Além dos sinais mais ou menos positivos que possam ser observados, na estatística diária, sobre a taxa de progressão de casos confirmados ou de mortes, há algo que as autoridades sanitárias deviam deixar claro, desde já: depois de ultrapassarmos o tão almejado “pico” e de conseguirmos “achatar” a curva de infetados, a epidemia não vai desaparecer logo nem se pode criar a sensação de que o perigo já passou. Vai ser preciso manter, ainda durante muito tempo, os níveis de vigilância e de prontidão dos serviços de saúde. É verdade que todos, em maior ou menor grau, começamos a ficar saturados deste confinamento que, além de nos privar dos laços afetivos de proximidade, também está a aniquilar empregos, empresas e perspetivas de futuro. No entanto, neste campo, quando se trata de proteger e salvar vidas, não se pode pensar com pressa ou tentando queimar etapas.
Neste momento, ninguém sabe quantas pessoas infetadas existem no mundo. Apenas sabemos que já se ultrapassou o milhão de casos confirmados ativos, mas que esse número é resultado apenas de uns poucos milhões de testes efetuados. O número verdadeiro será, de certeza, muito superior. Muitos cientistas creem que há milhões de pessoas contagiadas, mas que não mostraram sintomas da doença. Por isso, até existirem tratamentos eficazes e, sobretudo, uma vacina, as medidas de exceção e os prováveis regressos a novos confinamentos continuarão a fazer parte do nosso quotidiano.
Estamos, é preciso reconhecer, entregues à Ciência para nos livrar do vírus. E entregues também ao tempo necessário que a Ciência precisa para fazer o seu trabalho rigoroso, fiável e acima de qualquer suspeita. Neste campo, por mais que nos custe, é sempre preferível uma solução lenta do que uma solução que, no final, resulte num desastre ainda maior para todos.
No entanto, esta espera pelo trabalho dos cientistas não deve fazer parar o mundo sobre o resto que há para fazer. No imediato, por exemplo, como já avisou Bill Gates, é necessário começar a construir fábricas para a produção da nova vacina − só assim se conseguirá, em tempo útil, a produção suficiente para inocular os mais de 7 mil milhões de habitantes do planeta, mal os cientistas cheguem à descoberta mais desejada.
Se, em todo este processo, temos de esperar pelo tempo dos cientistas, não podemos, no entanto, perder tempo na salvação da economia. Grande parte do setor empresarial já está, hoje, preso a ventiladores que − como acontece em tantos serviços de urgência − não existem em número suficiente. Se não chegarem a tempo, o desastre será muito maior do que aquele a que temos assistido nas últimas semanas.