“É a junção de todas as artes”, assegura Luís Diamantino, vereador da Cultura da Câmara da Póvoa de Varzim, que organiza o Correntes d’Escritas até ao próximo sábado, 22.
Na sua 26.ª edição, que celebra os 25 anos de existência do encontro de escritores, os convidados são desafiados a comentar uma pintura nas mesas em que participam, em vez do habitual verso ou frase retirada de romances. “Talvez o segredo do Correntes esteja precisamente nesta capacidade de fazer sempre o mesmo festival, mas com muitas novidades. E este anos teremos muitas”, acrescenta o autarca.
Será, portanto, uma edição para pintar a manta, para falar de pintura, mas também para abrir espaço às mais imprevistas intervenções, com licença para todos os desvios. As pinturas escolhidas a isso também convidam.
Começa com A Origem do Mundo, de Gustave Courbet, que hoje, como ontem, continua a gerar polémica. E passa por Picasso, Dali, Frida Khalo, Paula Rego ou Júlio Pomar. “Serão intervenções certamente diferentes”, sugere Luís Diamantino, responsável pelo festival desde o início, tal como Manuela Ribeiro, chefe da divisão de cultura da autarquia, coordenadora e grande dinamizadora do Correntes. “E um novo e diferenciado convide à leitura das obras destes autores”.
A presença da pintura nas mesas é também uma forma, lembra o vereador da autarquia, de salientar a importância que as artes plásticas já têm no Correntes, com parcerias com várias instituições, nomeadamente Serralves. “Este ano, vamos mostrar no Diana Bar a coleção de arte do Casino da Póvoa de Varzim, com curadoria de Tomás Carneiro, e integrada nas iniciativas do Museu Internacional de Arte Contemporânea que está a ser criado”.
Este ano, vamos mostrar no Diana Bar a coleção de arte do Casino da Póvoa de Varzim, com curadoria de Tomás Carneiro, e integrada nas iniciativas do Museu Internacional de Arte Contemporânea que está a ser criado
Luís Diamantino – Vereador da Cultura da Câmara da Póvoa de Varzim
Também haverá mostras de fotografia, de Alfredo Cunha, Daniel Mordzinski e Olga Santos, esta com fotografias de sapatos perdidos na praia. As artes plásticas também homenageiam Luísa Dacosta, na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, e Camilo Castelo Branco, nos 200 anos do seu nascimento.
No Museu Municipal recorda-se a ligação do escritor à cidade, em particular no veraneio e no jogo, e Paulo Sérgio BEJu recriará o seu universo nas suas obras feitas com a demora de quem recusa a pressa do tempo contemporâneo.
Vinte e cinco anos de livros
“É a exclamação mais recorrente quando me veem na rua – O Correntes está quase aí!”, diz-nos Luís Diamantino. “Para o autarca, este é um dos muitos sinais de como o encontro de escritores, passados 25 anos, está bem enraizado na cidade e na sua população, com os resultados à vista.
“O Cine-Teatro, onde decorre o Correntes, está sempre cheio, tal como as sessões que organizamos nas escolas e nas freguesias do concelho”, acrescenta. Percorrer todo o território da Póvoa de Varzim, com visitas a todas as freguesias, tem sido uma das grandes apostas da organização.
O Correntes Itinerantes passa este ano por Amorim, Argivai, Aguçadoura, Beiriz, Navais, Rates, Terroso, A Ver-o-Mar, Estrela, Laúndos e Baltasar.
“A procura de novos público é fundamental”, sublinha o responsável pelo Correntes D’Escritas. “E esse trabalho também tem sido feito na promoção de iniciativas em torno da formação de professores e da tradução.”
A formação de professores é promovida em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares, o Centro de Formação de Professores da Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Com a sugestiva designação “O Encontro como Ponto de Partida, Talvez de Chegada em Escala de Pausa Curta”, tem curadoria Raquel Patriarca e oficinas orientadas por Amélia Muge, Margarida Vale de Gato, Ricardo Fonseca Mota e Natalia Porta-Lopez.
Em comum, a ideia de “encontro enquanto possibilidade, enquanto lugar de ligação numa corrente mais ampla de entendimento, o encontro de linguagens e de línguas, de culturas e de literaturas, de experiências e de gerações, de comunidades imigrantes e comunidades de acolhimento”.
Já o II Encontro de Tradução do Correntes decorre na Fundação Dr. Luís Rainha, com curadoria de Michael Kegler, que também modera as sessões, nos dias 20 e 21, com Alda Rodrigues, Carlos da Veiga Ferreira, Clara Capitão, Gisela Casimiro, Guilherme Pires, Harrie Lemmens, Inês Pedrosa, Margarida Vale de Gato, Michael Kegler, Nuno Quintas, Odile Kennel e Sara Veiga.
