A pandemia foi um teste às casas de cada uma das famílias portuguesas e boa parte delas falhou redondamente em providenciar funcionalidade, espaço e conforto aos seus moradores. Um estudo apresentado hoje pela Century21 Portugal e feito a partir de um inquérito a cerca de 450 pessoas de norte a sul do país concluiu que 65% dos inquiridos identificaram novas necessidades relativamente à sua habitação durante o confinamento e 45% destes, após o confinamento, assumem mesmo que gostariam de mudar de casa.
Para os que afirmaram o desejo de ter outra habitação, as principais razões para considerarem a mudança são a constatação de que a casa atual se tornou demasiado pequena (25%), precisam de mais espaço para as crianças (21%), procuram uma casa numa zona mais calma (14%) e 11% afirmaram desejar uma casa no campo.
“A pandemia ainda não terminou mas já percebemos que muito mudou e é preciso compreender o que é definitivo e o que é transitório nas perceções e comportamentos dos portugueses relativamente à habitação, daí termos feito este estudo”, explica à Visão Ricardo Sousa, CEO da Century21 Portugal (e também da Century21 Espanha).
Um dos resultados do estudo mostra ainda que os portugueses, apesar de não estarem satisfeitos com as suas habitações, estão financeiramente condicionados e por isso, à questão sobre o grau médio de satisfação com a casa onde passaram o período de recolhimento obrigatório imposto pela pandemia dão, ainda assim, um 8,3 em 10. “Em Espanha, esse valor é de 6.2 o que revela que os espanhóis estão a reagir mais à pandemia”, realça o responsável ibérico.
O preço da casa é, aliás, o fator mais importante na decisão dos portugueses. “Já antes do confinamento o preço registava uma ponderação muito elevada, de 8,9 em 10 e, depois do confinamento, a sensibilidade ao indicador preço aumentou mais 0,3 para os 9,2 em 10”, acentua-se no estudo. Uma variável que tem um peso particularmente pesado em Lisboa e noutras cidades da Área Metropolitana de Lisboa, no Algarve e Área Metropolitana do Porto devido às elevadas taxas de esforço implícitas na aquisição de habitação nestas zonas.
“No mercado imobiliário há de facto um desafio importante que é o rendimento dos portugueses. E é aqui que o setor falhou pois durante uma década não foi criada oferta suficiente ajustada a uma maior procura por parte da classe média”, realçou ainda Ricardo Sousa.
Família e comida
Apurou ainda o estudo que os aspetos mais importantes valorizados na zona envolvente da casa são “a localização numa área sossegada e silenciosa, a proximidade a supermercados, lojas, parques e zonas verdes, acessibilidade a transportes públicos e a vizinhança”. Depois do confinamento, a proximidade aos filhos ou família e a zonas de restauração são os aspetos que ganharam mais importância e ambos sobem 0,4 pontos.
A maioria das pessoas também se mantém fiel ao local onde já reside. Diz o estudo que “quer antes, quer depois do confinamento, mais de metade dos inquiridos (53%) assume manter a preferência por habitar na mesma zona em que vive atualmente”. Dos que se mudariam para outro local, uma zona periférica do centro da cidade é a localização preferida (35% antes e 31% depois do confinamento), seguida pelo centro da cidade (24% antes e depois). Antes do confinamento, apenas 17% procuravam morar fora da cidade. Depois do confinamento, já 20% dos inquiridos indicaram que mudariam para fora das cidades.
A moradia de um piso é o tipo de habitação mais desejado e esta opção é apontada por 39% dos inquiridos, quer antes, quer depois da pandemia. Em relação às tipologias da habitação, o confinamento fez aumentar três pontos o interesse por casas de quatro quartos, e a preferência por habitações com quatro casas de banho sobe dois pontos. O facto de ter espaço ou condições para teletrabalho (30%), ter espaço para as crianças brincarem (29%) e o edifício ter amplos espaços comuns (28%) são as principais características que os inquiridos procuram na sua nova casa.
Apenas 17% pode pagar prestação de €500
As novas necessidades de habitação assinaladas pelos inquiridos contrastam com a realidade da capacidade financeira das famílias portuguesas. E embora exista vontade de mudar, “a verdade é que o poder de compra dos consumidores não acompanha os valores da atual oferta de habitações existente no mercado imobiliário nacional”, diz o estudo. Os resultados do trabalho demonstram assim que os montantes que mais pessoas estariam dispostas a pagar por uma hipoteca, ou arrendamento, situam-se entre os 301 a 400 euros (25%) e entre os 201 a 300 euros mensais (22%). Apenas 17% poderiam pagar até 500 euros mensais, enquanto apenas 11% dos inquiridos têm disponibilidade financeira para chegar aos 600 euros.
Entre os inquiridos que afirmaram ter o desejo de mudar de habitação, 46% ainda não começaram a procurar uma casa, 21% ainda estão à procura, enquanto 16% já encontraram a casa que procuravam. O principal motivo apontado por quem não adquiriu, ou arrendou, casa é o facto da habitação pretendida estar além das suas possibilidades financeiras.
” A pandemia veio mudar a perspetiva que temos da casa e valorizar a importância que a habitação assume na nossa vida. Nesta nova realidade, o que se torna evidente é a necessidade de mais espaço para teletrabalhar- indicada por 30% dos inquiridos- e para as crianças passarem mais tempo em casa (29%). As famílias também pretendem que os edifícios tenham amplos espaços comuns (28%) e saiu reforçado o sentimento de propriedade, com quase nove em cada 10 famílias a afirmarem que querem ser proprietários”, acentua o CEO da Century21.
O sentimento de posse, que saíu reforçado com a pandemia porque as casas passaram a ser mais valorizadas, revela-se também em outros resultados. Para 59% dos inquiridos a aquisição de casa é vista como um investimento no futuro e 21% assume que a casa é uma herança que pretendem deixar para os filhos.
O estudo foi realizado com uma amostra de 450 pessoas, distribuídas equitativamente entre o sexo masculino e feminino. Cerca de 50% aufere um rendimento mensal entre 1501 e 3000 euros mensais, 52% tem o ensino superior e 45% o ensino de nível médio.