É ainda com alguma relutância que Germano Almeida antecipa a homenagem que o Festival Escritaria, promovido pela Câmara Municipal de Penafiel, lhe preparou. É o convidado da edição de 2021, que decorre em vários espaços da cidade, entre os próximos dias 24 e 31. Exposições, sessões de cinema, visita às escolas, conversas com estudiosos e especialista e o lançamento do seu novo romance, A Confissão e a Culpa, que encerra a trilogia do Mindelo, dão corpo a uma programa diversificado e com muita animação de rua.
Jornal de Letras: Como recebeu o convite do Escritaria?
Germano Almeida: Como muito gosto, claro. Uma homenagem é sempre uma homenagem, qualquer coisa que nos alegra. Mas para ser sincero não faço a mínima ideia do que me espera, ainda não tive a oportunidade de participar em nenhuma edição. Já vi o programa, mas também não fui capaz de antecipar o que vai acontecer. Estou, por isso, um pouco ansioso [risos].
O festival tem uma dimensão de rua. Agrada-lhe essa dimensão?
Isso também me surpreendeu. Estou a imaginar uma espécie de procissão [risos]. Na verdade, não sou um escritor que aceite muito este tipo de convite. O meu feitio não se ajusta muito a estas situações.
Esta é, na verdade, um encontro com leitores de várias idades…
É justamente o que espero. Um encontro onde se possa falar, trocar impressões, ouvir e contar histórias.
Valoriza esse momento? É importante para si enquanto escritor?
É certamente agradável — são dias que passamos fora de casa, numa sociedade diferente, com pessoas distintas. Nesse sentido, já é um ganho. A nível pessoal é enriquecedor. Ajudará a fazer chegar mais livros às pessoas? Não é garantido.
Os escritores homenageados no Escritaria são convidados a escolher uma frase que dá origem a uma escultura pública em Penafiel. Já escolheu a sua?
Já escolhi e já me esqueci dela [risos]. Assim será uma surpresa quando a vir lá. Tinha a ver com questões que são importantes no meu percurso, relacionadas com o prazer da escrita, o prazer da leitura.
No Escritaria fará a primeira apresentação do seu novo romance. O que podemos esperar do desfecho desta trilogia?
A confissão do assassino. Ele vem contar-nos as razões que o levaram a matar o amigo. Mas com quase 250 páginas, há tempo para vários desvios e histórias paralelas.
Esta trilogia parece ter crescido por vontade própria, sem controlo…
Completamente. Aliás, se tivesse pensado nela como uma trilogia teria pensado numa construção diferente. A história foi acontecendo e a verdade é que a certa altura senti a necessidade deste terceiro volume para explicar muitas questões em aberta. A ideia inicial seria deixar o mistério no ar, sem saber as razões, mas os leitores reclamam sempre muito, querem saber as motivações do assassino, mesmo quando o autor as desconhece. Neste caso, acabei por inventar uma solução [risos].