A Era Da Inteligência Artificial é o título de um livro de Henry A. Kissinger, Eric Schmidt e Daniel Huttenlocher. A extensão do título ajuda a esclarecer a preocupação central do livro: E o Nosso Futuro Humano.
Henry A. Kissinger foi secretário de Estado dos EUA entre 1973 e 1977, nas presidências de Nixon e Ford. Tem hoje 98 anos e, portanto, toda uma história de vida: para fugir às perseguições antissemitas emigrou da Alemanha, onde nasceu, com 15 anos, e combateu como sargento do exército americano na II Guerra Mundial. No meio de ampla controvérsia, ganhou o Prémio Nobel da Paz de 1973, pelo seu papel no fim da guerra do Vietname. Autor de livros como Da China (Quetzal, 2011), Diplomacia (Gradiva, 2012) e A Ordem Mundial (Dom Quixote, 2014), é um grande especialista em diplomacia e estratégia. O
Eric Schmidt, de 66 anos, é também famoso. Doutorado em Ciências da Computação pela Universidade da Califórnia – Berkeley, foi CEO da Google, tendo transformado a start-up criada em 1988 por dois estudantes de Stanford, Harry Page e Sergei Brin, num colosso da economia mundial. A grande fortuna que ganhou permitiu-lhe tornar-se um filantropo, detendo uma fundação com o seu nome, que trabalha na área dos recursos naturais e sustentabilidade. Escreveu os livros A Nova Era Digital (com Jared Cohen – Dom Quixote, 2013) e Como Funciona a Google (com Jonathan Rosenberg – Vogais, 2015).
Menos conhecido, Daniel Huttenlocher, de 62 anos, é outro cientista de computação, que se tem distinguido como gestor universitário. Foi nomeado dean de um novo colégio no MIT criado com fundos privados, o Schwartzman College of Computing. Detém várias patentes de visão computacional.
O livro resultou de um prolongado diálogo entre os três sobre o conteúdo, significado e impacto da Inteligência Artificial (IA) nos nossos dias e a sua previsível evolução. Os autores confirmam o que todos nós começamos a perceber: os sistemas de IA, sistemas com capacidades, semelhantes às humanas, de apreensão do real, formação de conhecimento e aprendizagem (fala-se hoje muito de machine learning), estão a tomar conta do mundo. Quer estejamos a usar o motor de busca da Google, a escolher um livro na Amazon, um filme da Netflix, ou perfis no Facebook, estamos a usar IA.
Também o estamos quando usamos o Google Translator ou quando falamos com o assistente pessoal Siri da Apple. E a IA serve para nosso benefício quando é usada para controlar o trânsito ou para abastecer de bens uma cidade. A IA não é propriamente nova – nasceu em 1956, no Dartmouth College, nos EUA -, mas o seu extraordinário poder ficou bem visível em 1997, quando o computador da IBM Deep Blue ganhou ao campeão mundial de xadrez, o russo Garry Kasparov, e em 2021, quando um sistema da Google, o AlphaFold2, conseguiu determinar as estruturas 3D de um conjunto de proteínas, abrindo as portas a novos fármacos (foi a «descoberta do ano» para a revista Science). Em breve veremos a Internet of Things e veículos autónomos, dotados de IA, em circulação.
Que futuro nos espera quando os sistemas ficarem ainda mais sofisticados e fizerem coisas que os humanos fazem mal ou pura e simplesmente não conseguem fazer? Será, como alguns temem, que vai haver, dentro de décadas, um ponto chamado “singularidade” onde os humanos passem a ser substituídos por máquinas? Ou, pelo contrário, há coisas irredutíveis nos humanos como a ética, a compaixão e a crença?