Só que o público jovem tem de ter outras coisas à espera, para quando crescer. Por exemplo o excelente Scott Pilgrim de Bryan Lee O’Malley (cinco volumes pela Booksmile). Fortemente influenciada pelo mangá japonês (tal como Mahou) Scott Pilgrim mistura códigos de séries para jovens adultos (mormente traumas de liceu e relacionamentos) com o fantástico e o humor em histórias inteligentes e de ritmo elevado. No mesmo quadrante, e já incluindo os “adultos eternamente jovens”, sugere-se ainda o grande fenómeno português As aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy (Tinta da China), de que saiu recentemente o segundo volume, Apocalipse. Escrito por Filipe Melo e desenhado pelo argentino Juan Cavia já muito foi dito sobre este livro. O essencial é isto: está muito bem feito. É um série B assumido que mistura aventura, terror e fantástico com humor; mas, se no primeiro livro as “homenagens” abafavam qualquer hipótese de originalidade, o segundo desabrocha com personalidade própria, e claramente portuguesa. Continua a ser o que é, mas é-o bastante melhor, quer no texto, quer no desenho. A edição americana pela Dark Horse é um prémio que se saúda.
Claro que há quem pretenda as suas brincadeiras (só um pouco) mais sérias, e nesse caso a sugestão ideal será a coletânea Hellboy: A bruxa troll e outros contos (G. Floy Studio), onde Mike Mignola usa todo o seu talento enquanto arqueólogo de lendas de terror de todos os cantos do mundo, transformando-as, graças às sombras e ângulos no desenho, em relatos inquietos. Nos quais, no entanto, a erudição é torpedeada em permanência por épicos combates, múmias falantes, ladrões de túmulos que falam declamando poesia erudita gótica, ou vampiros que jogam poker. Como bónus o livro conta ainda com os notáveis desenhadores convidados P. Craig Russell e Richard Corben. Num tom atmosférico semelhante, mas descartando o humor e o fantástico (lembrando o filme Seven), surge o policial urbano-depressivo Fell: Cidade selvagem. Histórias curtas e fantasmagóricas na escrita condensada e densa de Warren Ellis, eloquentemente desenhadas por Ben Templesmith. Supreendente e inteligente aposta (também da G. Floy Studio) porque se trata de uma obra interessante mas menos conhecida (e curta) de dois autores de renome, ou seja, que eventuais interessados poderão não ter na versão original.
E há mais, a referir noutra oportunidade. Muita coisa que vale a pena ler. Só não há é desculpas. A não ser uma tal de crise.