Bárbara Guimarães, assistente no processo que acusa Manuel Maria Carrilho por violência doméstica, estava há perto de três horas a ler uma série de notícias sobre a sua separação, que estão apensas ao processo, quando a sessão foi interrompida pela segunda vez. Depois de uma paragem de cinco minutos, naquele segundo intervalo a apresentadora da SIC dirige-se à casa de banho, acompanhada pelo agente Pedro Isidro. Aproveitando o momento, Manuel Maria Carrilho segue-os de telemóvel na mão. Pouco antes de Bárbara Guimarães dar o último passo para entrar na casa de banho, ouve-se um “click”, até que Carrilho volta para trás, pelo braço do advogado.
– O que estás a fazer?
– Estava a tirar uma fotografia…, responde, rindo-se.
Seguem para a área onde está a grande maioria dos jornalistas que assistiam à sessão, mostrando a imagem ao advogado, Paulo Sá e Cunha, acrescentando: “Este é o ****** que a anda a aconselhar.”
Pedro Isidro, também visado nas fotos tiradas por Carrilho, dirige-se-lhe e interpela-o sobre o sucedido. A resposta é esclarecedora.
– Não pode interromper-me quando estou a falar com o meu advogado.
Voltamos a entrar na sala de audiências. A sessão é retomada como se nada fosse.
Bárbara volta a segurar no dossiê em que constam as notícias que saíram nos dias seguintes ao anúncio da separação e das acusações de violência doméstica, em outubro e novembro de 2013. Ao mesmo tempo que lia as declarações dadas por Carrilho à imprensa na altura, ia interrompendo sempre que considerava ter esclarecimentos a fazer. Até que, depois de ler declarações do ex-marido em que este declarava peremptoriamente que ela nunca lhe falara em divórcio, a apresentadora contrapõe: “Ele não só reagiu mal a esse pedido, em janeiro de 2013, como me ameaçou com uma faca.”
A leitura prossegue, a recordar-nos que ele a destratava a propósito de tudo e de nada. Que Bárbara “andava sempre alcoolizada”, que “não estava a lidar bem com a idade e o aproximar dos 40 anos”, que “tomava dezenas de comprimidos por dia”, que se fartou de “por botox e silicone”. E que tudo acabava com ele a agredi-la. Depois nesses momentos, sempre pela noite fora e com os miúdos a dormir, acontecia ainda aquilo que todos os manuais sobre violência doméstica também descrevem: depois do momento extremo de violência, cheio de pontapés, o agressor tende a mostrar-se arrependido. “A última vez foi na véspera de ele regressar a Paris. Ajoelhou-se a chorar e a prometer que ia marcar um fim de semana romântico. Marcou-o e em dois dias desmarcou-o.”
De novo com os olhos nos recortes, Bárbara continua a ler. “Ela não tem provas, nunca vai conseguir provar nada”, a frase mais enigmática das declarações de Carrilho é reproduzida uma e outra vez, aqui e ali, nos vários artigos que a imprensa publicou à época.
A sessão é novamente interrompida: são seis da tarde, seguem-se as negociações entre juíza e advogados para agendar a próxima sessão e parece ser mais um momento marcado por alguma inflexibilidade de Joana Ferrer. A procuradora do Ministério Público que conduz o processo, Nadine Xarope, tinha pedido para que não fosse na próxima sexta-feira, dia 20, por estar escalada para uma formação. Ainda assim, a juíza insistiu num pedido para que fosse substituída e se mantivesse a data, justificando que já assim é difícil terminar o julgamento em outubro, como previsto. Além de todas as notícias que constam do processo, a serem lidas na íntegra a pedido dos advogados, falta ouvir mais de 70 testemunhas e também, claro, Manuel Maria Carrilho.
Terminada a audiência, o ex-ministro já está de pé, sempre a mostrar o mesmo sorriso com que assistiu à sessão, sentado no banco dos réus. Interpelado pela VISÃO sobre o episódio da fotografia à porta da casa de banho, nega de imediato.
– Não, não tirei fotografia nenhuma.
E vira costas, dirigindo-se ao advogado, como se nada se tivesse passado. Cá fora, rodeado de jornalistas, Paulo Sá e Cunha insiste que também não sabe do que se trata. “Mas relatem o que viram… não me peçam é para comentar.”