Num fórum de suporte para o Windows, vários utilizadores começaram a relatar um problema durante o processo de atualização para a nova versão do sistema operativo. Por algum motivo, a instalação dava erro e mostrava o “ecrã verde da morte”, sinónimo de um erro crítico no sistema operativo para utilizadores que estão a experimentar a versão beta do software (Insider Preview). À medida que mais queixas apareciam, os utilizadores percebiam que além do erro, tinham outro elemento em comum: eram todos portugueses.
Daqui iniciou-se uma despistagem do que poderia estar a causar o problema: estaria relacionado com os teclados com configuração em português?; seria algo específico ao idioma português europeu do Windows? seria outra definição regional do Windows?
Neste processo de tentativa e erro, o utilizador e consultor de desenvolvimento de software Pedro Lamas experimentou desinstalar a aplicação Autenticação.Gov para Windows do seu computador. Resultado? A atualização para a nova versão do sistema operativo foi feita com sucesso, não gerando o erro crítico que lhe aparecia anteriormente, como o próprio confirmou à Exame Informática. Rapidamente esta tornou-se na resposta que todos os utilizadores queriam ouvir: a aplicação Autenticação.Gov era comum a praticamente todos os que tinham relatado o problema na instalação. E foram muitos os que, depois de desinstalar a aplicação, conseguiram avançar com a atualização para o Windows 11. Conclusão? Há uma incompatibilidade entre a Autenticação.Gov e o Windows 11.
A aplicação Autenticação.Gov é o que permite aos utilizadores tirarem partido das funcionalidades eletrónicas do Cartão de Cidadão (ler dados do cartão ou assinar documento, entre outros) e do sistema de autenticação Chave Móvel Digital (meio de autenticação digital certificado pelo Estado).
As atenções viraram-se depois para a aplicação desenvolvida pela Agência para a Modernização Administrativa (AMA). O que estaria a causar a incompatibilidade? A resposta não demorou a chegar. Ainda nos fóruns da Microsoft, um utilizador que se apresentou como sendo da equipa de desenvolvimento da Autenticação.Gov disse ter conseguido “isolar o componente” que estava a causar o erro. O problema? Um único caractere com um acento.
Em causa está o nome usado pela AMA no instalador da aplicação que depois fica no registo de chaves de segurança de fornecedores do Windows – neste caso, Chave Móvel Digital Key Storage Provider –, sendo que a letra ‘O’ com acento é o elemento que causa a incompatibilidade. Quando removido o acento na letra para que no instalador o elemento passasse a chamar-se “Chave Movel Digital Key Storage Provider”, a incompatibilidade fica resolvida. A questão é que este erro não acontece no Windows 10, o que coloca a ‘bola’ do lado da Microsoft.
“Em conclusão, acreditamos que algo está errado no processo de atualização do Windows 11 na forma como gere as entradas de registo das Key Storage Providers e isto vai causar problemas consideráveis para muitos utilizadores portugueses do Windows que vão atualizar para o Windows 11 num futuro próximo”, lê-se na resposta pelo programador.
Problemas dentro de dias?
Apesar de a incompatibilidade estar identificada, o tempo acaba por ser o outro grande problema: a incompatibilidade ainda persiste e o Windows 11 é lançado já na próxima terça-feira, 5 de outubro. Ou seja, quem tiver a aplicação Autenticação.Gov instalada e fizer a atualização para o Windows 11 a partir do sistema de atualizações do Windows (o problema não acontece se for feita uma instalação de raiz), tem uma grande probabilidade de não conseguir fazer a instalação e ficar com o sistema operativo ‘morto’.
Em resposta à Exame Informática, a Microsoft diz estar a “acompanhar a questão e a trabalhar com as equipas de engenharia para a solucionar”. No entanto, a tecnológica não adianta se o problema estará resolvido antes de 5 de outubro. “Até lá, a aplicação funciona quando instalada diretamente no Windows 11”, sublinha a Microsoft. Ou seja, aconselha-se a quem tiver a Autenticação.Gov instalada em computadores Windows desinstalar primeiro a aplicação, atualizar para o Windows 11 e depois proceder novamente à instalação da aplicação.
A Exame Informática também contactou a Agência para a Modernização Administrativa sobre a incompatibilidade, mas o instituto público não respondeu às nossas questões.