Para marcar a chegada aos 30 anos, a VISÃO lança a rubrica multimédia “Ideias com VISÃO”. Serão 30 semanas, 30 visionários, 30 ideias para fazer agora. Da ciência à saúde, das artes ao humor, das empresas ao ambiente, figuras de referência nas mais variadas áreas darão os seus contributos para pensar um Portugal melhor. Semanalmente em papel e aqui em vídeo.
A minha sugestão é repensar o mundo do trabalho, introduzindo a ideia de rendimento básico incondicional. A noção que temos de trabalho foi mudando ao longo dos séculos e, chegados aqui, é manifesto que a perceção que temos de nós próprios como seres eminentemente produtivos não está a resultar.
Por um lado, muitos de nós já não têm trabalho. Por outro lado, a Inteligência Artificial e a tecnologia estão aí para deixar muitos mais de nós sem trabalho. O que acontece é que temos todos as mesmas necessidades: precisamos de estar aquecidos, ter comida e abrigo. E não vai chegar para todos, já nem chega para todos… O que proponho é que todos os que nascem, só pelo simples facto de nascerem, e sem terem de dar qualquer contrapartida, tenham o rendimento básico incondicional que lhes permita viver dignamente.
É necessário que se comece a testar o rendimento básico incondicional (e poderia começar-se, por exemplo, pelos artistas). Estou convencida de que as pessoas não vão deixar de trabalhar, não vão ficar preguiçosas, está na nossa natureza fazer coisas e ser criativos. O que vai acontecer é que vamos ter trabalhos muito pouco desafiantes. Todas as tarefas que podem ser feitas por máquinas ou por computador não devem ser feitas por humanos, são muito repetitivas, pouco desafiantes e frustrantes, empobrecem-nos, do ponto de vista intelectual. Estou convencida de que, assim, as pessoas vão ser mais felizes, que vão substituir aquela pergunta que nos define em qualquer tipo de relação social: “O que é que fazes?” Para mim, a pergunta mais importante é: “O que é que gostas de fazer?” Talvez as pessoas se entregassem mais facilmente àquilo que gostam de fazer e não àquilo que acham que é produtivo e que vai dar-lhes rendimento.
A minha ideia é importante porque permitirá ao Homem tornar-se contemplativo e ocioso, porque também faz parte da nossa natureza sermos contemplativos e ociosos. Espero que, daqui a 30 anos, possamos ser todos mais contemplativos e ociosos e, consequentemente, mais felizes.