Tan-Tan é uma cidade triste, onde o tempo passa muito devagar e sob chuva intensa parece ainda mais desolada. O sol só deu um ar da sua graça 300 km depois, junto às minas de sal antes de chegar a Tarfaya, pequena cidade que foi oficialmente denominada “Vila de Bem” durante o período do protetorado espanhol.
A partir daqui o combustível é mais barato (faz parte da estratégia de ocupação do Sahara Ocidental pelo reino de Marrocos). Enchemos o depósito e os dois jerricans, curiosamente, na bomba do “Manolo” e partimos à redescoberta de Tarfaya que se limita a dois pontos turísticos: o primeiro, a Corniche, a casa de mar, que está em vias de desparecer devido à erosão quotidiana e que foi construída pelo navegador inglês McKenzie em 1882. E, segundo, o “Assalama” o barco encalhado da companhia Armas. O barco de passageiros fazia a rota entre Puerto Rosário (Fuerteaventura) e Tarfaya. Em 2008 bateu num rochedo e encalhou, a tripulação e os passageiros foram todos salvos pelos pescadores locais.
O barco não foi removido, o armador não se interessou em salvar o seu barco e desde então, o “Assalama” transformou-se numa atração turística, de fotografia “obrigatória”. Em Tarfaya pode-se comprar miniaturas do barco e até existe um Hotel “Armas”.
Já em território do Sara Ocidental, alcançamos Boudjour (Bojador), o quebra-cabeças dos descobrimentos portugueses.
Alguns dos maiores obstáculos às iniciativas de inovação nascem dos bloqueios mentais causados por crenças, preconceitos e perceções não comprovadas. São obstáculos imaginários, mas fortemente alienantes e inibidores da criatividade. A história da passagem do Cabo Bojador mostra como obstáculos criados pela imaginação limitaram por séculos a navegação no oceano Atlântico.
O Cabo Bojador era conhecido como Cabo do Medo. Recifes de arestas pontiagudas dominam aquela região tornando a navegação muito arriscada. A 25 quilômetros da costa do cabo, em alto mar, a profundidade é de apenas 2 metros. A altura das ondas, a frequência das tempestades, a violência dos ventos, o desconhecimento das correntes oceânicas e a neblina permanente tornavam a navegação extremamente perigosa.
A passagem do Cabo Bojador foi um dos marcos mais importantes da navegação portuguesa. Derrubou velhos mitos medievais e abriu caminho para os grandes descobrimentos e para a quebra do monopólio árabe no rico comércio das especiarias da Índia. Se Gil Eanes pudera navegar além do cabo Bojador e voltar, então que outras lendas eram também falsas? Tudo se tornava suspeito, exceto o que os portugueses podiam ver e comprovar por si mesmos. Não haveria mais obstáculos intransponíveis e os portugueses se tornariam os senhores dos mares.
Às 19 horas, em ponto (hora GPS) e depois de percorrer quase 1000 km alcançamos o Trópico de Câncer. Aproxima-se a fronteira da Mauritânia.