Este ano dedicado à poesia, o Prémio Literário Casino da Póvoa, o principal galardão do Correntes e no valor de 25 mil euros, tem como finalistas Aberto Todos os Dias, de João Luís Barreto Guimarães, Atravessar o Frio I, de Luísa Freire, Canina, de Andreia C. Faria, Choupos, de Adília Lopes, Emoção Artificial, de Jorge Gomes Miranda, Exercícios e Linguagens, de João Melo, Lições da Miragem, de Ricardo Gil Soeiro, Órbitas, de Paulo Tavares, Raio, de Eucanaã Ferraz, Sicília, de Bernardo Pinto de Almeida, e Uma Colheita de Silêncios, de Nuno Júdice.
A decisão caberá ao júri constituído por Ana Paula Tavares, João Gobern, Margarida Ferra, Maria de Lurdes Sampaio e Ricardo Marques.
“Vamos comemorar os 25 anos como sempre fazemos: com livros e leitores”, sugere Luís Diamantino. E como muitos motivos para fazer “na Póvoa a festa pela qual se espera todos os anos”.
Agenda de conversas
Não há Correntes sem muitas conversas, sempre no Cine-Teatro Garrett. Além das centrais, no grande auditório, o encontro tem vindo a promover outras, mais pequenas, normalmente com dois ou três convidados, este ano na sala de atos e na sala de ensaios. Como habitualmente, realiza-se ainda uma mesa, em Lisboa, no Instituto Cervantes.
Quarta-feira, 19 de fevereiro
Conferência de Abertura: “Luís de Camões: conhecer não ter conhecimento”, por Hélder Macedo, apresentado por José Carlos de Vasconcelos.
Mesa 1: A Origem do Mundo, de Gustave Courbet, com Álvaro Laborinho Lúcio, António Mota, Germano Almeida, Joana Bértholo, Patrícia Melo e José Carlos de Vasconcelos. às 17 e 30.
Quinta-feira, 20 de fevereiro
Mesa 2: O Grito, de Edvard Munch, com Afonso Cruz, Amélia Muge, João Tordo, José Alberto Postiga, Maria Francisca Gama, Marta Pérez-Carboneli e Margarida Pinto Correia, às 10.
Conversas Correntes: Homenagem a Maria Teresa Horta, com Inês Pedrosa e Patrícia Reis, às 12.
Mesa 3: A Persistência da Memória, de Salvador Dalí, com Amália Bautista, Ana Paula Tavares, Inês Francisco Jacob, Rosa Alice Branco, Yolanda Castaño e Raquel Marinho, às 15.
Mesa 4: A Torre de Babel, de Pieter Bruegel, o Velho, com Ariana Harwicz, Ivo Machado, João Luís Barreto Guimarães, Margarida Ferra, Patrícia Portela e Manuel Alberto Valente.
Conversas Correntes: António Monegal e Luís Caetano, às 18.
Sexta-feira, 21 de fevereiro
Mesa 5: A Coluna Partida, de Frida Kahlo, com Adelino Albano Luís, Alexandre Vidal Porto, Carlos Quiroga, Gonçalo M. Tavares, Helena Vasconcelos, Maria Isaac e José Mário Silva, às 10.
Conversas Correntes: Amélia Muge e Minês Castanheira, às 12.
Mesa 6: De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?, de Paul Gauguin, com Bento Baloi, Luísa Sobral, Marta Bernardes, Possidónio Cachapa, Ricardo Fonseca Mota, Sandro William Junqueira e Uberto Stabile, às 15.
Mesa 7: O Jardim das Delícias Terrenas, de Hieronymous Bosch, com Álvaro Curia, Ana Cristina Silva, David Machado, Joana Kabuki, Rafael Gallo, Rodrigo Calderón e Patrícia Portela, às 17 e 30.
Mesa 8: A Refeição do Menino, de Júlio Pomar, com Fernando Pinto do Amaral, Filipe Homem Fonseca, Francisco Mota Saraiva, Lara Moreno, Mempo Giardinelli, Nicolau Santos e Henrique Cayatte.
Sábado, 24 de fevereiro
Mesa 9: A Guerra, de Paula Rego, com Clara Pinto Correia, Jorge Valdés Díaz-Vélez, José Carlos Barros, Ondjaki, Pedro Teixeira Neves e João Gobern.
Mesa 10: Guernica, de Pablo Picasso, com Antonio Monegal, Ignácio de Loyola Brandão, Inês Pedrosa, Minês Castanheira, Onésimo Teotónio Almeida, Raquel Patriarca e Maria Flor Pedroso, às 15 e 30.
Segunda, 26 de fevereiro, no Instituto Cervantes, em Lisboa
Mesa 11: Saturno devorando o seu filho, de Francisco Goya, com Ana Cristina Silva, Cláudia Lucas Chéu, Mempo Giardinelli, Patrícia Portela, Rafael Gallo, Rodrigo Blanco Calderón e José Mário Silva, às 18.