Quando o corpo pedia descanso ou surgia uma nova pontada de dor, Mendes Pinto respirava fundo e pensava em Diogo – o neto de 4 anos que o levou a fazer, pela primeira vez, uma promessa a Nossa Senhora de Fátima. Foi pela sua saúde que caminhou mais de 150 quilómetros em três dias, entre Lisboa e o santuário mariano, seguindo as setas azuis que marcam o Caminho do Tejo, calcorreado por tantos milhares de portugueses, nos últimos 90 anos. “Saímos do Terreiro do Paço às 7 da manhã de quarta-feira e chegámos agora [2 e meia da tarde de sexta-feira]”, diz, satisfeito, junto à passadeira das promessas, olhando os seus companheiros de peregrinação, António Santos e Rui Silva.
Os amigos vieram apenas dar-lhe apoio moral, mas acabaram por trazer pedidos de outras pessoas “para acender umas velinhas”, confidencia Rui Silva, um apaixonado maratonista que olha orgulhoso o seu cronómetro de pulso, comunicando: “Fizemos uma média de 6,3 km/hora!.” Mendes Pinto sorri, de mãos apoiadas nas ancas, exausto. “Foi duro, muito duro. Mas já cá estamos.”
Chove sem parar, enquanto percorre os últimos metros da sua jornada, entre os portões do santuário e a Capelinha das Aparições, onde se aninha em oração, depois de acender as velas prometidas, da altura do neto. O lamento de freiras latino-americanas rezando o rosário ecoa pelo recinto, vazio de outras gentes. Os amigos ficam a ouvir, em silêncio, de olhos postos na mensagem gravada perto do altar: “Ides ter que sofrer muito mas a graça de Deus será o vosso conforto.”