1. Um conjunto relevante de fatores contribui para que uma vitória do PS nas próximas eleições seja muito difícil. Mormente pela onda de reivindicações e protestos agora nas ruas, com a perceção de generalizados problemas e de descontentamento que tendem a gerar. Alguns dos protestos desencadeados neste momento, exatamente para atingir o objetivo de derrotar o PS ‒ desencadeados a partir da extrema-direita e a esta sobretudo, mas não só, beneficiando. Todas as reivindicações aproveitando a oportunidade para obter dos partidos a promessa de que lhes darão o que querem, como em geral fazem em período eleitoral, amiúde garantindo o impossível sem qualquer espécie de pudor.
Neste contexto, justificam menção especial as manifestações de polícias. Em cuja base, para lá da justeza das reivindicações, se afigura notória a influência de forças extremistas/populistas, embora a maioria dos manifestantes não esteja por elas arregimentada. Como é notório haver elementos das “forças da autoridade” a violar a lei, quando a sua função primeira é fazê-la cumprir. Violarem-na, impunemente. Quando se trata de polícias, parece haver uma espécie de medo de tomar medidas rigorosas para a lei ser respeitada – e punir quem a infrinja.
Acresce, neste caso, haver quem queira tomar por parvos ou estúpidos os cidadãos. Ao tentarem fazê-los crer, por exemplo, que de súbito, e em simultâneo, um grande número de carros de patrulha ficou inoperacional, e um grande número de agentes ficou doente, impedido de cumprir o seu serviço. Ao mesmo tempo alertando ‒ numa velada, mas óbvia, ameaça… ‒ que ainda poderá ser pior, com risco inclusive para a realização das eleições. E, pasme-se!, acusando depois o Governo de estar a fazer “pressão” (para assegurar a legalidade) sobre os seus superiores hierárquicos, como se PSP e GNR não dependessem de órgãos democraticamente legitimados.
Os que protestam reclamam do Governo um imediato aumento, igual ao concedido aos agentes da PJ. Ora, é indiscutível que um governo de gestão não o pode fazer, mormente pelos encargos que ficariam para o futuro. E não podendo os ditos polícias ignorar tal impossibilidade, torna-se mais flagrante o objetivo político-eleitoral das suas manifestações.
(Entre parênteses, sem pôr em causa a justeza e necessidade de aumentos na PSP e na GNR, admira-me não ver sublinhado que: a) Para a entrada nestas duas corporações a escolaridade exigida é o 12º ano ou equiparado; para a PJ é “titularidade de habilitação académica superior”; b) na PJ há exclusividade, sem possibilidade dos “remunerados”; c) números de 2022, fonte Prodata: efetivos da PJ 904; da PSP 21 924, e da GNR 22 443, total 44367 ‒ ou seja: 45 vezes mais despesa do que com a PJ…)
Face a tudo isto, parece-me muito pouco o Presidente da República, pronunciando-se sobre o que se está a passar, limitar-se a dizer que é “uma luta justa”, aconselhando a que, prosseguindo, tenha “presente o apoio que não pode deixar de ter dos portugueses”…
2. O tema acima é decisivo para a defesa da democracia, por isso, e porque dele quase não se tem falado, lhe dei este destaque. E só me sobra espaço para duas notas telegráficas, uma a seguir, outra “à margem”.
O resultado das eleições nos Açores prefigura, ao nível de “tendências”, o que pode bem suceder na República. Idealmente, em abstrato, se a nossa política fosse como gostaria, o PS devia viabilizar um governo minoritário da AD (como o PRD viabilizou um governo mais minoritário do PSD/Cavaco – e depois viu-se…). Mas, no concreto, justifica-se que não o faça ‒ desde logo porque em circunstâncias análogas, nas eleições anteriores, o PSD não o fez –, e seria talvez desastroso se o fizesse.
A afirmação/formulação de Montenegro, de que só não haverá um governo da AD se PS e Chega se “unirem, se coligarem”, não faz nenhum sentido. Ou então, ter-se-ia de falar de “coligação” PSD/Chega quando ambos votaram contra todos os Orçamentos apresentados pelos governos PS, em particular em 2022, levando à sua queda. Na sequência da qual o PS teria maioria absoluta. Cenário aliás possível nos Açores se, inviabilizado o Governo de Bolieiro, houver novas eleições…
À MARGEM
Os desmandos nos debates televisivos
Os debates dos líderes partidários nas TV são muito importantes, exigindo competência e qualidade para proporcionar debates limpos e esclarecedores. Ora, há moderadores que não só não os sabem conduzir, como os dificultam pela exagerada e desajustada forma como interrompem quem está a falar: interrompem mal e de mais. Pior ainda permitem interrupções constantes, e até acintosas, de um dos “debatedores” para impedir o outro de falar, ou para o atrapalhar. E, ainda por cima, a câmara foca quem interrompe, ou, velho truque, mostra um qualquer papel. Assim se cria a desigualdade, beneficia o infrator e premeia até a indecência. André Ventura é o grande praticante destes desmandos, que incluem mentiras e calúnias (v.g. no debate com Paulo Raimundo acusou o PCP de “assassínios”!).
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