A integração da saúde reprodutiva nos currículos do ensino secundário em Portugal é uma questão importante e que tem diversas implicações educacionais, sociais e de saúde pública.
Embora já seja abordada a saúde sexual e reprodutiva no âmbito da prevenção de doenças e gravidez não planeada, a fertilidade, que se traduz pela capacidade de se estabelecer uma gravidez clínica, também deveria fazer parte do currículo.
Muitos jovens desconhecem o impacto da idade na fertilidade, pelo que o aumento de consciencialização sobre os limites biológicos poderia incentivá-los a fazer escolhas informadas em relação à maternidade e paternidade. Além disso, a noção do impacto do estilo de vida e prevenção de infeções sexualmente transmissíveis na saúde reprodutiva poderia levar os mais jovens a diminuir comportamentos de risco. A abordagem destes temas teria ainda vantagens em reduzir mitos e desinformação, além de promover a igualdade do género.
Recentemente, surgiu um estudo europeu que revelou que os jovens portugueses consideram que os seus conhecimentos sobre saúde reprodutiva são limitados, embora estejam interessados em saber mais sobre a sua fertilidade. Este projeto, desenvolvido pela Fertility Europe, em colaboração com associações de vários países, integra o Fertility Awareness Project, uma iniciativa europeia que visa responder aos desafios da infertilidade e do declínio demográfico. De acordo com este estudo, é essencial educar os adolescentes, de ambos os sexos, sobre a fertilidade e fatores que a afetam, nomeadamente os relacionados com o estilo de vida: consumo de álcool e tabaco, drogas, exercício físico, obesidade ou baixo peso, e infeções sexualmente transmissíveis. Incluir este tópico no currículo das escolas poderá ser, assim, uma importante ferramenta para os jovens tomarem decisões conscientes e responsáveis e prevenir problemas de infertilidade.
Este tema torna-se ainda mais relevante no atual contexto de baixas taxas de natalidade e envelhecimento populacional. A sua abordagem poderá ser também uma importante medida para reverter este cenário e garantir uma recuperação demográfica na Europa. Contudo, para um impacto significativo, sabemos que será necessário combiná-las com medidas de apoio económico, social e laboral que tornem a decisão de ter filhos mais viável e atrativa para os jovens.
Deste modo, a integração deste tópico nos currículos do ensino secundário em Portugal poderá ser uma mais-valia para preparar os jovens para os desafios da vida adulta, promover a saúde pública e garantir direitos fundamentais. Com uma abordagem pedagógica bem estruturada e sensível, pode trazer benefícios significativos para os indivíduos e para a sociedade como um todo, não só prevenindo problemas como a infertilidade, como também reduzindo custos para os sistemas de saúde.
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