Deve ser da natureza humana e de estarmos mais programados para reagir por instinto: por alguma razão, não damos muita atenção às previsões de longo prazo. Em especial quando elas são exatamente o contrário do futuro radioso com que todos sonhamos. Percebemos isso com a pandemia, apesar dos avisos insistentes para termos cuidado com um novo coronavírus, e também sabemos os anos que demorou para o tema das alterações climáticas se tornar central nas preocupações da maioria dos governos mundiais.
Só o mesmo tipo de “encolher de ombros” explica a quase indiferença perante o recente relatório da Comissão Europeia sobre o envelhecimento inevitável da população portuguesa no próximo meio século, com um impacto brutal, por exemplo, no valor das pensões de reforma. Contas feitas, quem estiver a entrar agora no mercado de trabalho deve preparar-se para, no final da carreira contributiva, lá para 2060 ou 2070, ter de passar a viver com menos de metade do seu ordenado na altura da aposentação. Parece assustador? Aparentemente, e de acordo com o silêncio geral com que essa previsão foi recebida, o susto não foi grande. Preocupemo-nos com isso daqui a uns 20 ou 30 anos – parece ter sido a resposta.