A transição energética e a transformação de recursos serviram de tema para a primeira discussão da última conferência das ESG Talks no Instituto Politécnico de Leiria, esta quinta-feira, tendo como foco os setores dos Plásticos, Moldes e Cerâmicas. Esta foi a terceira conferência da terceira edição das ESG Talks – iniciativa promovida pelo novo banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC – que irá percorrer o País desde Sul até Norte.
O primeiro painel teve como convidados Luís Febra – CEO do grupo SOCEM -, Nazanin Sabet – Gestora de sustentabilidade do grupo MCS Portugal – e Paulo Ferreira Administrador de PFR Gas Solutions – e contou com a moderação de Tiago Freire, diretor da EXAME. O debate, que começou centrado no retorno da transição energética, teve início com intervenção de Luís Febras que defendeu que as ESG são uma estratégia incorporada na empresa SOCEM há já vários anos, através do reaproveitamento das matérias-primas e de uma política de “minimalismo”. “Já há uma consciência global para o reaproveitamento das matérias. Nós reintegramos 89 % de tudo o que entra na nossa organização, portanto damos um destino aos resíduos”, refere.
Para o empresário, as ESG são também uma questão cultural e humana. “Para nós cuidar do ambiente sempre trouxe retorno, que nem sempre é económico. As pessoas que trabalham na nossa organização sentem-se bem no ambiente em que vivem, o que se reflete na taxa de rotatividade das pessoas. E isso, só por si só, já é retorno”, explicou.
Uma ideia complementada por Paulo Ferreira, que defendeu que nenhum investimento tem retorno imediato. De acordo com Ferreira, atualmente, os empresários das diferentes indústrias e setores enfrentam duas escolhas: aproveitar agora os incentivos à mudança energética ou lidar com as consequências mais tarde. “Podemos não fazer nada porque não temos um retorno imediato ou podemos – e a minha visão é – devemos, aproveitar as oportunidades que existem em termos de apoios. Temos de jogar em antecipação. As dificuldades são imensas, mas é preciso começar a fazer o trabalho hoje”, referiu.
Para Ferreira, a transição energética envolve também todas as tecnologias e energias. “A necessidade de energias limpas é – e vai ser – tão grande que a minha visão é que não vamos ter uma solução que vai resolver tudo, todas as soluções vão ser precisas”, acrescentou.
Já Nazanin Sabet – gestora de sustentabilidade do grupo MCS Portugal, que explora recursos minerais para a cerâmica – abordou a extração de matérias-primas, referindo que “não há nada totalmente sustentável na extração de matérias-primas”. Para Sabet, as ESG não são uma questão de “compliance” – o conjunto de regras e normas legais que uma empresa deve seguir – mas uma escolha de caminhos adotado pelos empresários para as suas empresas e do que é mais importate para a empresa.
Por outro lado, esta é também uma questão que, na sua visão, pode ser “injusta” uma vez que, por um lado, os consumidores são cada vez mais encorajados a procurar produtos sustentáveis e amigos do ambiente e, por outro, as leis impostas às empresas para seguir com a extração e produção sustentável levam ao aumento dos preços nos mercados. Uma questão, segundo Sabet, que devia ter mais atenção por parte dos políticos.
Também Febras defendeu a ideia de que “nada é sustentável”, sendo as ESG uma questão de reduzir ao mínimo a pegada criada e dar um aspeto humano ao processo.
Para concluir o primeiro painel, Paulo Ferreira expressou que é preciso mais tempo para a transição energética. “Quando falamos de transição enérgica não falamos em dois dias e meio. Os apoios existem, o que falta é que os processos sejam mais ágeis. E falta nós empresários e investidores olharmos mais para frente, não ter medo do risco”, concluiu.