximo. Vi também aqui um sinal evidente de alguma bolha em relação à Tesla, é verdade que deve lançar muito em breve o seu carro dito “baratinho”, o modelo 3, mas continua a ter sérios problemas para entregar máquinas, longas listas de espera não são forçosamente bom sinal. Que a procura seja maior que a oferta possa ser bom para a empresa, é verdade só até um certo ponto, se passar das marcas torna-se prejudicial. Depreende-se também que os chineses querem uma fatia do conhecimento que a Tesla tem criado, e estão dispostos a pagar muito caro por isso. Não admira, a Tesla anunciou que todos os seus carros já saem de fábrica com os sensores e outros equipamentos necessários para poderem em grande parte fazer trajectos sozinhos. Depois de ver o negócio dos chineses, a coisa torna-se óbvia. Há várias empresas chinesas na corrida para os carros eléctricos que guiam sozinhos mas a história da paciência de chinês só é verdade quando eles não têm dinheiro para comprar já o que querem, e agora têm, por isso não ficam à espera.
Do segundo sinal, a presença da Apple na lista dos que querem oficialmente testar carros sem condutor penso que se possa depreender que estão prestes a poder fazê-lo. Embora oficialmente a Apple tenha para já licença para usar três Lexus nas suas experiências, isso não quer dizer que não queira ir mais longe. Mais importante ainda: a tal lista já tem 30 empresas. São 30 empresas devidamente autorizadas a testar carros sem condutor e as tecnologias necessárias para o transporte do futuro.
Claro que isto tudo junto são mais sinais claros de que vamos mesmo mudar outra vez. Será tema para outros textos mas não tenho dúvidas de que tirar o condutor do seu volante (além de fazer desaparecer muitos empregos), será uma revolução só comparável com o aparecimento do automóvel. Ou uma revolução comparável com a possibilidade de fabricar automóveis a preços acessíveis a grandes camadas da população. Simbolicamente foi com o Ford T que se fez isto e veio a dar no gigante que a Tesla agora ultrapassou em valor.
Segundo a OCDE a despesa total (pública e privada no território) de Portugal, em 2015, para investigação e desenvolvimento, foi de pouco mais de 3.500 milhões de dólares. No mesmo ano, a Apple terá gasto mais de 8.500 milhões de dólares na mesma alínea. Não deve estar apenas a melhorar o iPhone.
P.S. Já depois de ter escrito este texto as ações da Tesla voltaram a subir mais 3% apenas porque Elon Musk disse que o camião elétrico a ser fabricado pela empresa estará pronto a ser anunciado em Setembro. Já se sabia que este veículo estava nos planos. Aliás há alguma lógica, quer pela utilidade, quer pelo potencial para rentabilizar veículos de alto preço, em que a tal revolução dos veículos elétricos e autónomos comece com o transporte comercial mesmo antes dos carros de luxo.