Carlos Queiroz nunca foi um treinador por quem eu tivesse especial admiração. Antes pelo contrário. Sou até da opinião de que nem sequer um bom treinador chega a ser. Será, acredito, um bom diretor técnico, com capacidade para planear e organizar estruturas e delinear estratégias. Mas a sequência de erros e fracassos que regista sempre que se vê ao leme de uma equipa de futebol em competição não me parece que deixem margem para dúvidas.
Dito isto (e apesar disto), há que reconhecer que Carlos Queiroz não podia fazer muito mais do que acabou por fazer com esta seleção nacional. Mesmo admitindo que podia ter escolhido um outro jogador diferente daqueles que levou para a África do Sul e que não tinha ficado privado do concurso de Nani, a verdade nua e crua é que Portugal não tem argumentos para aspirar a lutar pelos lugares de topo de um Campeonato do Mundo. A equipa nacional tem uma equipa envelhecida, com poucos jogadores de grande talento, sem opções de banco e com demasiados vícios.
É verdade que Carlos Queiroz conseguiu, apesar de tudo, garantir a qualificação para o Mundial e construir uma equipa segura, igualando a marca de 19 jogos sem perder que pertencia a Scolari. Mas, à exceção da goleada à Coreia do Norte, nunca esta seleção mostrou capacidade de acalentar o sonho de ir longe numa prova em que pontificam equipas como Espanha, Alemanha, Argentina, Brasil e, até, Holanda e Uruguai.
As bases de recrutamento destas e muitas outras equipas são incomparavelmente maiores do que aquela que está à disposição deste ou qualquer outro selecionador de Portugal. Scolari sabia-o quando partiu com destino ao Chelsea.
O problema é que, quando se olha para o panorama nacional da formação, com os clubes (sobretudo os maiores) a optarem, cada vez mais, por encher os seus escalões jovens de atletas estrangeiros, este panorama começa a ser ainda mais negro. Porque, se os talentos não surgiram nos clubes, como vai ser possível formar seleções nacionais competitivas, como aquelas que tivemos nas últimas duas décadas?
Este é o problema que deve afligir os responsáveis do futebol português no futuro imediato. E, neste capítulo, talvez o papel de Carlos Queiroz possa vir a ser determinante. Repetir o excelente trabalho realizado na década de oitenta que conduziu aos dois títulos mundiais de juniores e ao aparecimento de duas grandes gerações de futebolistas nacionais deve, na minha opinião, ser o seu próximo desígnio. Reconstruir uma estrutura profissional de prospeção e acompanhamento de talentos por todo o país terá de ser o grande objetivo da Federação Portuguesa de Futebol e, para esse papel, o atual selecionador pode ser a pessoa certa.
O que não me parece que possa dar resultado é que Carlos Queiroz acumule essa tarefa com a de selecionador e, fundamentalmente, de treinador. Para esse lugar deve ser encontrada outra solução. Alguém com capacidade técnica, de liderança e de motivação que permita tirar o máximo rendimento dos jogadores que tem ao seu dispor. Porque para isto já se viu que Queiroz não serve.