No artigo da semana passada, procurei antecipar algumas transformações levantadas por uma adesão da Ucrânia à União Europeia, com efeitos em países como Portugal, afastados geograficamente do epicentro estratégico a leste. Para tal, sugeri quatro eixos preferenciais como preparação do nosso país: reforço de relações bilaterais estratégicas, maior influência nas decisões em Bruxelas, projeção de condições endógenas diferenciadoras e competitivas, e relações extraeuropeias que outros não conseguem trabalhar.
Com o eixo de gravidade da União a leste, precisamos simultaneamente de manter influência no centro das decisões comunitárias, com mais quadros em Bruxelas e experiência nas principais mesas negociais (como tem sucedido no Conselho Europeu e no Eurogrupo), mas também em relações bilaterais que farão de pêndulo nos equilíbrios europeus. Nos últimos anos, incluindo os da troika, soubemos manter e relançar as vitais relações com Berlim, Madrid e Paris, fundamentais nalguns debates decisivos do nosso percurso recente, como as sanções evitadas por défice excessivo, a demonstração de credibilidade do nosso fragilizado sistema financeiro, a preservação de investimentos estratégicos e a atração de novos, ou a aceleração das ligações energéticas peninsulares. Para tudo isto, foram essenciais duas condições: um alinhamento persistente e virtuoso entre as nossas principais instituições políticas; e um entendimento certeiro dos passos a dar através de uma também eficaz diplomacia do Presidente da República. Estas duas dinâmicas foram, aliás, cruciais para que a coesão da nossa política europeia acompanhasse os passos decisivos dados pelos Conselhos Europeus nos meses críticos do embate da Covid, contribuindo para decisões rápidas sobre vacinas e apoios financeiros indispensáveis às nossas democracias.